Enquanto a maioria dos pais se vê às voltas com os preços das fraldas descartáveis, lenços umedecidos e fórmulas infantis, um grupo de mães desfila o luxo (e a riqueza) de seus pimpolhos em vídeos e fotografias nas redes sociais. Com vocês, os bebês “bling-bling”.
Sinônimo de um estilo de vida de ostentação, o termo preconiza uma tendência oposta à do “luxo silencioso”. A expressão ganhou popularidade no final dos anos 1990, com o rapper americano Christopher Dorsay, o B.G.
Em uma de suas músicas, ele usa “bling, bling” como onomatopeia para o tilintar das caixas registradoras antigas – o som do acesso fácil a tudo o que o dinheiro pode comprar. Roupas grifadas, joias chamativas, carros potentes, viagens a destinos chiques...
E também cueiros, mamadeiras, chocalhos, chupetas, produtos de higiene, trocadores, bichinhos de pelúcia, roupinhas, sapatinhos, carrinhos... diminutivos no tamanho, superlativos nos preços.
Que os pais sempre procuram dar do bom e do melhor para seus rebentos não é novidade. O fenômeno agora, no entanto, é geracional.
À medida que os millenials endinheirados têm filhos, a presença das crianças nas plataformas sociais aumenta e o movimento ganha escala planetária.
Nativos digitais, escancaram todos os aspectos de seu cotidiano, por que não fariam o mesmo com as “maiores preciosidades” de suas vidas? Mamãe e papai são um orgulho só; “bling, bling”.
As marcas não perderam tempo. Já providenciaram coleções exclusivas para os pequerruchos de seus clientes mais ricos. Em 2024, o mercado de produtos de luxo para crianças deve movimentar cerca de US$ 42 bilhões.
Até 2034, está previsto chegar a US$ 73,15 bilhões, avançando a uma taxa de crescimento anual composta de quase 6%, informa a consultoria Future Market Insights. A título de comparação, o setor de alta moda para adultos evoluirá, no mesmo período, em um ritmo mais lento, a 3,4%, por ano.
Uma das grifes mais novatas no espaço é a Louis Vuitton. Pertencente ao grupo LVMH, a maison francesa estreou no universo infantil em 2023. Veio com tudo. São bodies, macacões, pijamas, vestidos, sapatos, mantas, jogos de louça, talheres de prata... tudo devidamente carimbado (e amostrado) com os emblemas clássicos da grife, o monograma e as flores. Tudo tão lindo e perfeito, quanto caro.
Mas, o que são R$ 3 mil por três pares de meia para aquele 1% da população que não conhece crise? Ou quase R$ 12 mil por um casaquinho de seda, com bordado Meli-Melo em dourado? Diferente da maioria dos pais, essa turma não tem de se preocupar se “as crianças perdem tudo muito rápido”. Rendeu post nas mídias sociais, um único que seja? Já valeu o investimento.
Mas luxo mesmo é a mala-armário de R$ 415 mil. O baú Baby Wardrobe faz a releitura de um dos produtos mais simbólicos da Louis Vuitton, o Wardrobe, criado em 1875. Então, tá; “bling, bling”.
A incursão das grifes ultrassofisticadas junto ao público infantil começou há cerca de dez anos. Hoje, além da Louis Vuitton, circulam também entre bebês e crianças Dolce & Gabbana, Gucci, Versace, Burberry Ralph Lauren, Givenchy, Dior....
A casa fundada por Christhian Dior, em 1946, na glamurosa avenue Montaigne, em Paris, acaba de lançar a fragrância Bonne Étoile. Criada por Francis Kurkdjian e Cordelia de Castellane, respectivamente, diretor criativo de perfumes e diretora artística da linha de bebês da casa de alta costura, a água perfumada, com notas suaves de peras, rosa selvagem e almíscares brancos, é “uma evocação da doçura e um convite à ternura da infância”, como se lê na descrição do “cheirinho”.
O preço? £ 230 (cera de R$ 1,4 mil), o frasco com 100 mililitros. Há ainda o creme hidratante (£ 95; ou R$ 600), o sabonete (£ 80; R$ 500) e a água de limpeza (£ 80; R$ 500). E a bolsa-trocador (£ 2,4 mil; R$ 15 mil), o cobertor e pelúcia (£ 310; R$ 1,95 mil), o gorro (£ 240, R$ 1,5 mil) e por aí vai... uma infinidade de mimos Dior para as crianças que os pais, em especial as mães, exibem, orgulhosos, no TikTok e no Instagram.
“Sempre fico impressionada com a criatividade do mercado de beleza, que apresenta produtos que nunca soubemos que precisávamos ou, neste caso, que não precisávamos. Não há nada mais delicioso do que o cheio do seu próprio bebê”, diz Jennifer Howze, diretora editorial do site para pais Netmums, ao jornal inglês The Guardian. “O que vem a seguir: um creme antienvelhecimento para crianças?”
O movimento bling-bling infantil começou com a superexposição das celebridades na internet. Alguns dos millenials que cresceram assistindo Keeping Up with the Kardashians querem viver a vida de seus “influenciadores” e querem que seus filhos vivam a vida dos filhos de seus “influenciadores”.
A menina North, de 10 anos, primogênita do ex-casal Kim Kardashian e Kanye West, já nasceu uma "bebê bling-bling". Com apenas seis anos, a garotinha causou furor nas redes, ao ser fotografada, durante férias no Japão, com a família, carregando a Saddle Bag, criação de John Galliano para a Dior. Um modelo confeccionado em apenas dez unidades, cujo preço gira em torno dos US$ 50 mil (R$ 247 mil), cada um. No mesmo passeio, seu irmão Saint calçava chinelos Gucci.
Assim seguiram as outras crianças Kardashian-West, Chicago e Psalm. E a prima Stormi Webster, a mais velha de Kylie Jenner. Os filhos de Victoria e David Beckham (destaque para a menina Harper, 12 anos) são sócios do mesmo clube fashion. Como também o é Blue Ivy, a primogênita de Beyoncé e Jay-Z.
Nos feeds dos famosos, conforme os bebês crescem, eles se transformam em meninas e meninos “ícones da moda”. Aos 11 anos, Blue Ivy, por exemplo, tem um stylist para “eventos especiais”.
Aliás, a cantora é considerada uma das precursoras da estética “mini me”, a moda de vestir pais e filhos com artigos semelhantes, das mesmas marcas –se não idênticos, ao mesmo tempo. A tendência está intrinsecamente atrelada ao universo dos "bebês bling-bling".
Blue Ivy ainda era criança de colo, quando Beyoncé divulgou uma foto das duas juntas, durante um passeio por Nova York. Mãe e filha usavam vestidos iguais, o Ortensia, de Dolce & Gabbana. Pronto! A internet foi ao delírio. E as redes sociais foram tomadas por uma enxurrada de “mini me”. No TikTok, apenas a hashtag #minime possui 2,5 bilhões de visualizações.
O sucesso foi tão grande que os estilistas italianos Domenico Dolce e Stefano Gabbana passaram a criar looks infantis inspirados nas coleções para adultos. E eles fazem a coordenação das estampas com maestria, sobretudo as florais. A eles se seguiram outras grifes, igualmente exclusivas –e não tão exclusivas assim.
O bilionário mercado da moda de luxo encontrou nos pequenos uma fonte profícua de negócios. Afinal, orgulho de mãe e pai não tem preço. Pensando bem, até tem, mas essa vaidade só os ultrarricos podem comprar.
Que tal um ursinho de pelúcia vison da Fendi, pela bagatela de £ 4,5 mil (R$ 28,2 mil)? Se as crianças preferem o “Teddy Bear” da maison italiana a um boneco de R$ 30, não dá para dizer. Mas o mimo sempre rende engajamento nas redes sociais. Mamãe e papai vibram, “bling, bling”.