A série “DNA do Crime” resgata a investigação de um mega-assalto ocorrido em 2017, quando 50 homens armados com metralhadoras, fuzis e explosivos invadiram a sede de uma transportadora de valores, levando quase US$ 12 milhões.

Os requintes cinematográficos do episódio sugerem, à primeira vista, se tratar de uma produção dos EUA, de onde sai grande parte dos enredos criminais calcados nas cenas de ação.

Mas não é o caso. “DNA do Crime” é uma produção brasileira, a primeira série de ação policial da Netflix, nos moldes das americanas “FBI”, “NCSI” ou “CSI”, mostrando o cotidiano em uma divisão criminal de elite, que estreia dia 14 de novembro.

O gênero é pouco explorado no Brasil, por geralmente exigir sequências carregadas de tiroteios, explosões e perseguições automobilísticas, o que aumenta o custo e requer equipes especializadas.

Embora também estejam ligadas ao universo do crime, outras séries nacionais da Netflix, como “Bom Dia, Verônica”, no catálogo desde 2020, e “Irmandade”, lançada em 2019, são dramas policiais que trazem eventuais cenas de ação. Até então as poucas produções do filão eram feitas, em sua maioria, na Globo, como “Força-Tarefa” (2009-2011).

“A ação policial é um gênero clássico na indústria do entretenimento. O Brasil nunca teve tradição nesse segmento por uma questão orçamentária e também de know how’’, disse ao NeoFeed o criador e diretor-geral da série, Heitor Dhalia. “Faltava recurso não só para fazer, mas também para competir com o produto americano de igual para igual.”

A chegada dos serviços de streaming é o que está permitindo “quebrar o paradigma”, na visão de Dhalia. Mesmo sem poder divulgar o orçamento, ele adiantou que foi o maior já destinado a uma série realizada no Brasil. Pelo menos até a série sobre Ayrton Sena começar a ser produzida, um pouco depois, também para a Netflix.

“Trazemos uma novidade com ‘DNA do Crime’, ao elevarmos o patamar de dificuldade em uma série de ação policial feita no país”, contou o diretor, mais conhecido pelos filmes “O Cheiro do Ralo’’ (2006), “À Deriva’’ (2009), “12 Horas’’ (2012) e “Serra Pelada” (2013).

“Construímos cenas complicadas, com várias unidades rodando ao mesmo tempo, incluindo as de tiroteios com carros em movimento, de choque de veículos e de explosões. O grau de complexidade foi altíssimo, assim como o risco e o desafio técnico, o que exigiu muita preparação”, continuou Dhalia, de 53 anos.

O mega-assalto que inspirou o diretor a criar “DNA do Crime” foi o perpetrado na fronteira entre Brasil e Paraguai, na madrugada de 24 de abril de 2017 contra a Prosegur. Situada na Ciudad del Este, a 10 quilômetros de Foz do Iguaçu, a empresa foi alvo de um plano sofisticado, que envolveu armamento pesado e, no final, foi atribuído a facções criminosas brasileiras.

A partir de uma investigação conduzida pela Polícia Federal do Brasil, em parceria com as autoridades paraguaias, foi feito um mapeamento de DNA nos vestígios deixados pelos ladrões, permitindo identificar parte deles. Ao ser colocado no banco de perfis genéticos em Brasília, o material colhido na Prosegur foi associado a 18 outros crimes, ocorridos em sete estados do Brasil, de 2013 a 2019.

O trabalho dos peritos criminais aqui até garantiu ao Brasil, em 2020, o seu primeiro prêmio “DNA Hit of the Year”, deixando para trás finalistas que representavam os EUA e a França. O troféu é entregue ao melhor emprego do uso da genética para auxiliar nas investigações e solucionar crimes.

“Embora a nossa história não siga à risca o que aconteceu em Ciudad del Este, incluímos a questão do DNA na trama por esse trabalho de inteligência ter possibilitado desvendar uma teia gigantesca. Foram conectadas várias facções criminosas que se organizam para mega-assaltos no Paraguay”, comentou Dhalia.

Nos diálogos, alguns peritos forenses de “DNA do Crime” até fazem referência à série americana “CSI”, ambientada no laboratório de criminalística da polícia de Las Vegas. “É uma brincadeira, já que não é só a produção audiovisual que se inspira no submundo do crime. Tanto os policiais quanto os criminosos buscam referência nos filmes e nas séries também”, afirmou Dhalia.

Com oito episódios, a primeira temporada de “DNA do Crime” mergulha na perícia de genética forense, ao mesmo tempo em que acompanha o trabalho de policiais federais da delegacia de Foz do Iguaçu.

Suellen (vivida por Maeve Jinkings) e Benício (Rômulo Braga) são os que caçam os suspeitos, conduzindo a ação nas ruas, marcada por cenas de lutas, tiroteios, perseguições com carros e com lanchas e outros desastres envolvendo criminosos dos dois países.

“Em tudo o que faço, os meus personagens estão sempre no limite. E o universo do crime também representa um limite. Dependendo da situação, tanto policiais quanto criminosos decidem ultrapassá-lo ou não. Mas eles estão sempre flertando com aquele abismo”, disse Dhalia, que aposta em uma segunda temporada da série.

“Apesar de termos que esperar oficialmente o sinal verde (da Netflix), já estamos escrevendo novos episódios. Temos muita pólvora ainda”, brincou.