Ela se autodefine como um polvo por conta de sua atuação concomitante em áreas completamente distintas. A empreendedora Ana Maria Diniz agora tem escolas de música e dança, vai exportar mel orgânico e trabalha no desenvolvimento da cadeia de derivados de leite de cabra.

Além disso, batalha pela melhor formação de professores junto aos governos, vai entrar em energia solar, como antecipou para o NeoFeed, e se dedicar ao conselho do Península, a empresa de investimentos da família Diniz.

Recentemente, por exemplo, Ana Maria Diniz abriu sua primeira escola de música, a Anacã Artes, com uma unidade na Avenida Brasil, em São Paulo. A escola com 20 professores fica colada com sua escola de dança, de mesmo nome, aberta há 12 anos, e que conta com 100 especialistas e mil alunos.

“Eu sou super-antenada em tudo que pode virar negócio, ainda mais negócio que dá prazer e no Brasil não tinha uma escola de música para todas as idades, independente área de atuação dos alunos”, diz Ana Maria. Uma das escolas mais tradicionais de São Paulo, a Intermezzo, tem filas de espera, conta, e “meus netos não conseguiam fazer aula lá”.

A Anacã Dança chegou a ter quatro unidades, mas duas fecharam na pandemia. Como surgiu uma casa ao lado da primeira unidade dos Jardins, Ana decidiu ampliar o escopo para além da dança e “despertar talentos em artes” de uma forma geral.

“Tem todos os instrumentos que você possa imaginar e também aula de canto com Álvaro Carolei, que é sócio e gestor. Outro sócio é o Leandro Sampaulo, que também é gestor na escola de dança”, afirma. Transformar a Anacã Artes em uma rede não está descartado.

“Eu estou sempre querendo crescer. Se houver procura, vamos ampliar. É preciso criar espaço para esses talentos da música. Mas não sei se pelo modelo de franquia porque exige uma padronização, e o professor precisa de espaço para criar em sala”, pondera.

A nova escola de música e canto, Anacã Artes

Ana Maria fez balé clássico quando criança e depois ficou 30 anos sem dançar. Até que reencontrou com Helô Gouveia, professora de dança que “marcou” sua vida e que também se tornou sua sócia na Anacã.

“Minha paixão sempre foi o jazz e faço três aulas por semana. Depois da pandemia, as pessoas estavam em busca de se conectar com sua essência, e a música e a dança, trazem isso. Nosso lema é ‘desperte sua arte”.

Mel orgânico no Piauí e leite de cabra na Bahia

Antes da pandemia, contudo, Ana Maria já tinha passado por um momento de grande reflexão sobre “como seriam os próximos capítulos da sua vida”. “Em 2019, tive uma pneumonia muito séria. E acabei ficando em casa muito tempo e estava prostrada. No ano seguinte ia completar 60 anos e pensei muito onde poderia atuar para me sentir mais realizada.”

Lançou dois anos depois o Polvo Lab, (o nome não é coincidência), “uma startup que une negócios e soluções sociais.” É praticamente “um fundo privado de impacto meu, em que coloco R$ 1,5 milhão por ano e estamos em busca de outros seis investidores, com cotas de R$ 500 mil cada, para estruturar as operações no território”.

O Polvo faz a curadoria e dá visibilidade para produtos originais do Brasil, aqueles em que o país tem “muita vocação” e que são produzidos por cooperativas ou pequenos produtores. “A gente vai lá e ajuda a fortalecê-las para tirar essas pessoas da pobreza”, afirma Ana Maria.

O primeiro produto a chegar no mercado foi o “Mel Mesmo”. É um produto orgânico produzido no Piauí (sem interferência de defensivos agrícolas de monocultura ao redor) e que está à venda em supermercados como St. Marché, Casa Santa Luzia e Casa Santa Maria, em São Paulo.

Mel mesmo: em torno de R$ 40 em supermercados

“A cooperativa produz hoje 200 toneladas por ano e beneficia 250 famílias, mas tem capacidade para 400 toneladas e beneficiar 600. A questão que é vendiam esse produto de excelente qualidade sem cobrar pelo valor que realmente tem.”

Assim, além de criar a marca, a Polvo dá assistência técnica e financeira e está negociando com dealers internacionais para que o mel seja exportado para os Estados Unidos e Europa na categoria de orgânico. “Hoje, eles exportam pelo preço do mel convencional e o mel é o terceiro produto mais adulterado do mundo.”

A próxima frente da Polvo é com cooperativas para trabalhar com derivados de leite de cabra, em Uauá (BA). “Só no Nordeste, o Brasil tem um rebanho de mais de 11 milhões de cabras, mas os supermercados praticamente só têm produtos importados. Queremos mudar isso.”

A estratégia vai ser a mesma que foi usada com o mel, capacitar e desenvolver a cadeia. “Nosso objetivo é que o dinheiro chegue na ponta, na mão do produtor e não nos atravessadores.” No caso do mel, os produtores ficam com 15% do resultado das vendas e a Polvo, com 15% para sustentabilidade do projeto.

O modelo tem “dado tantos resultados” que “supreendentemente” o próprio governo do Piauí, do governador Rafael Fonteles (PT), contratou uma consultoria da Polvo para mapear outras cooperativas no Estado com maior potencial para acelerar produção e ter aceitação do mercado.

O “side business” original

Esse “arrastão” de negócios paralelos começou desde a época em que Ana Maria era executiva no grupo Pão de Açúcar, onde ficou por 17 anos nas áreas de marketing e operação. “Meu side business sempre foi educação. Criei naquela época o Instituto Pão de Açúcar para aulas no contraturno dos filhos dos funcionários.”

Depois, quando saiu do grupo, foi uma das fundadoras de movimentos da sociedade civil como o Todos pela Educação e o Parceiros pela Educação. Nesse meio tempo chegou a montar uma consultoria de desenvolvimento humano “mas meu negócio é colocar a mão na massa, não só dar ideia.”

Foi daí que em conjunto com a família decidiu que a causa filantrópica seria educação, especificamente a formação de professores, e criou o Instituto Península, onde exerceu a presidência por dez anos até o fim do ano passado.

“Decidimos que o melhor investimento seria fortalecer esse ator tão importante que é o professor na sala de aula.” Por isso abraçaram como mantenedores o Instituto Singularidades, de formação universitária.

Agora membro do conselho, Ana Maria participou da audiência entre o Instituto e o ministro da Educação Camilo Santana( PT), há pouco mais de um mês. “É uma ilha de excelência no governo Lula e foram muito receptivos as nossas propostas.”

Também organizou um encontro com a presença de 18 dos 27 secretários de educação estaduais na fazenda da família em São Carlos (SP) para discutir soluções para além da formação continuada.

“Mas 30% do meu tempo é dedicado como conselheira da Península, que é a empresa de investimento da família. É nossa responsabilidade dar continuidade e preservar o patrimônio, além de envolver as próximas gerações, para preparar os futuros acionistas.”

Na quarta geração da família são 18 netos (ela mesma tem quatro filhos). Hoje 13 deles, acima de 15 anos, já iniciaram sua formação para que sejam desenvolvidos como “indivíduos responsáveis e os melhores profissionais possíveis dentro do que eles quiserem fazer.”

Ana Maria diz que não há direcionamento. “Ajudamos a fazer as melhores escolhas para se desenvolver como pessoa, ser feliz, se realizar e ter a própria renda. A gente faz muita questão de responsabilidade financeira. Não é a mentalidade de sou de uma família rica e então não preciso me preocupar com dinheiro.”

Em meio a tudo isso, ela só se ressente de não ter conseguido fazer suas aulas de canto ultimamente. “As vezes me questiono se não seria mais produtivo se eu fizesse uma coisa só. Mas não ia ficar feliz. Então resolvi assumir que sou assim mesmo. Preciso me estruturar em cada uma destas áreas e ter bons parceiros. Eu sou um pouco a arquiteta que acende o fósforo e fico na supervisão.”