Sétima geração de uma das famílias mais respeitadas e tradicionais no mundo do vinho, com história que remonta à Itália do século 17, Tancredi Biondi Santi está pronto para seguir imprimindo seu lendário sobrenome no futuro da Toscana.
Aos 31 anos, o jovem executivo corresponsável pelas áreas de agricultura e enologia da vinícola Castello di Montepò esteve no Brasil recentemente para apresentar seu primeiros vinhos de categoria cru – Macerone, Poggio Ferro e Fontecanese. Resultado de um investimento de longo prazo, que deverá tornar a marca ainda mais desejada e disruptiva.
Batizado “Projeto 2030”, o plano inclui investimento em ciência e tecnologia – abrangendo o uso de drones, captação de dados e inteligência artificial – para, entre outras coisas, criar vinhos únicos de microparcelas (crus) que explicitem a diversidade qualitativa da terra para onde a família levou há 30 anos sua BBS11. Trata-se da cepa de sangiovese grosso identificada e devidamente registrada com as iniciais do clã para ser uma “trade mark” de uso perene.
Conhecida internacionalmente por um dos vinhos mais raros e pontuados da Itália, o Brunello di Montalcino, criado por Ferrucio Biondi Santi em 1850, na Tenuta Greppo, em Montalcino, a família deu início, em 1990, à plantação do clone exclusivo no Castello di Montepò, na região de Maremma, ao Sul de Siena, onde recebe forte influência marítima.
“Meu pai comprou Montepò pensando na melhor ambientação para a BBS11”, conta o filho de Jacopo Biondi Santi, um ícone no mundo do vinho, e hoje com 73 anos.
Em 1991, Jacopo provou a excelência da cepa na nova localização com o lançamento do Sassoalloro, considerado desde sua primeira safra um vinho moderno, exuberante, de alta qualidade e equilíbrio. Atualmente, o rótulo responde sozinho por 40% do volume de produção e quase 65% do faturamento da empresa.
No fim de 2017, a Tenuta Greppo e a marca Biondi Santi foram vendidas para o grupo francês EPI (dono dos champanhes Piper-Heidsieck e Charles Heidsieck), da qual a família se desvinculou completamente em 2019.
Agora, com as atenções totalmente voltadas para Montepò, Jacopo e Tancredi tentam traduzir a lógica por trás dos vinhos para tornar a produção da bebida cada vez mais precisa e sustentável.
“Estamos escrevendo a bíblia dos nossos vinhos para estarmos prontos para o futuro. Nos próximos 10 a 15 ano o cenário nos vinhedos e na agricultura em geral mudará muito”, acredita o herdeiro.
Ele não poupa gráficos e tabelas para mostrar os avanços do estudo iniciado há cinco anos que exigiu licença especial do governo italiano para o uso de drones nas parreiras. A perspectiva é que as máquinas voadoras substituam boa parte dos trabalhadores no campo, eliminando ao máximo o uso de tratores que compactam o solo, além do desperdício de água e defensivos agrícolas, que poderão ser aspergidos com maior precisão.
Com trajetória pré-determinada por GPS e munidos de câmeras e sensores, poderão ajudar a captar dados sobre o ritmo de desenvolvimento das plantas e identificar rapidamente qualquer problema pontual que possa ocorrer.
“Assim, poderemos entender o que cada safra nos dará em temos de acidez e potencial alcoólico, por exemplo, antes mesmo da colheita”, afirma Tancredi, que usou as microparcelas de não mais de 1,5 hectare dos vinhedos dos crus recém-lançados para fazer os primeiros testes e estudos do novo modelo.
O resultado são vinhos “completamente diferentes” feitos com uvas plantadas em parcelas a menos de 600 metros de distância umas das outras, mesmo valendo-se do mesmo método de vinificação e filosofia.
Ao todo, foram produzidas apenas 3 mil garrafas de cada rótulo, que serão destinadas somente aos cinco principais mercados da vinícola no exterior: Estados Unidos, Suíça, Brasil, Japão e Reino Unido. Vendidas no Brasil pela Mistral, as 120 garrafas de cada variedade sairão a R$ 1.657,65 cada.
Atualmente, dos 600 hectares do Castello di Montepò apenas 55 hectares são dedicados à enocultura, sendo 87% plantados com BBS11 e o restante com Cabernet Sauvignon e Merlot. O que garante a produção anual de cerca de 200 mil de garrafas, divididas em oito rótulos distintos. As exportações respondem por 70% a 75% do faturamento total.
Dentro do projeto de futuro desenhado por Tancredi e Jacopo ainda estão previstos testes com outras variedades de uva e a ampliação da área produtiva em mais 10 a 15 hectares até 2030. Começando pelos 10 hectares adquiridos em 2018, que possui “o melhor solo de galestro (argila-calcária típica da região) que já vi”, diz o porta-voz da vinícola.
A ideia é que com a identificação e o desenvolvimento de novos microterroirs na propriedade e o incremento da linha de crus, os medalhões da casa (Sassoalloro e Schidione, vendidos pela Mistral de R$ 430 a R$ 3.313) passem a responder por 40% a 50% do faturamento.
“A tecnologia é 100% aceita para ajudar a atingir nossas metas. Mas não afetará nossa visão, foco e estilo de vinhos”, garante Tancredi, sem medo de perder no caminho a emoção e subjetividade romântica do storytelling que sempre ajudou a difundir a bebida pelo mundo. “No fim, se as pessoas não aprovarem o vinho no paladar, nada disso fará sentido”, completa.