Cofundador e CEO do C6 Bank, Marcelo Kalim costuma ficar longe dos holofotes. Mas, no segundo semestre de 2023, em duas ocasiões, ele veio a público para transmitir um recado: fundado em agosto de 2019, o banco digital estava a caminho de virar o jogo e se tornar, enfim, lucrativo.

Na segunda oportunidade, foi a vez de anunciar que a operação acabara de registrar, em novembro, seu primeiro lucro mensal, de cerca de R$ 15 milhões. Agora, quase seis meses depois, o neobank está entregando o pacote completo que havia prometido ao mercado.

Entre janeiro e março de 2024, o C6 Bank apurou um lucro de R$ 460,9 milhões. Com a cifra, a empresa reverteu o prejuízo de R$ 293,3 milhões, reportado em igual período, um ano antes, e tingiu de azul a última linha do seu balanço pela primeira vez em um trimestre.

“Nós só devemos satisfações ao nosso board e ao nosso acionista, o J.P. Morgan, que sempre tiveram absoluta confiança na operação”, diz Kalim, ao NeoFeed. “Então, honestamente, não acho que tiramos um peso dos ombros. Mas essa marca mostra a razão de acreditarmos no nosso modelo de negócios.”

Apesar do efeito de qualquer cobrança interna ser minimizado, o fato de que outros bancos digitais já terem migrado do prejuízo para o lucro, notadamente o Nubank e o Inter, só ampliava a expectativa de quando o C6 seguiria na mesma direção.

Kalim atribui o marco de alcançar essa mesma página à combinação de receitas crescentes, despesas controladas e provisão para devedores duvidosos (PDD) decrescente. No campo da receita líquida, o banco registrou um crescimento, em base anual, de 71,9%, para R$ 2,17 bilhões.

Já as despesas de PDD recuaram de R$ 625 milhões, há um ano, para R$ 513 milhões, enquanto o retorno sobre o patrimônio (ROE) ficou no patamar de 58,9%. Para 2024, o CEO do C6 prevê a manutenção dessa toada rumo ao primeiro lucro anual, ao enxergar um cenário semelhante no ano, mas com uma diferença importante.

“A PDD, de decrescente, passa a ser controlada. Isso nos dá tranquilidade para projetar que o lucro não será apenas recorrente, mas também crescente”, observa. “Se multiplicarmos o número desse trimestre por quatro, minha expectativa é de que o lucro anual, em 2024, virá acima desse montante.”

Segundo ele, o horizonte a princípio mais favorável não vai se traduzir, porém, em grandes alterações na política de concessão de crédito. Aqui, a postura mais comedida adotada nos últimos trimestres é outra justificativa apontada para que a operação saísse do vermelho.

“Nós ainda seguimos bastante cautelosos nessa frente”, pontua Kalim. “Hoje, quase 80% da nossa carteira é colateralizada, o que é fruto do nosso apetite de crédito estar mais reduzido. Mas independentemente disso, estamos crescendo a carteira em todos os segmentos.”

No trimestre, a carteira de crédito cresceu 35,5%, para de R$ 46,3 bilhões. O consignado representou 48% desse volume, enquanto crédito para pessoa física e o financiamento de veículos registraram, cada um, 21% das operações.

Já as fatias de crédito para pessoa jurídica e de home equity foram, respectivamente, de 9% e 1%. Enquanto a taxa de inadimplência acima de 90 dias recuou de 4,7%, no mesmo intervalo de 2023, para 3,2% em março desse ano.

Com a expectativa de manter o balanço positivo, outra prioridade em 2024 será acelerar e ampliar o share of wallet do C6 Bank entre seus mais de 30 milhões de clientes, uma abordagem que também tem sido um mantra para seus pares.

“Entre os clientes de alta renda, por exemplo, em seis meses, já conseguimos ter um share of wallet superior a 50%”, observa Kalim. “Ou seja, em pouco tempo, nesse caso, nós já estamos conseguindo ser o principal banco desse cliente.”