Há duas semanas, a empresária Ana Maria Diniz conseguiu a outorga da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para lançar seu empreendimento de energia solar no sudoeste da Bahia, especificamente na região do município de Luís Eduardo Magalhães. “É uma conquista recente e importante para um grande projeto com capacidade de geração de 300 megawatts”, disse ela o NeoFeed.

Na fazenda que adquiriu há 15 anos com 5 mil hectares, ela reservou 600 hectares para a construção de um parque de energia solar que vai exigir um investimento de R$ 1,3 bilhão e com capacidade para iluminar uma cidade como Sorocaba (SP), que tem 690 mil habitantes. "Nosso orçamento, sabatinado pelos bancos, é de que custaria R$ 3 milhões por megawatt implantado", diz Ana Maria, que é filha do empresário Abilio Diniz.

Este é um projeto pessoa física da conselheira da Península, gestora que administra os ativos da família Diniz, e um desdobramento de seu negócio de energia renovável de biomassa, a partir do capim elefante, que ela criou há 10 anos, a Sykué.

“Tinha um contrato com a distribuidora de energia do estado, a Coelba. E, no meio da pandemia, fomos descontratados. Resolvemos virar a chavinha. Era um custo absurdo manter o projeto de biomassa.”

Em dezembro do ano passado, a termoelétrica foi colocada à venda após encerrar a operação. "Estamos em negociações avançadas para a venda. Desmobilizamos a usina e nos desfizemos dos ativos", diz Carlos Taparelli, presidente da SyKué.

A solução foi "reverter" a propriedade para o agronegócio, com a produção de soja, “porque essa é a região do coração do agro hoje”, conta Ana Maria. Ao mesmo tempo, ela diz que não poderia desperdiçar a estrutura e o conhecimento que adquiriu nos últimos anos com um mercado “tão complexo e regulado como o de energia no Brasil”.

Além disso, “as empresas que fazem medição para energia solar têm um mapa de calor e lá é a melhor área do país para isso.” Foi daí que decidiu reservar parte de fazenda para a energia solar.

Ana Maria adianta que já teve dois investidores interessados, mas que achou “mais seguro contratar um advisor e estou conversando com três bancos que atuam bastante nesta área de energia para serem até um anteparo entre mim e o investidor”.

Até porque, diz, ela não vai investir nessa etapa do negócio. “Eu já investi muito no meu projeto de energia. O que quero é participar, mas não só arrendando a terra, quero ter de 15% a 20%, já que estou colocando in place todas as condições para o investidor entrar.”

Neste momento, a empresária avalia que é “ruim para quem quer vender energia porque o preço está muito baixo”. Como choveu muito e os reservatórios estão todos cheios, há uma grande oferta de energia hídrica, “que é o pulmão do país”.

Ana Maria também sabe que há muitos projetos de energias renováveis que não saíram do papel. Mas aposta nos diferenciais da sua proposta. “Temos características bem importantes que nos diferenciam. Para começar, a gente não tem custo de transmissão, temos toda a conexão e uma subestação privada, a Taesa, que é um bom player do mercado.”

Além disso, destaca, seu “fator de potência é excelente de 32,2” e acabou de conquistar a outorga. Há ainda o desconto na taxa de transmissão que ela conseguiu manter. “Eu já tinha essa condição por ser produtora de biomassa e quando entrei com meu pedido de outorga antes de fevereiro, como estabeleceu o governo para os projetos de energia renovável, mantive o desconto. E isso faz a diferença total no business plan de longo prazo que estamos montando.”

A aposta de Ana Maria no projeto pode ser explicada também pelo rápido crescimento da energia solar, que se tornou a segunda maior fonte de eletricidade do País entre o fim de 2022 e o início de 2023, atrás apenas das usinas hidrelétricas, respondendo por 11,6 % da matriz elétrica do País. Em um ano, a energia solar cresceu aproximadamente 83%, saltando de 14,2 GW para 26 GW de capacidade instalada.

Parte do rápido crescimento do setor solar se deve à queda de custos dos painéis, de 70% nos últimos anos, e à oferta de subsídios, dos quais o novo projeto de Ana Maria ainda pode usufruir, que foram dados apenas àqueles que conseguiram acesso à rede de distribuição de energia até o início de janeiro.

O novo projeto foi concebido para atuar no mercado livre de energia, diz Taparelli, oferecendo energia em condições mais vantajosas do que as oferecidas pelas distribuidoras locais. O público-alvo são grandes consumidores que estejam estabelecidos na região Nordeste. O preço pago pelos clientes será negociado de acordo com as condições do mercado livre.

(Com colaboração de José Eduardo Barella)