Esqueça os filmes tradicionais da Barbie, com a boneca mais famosa do mundo interpretando princesas, fadas, sereias e estrelas do rock. Ou ainda com a própria queridinha de plástico vivendo a existência glamourosa que pediu a Deus, sempre associada à imagem de diversão, luxo e sucesso.
Longe das animações lançadas no mercado de vídeo e mais recentemente nos serviços de streaming, "Barbie", a primeira produção live-action da boneca, é uma sátira adulta. E, pelo que se vê no trailer teaser, das mais aguçadas, fazendo do título estimado em US$ 100 milhões uma das principais apostas dos estúdios Warner para 2023.
Há a expectativa de que o filme brinque com os estereótipos da boneca, que vende um padrão de beleza, de perfeição e de realização pessoal longe da realidade. Embora seja um ícone da cultura pop, Barbie está longe de ser um ícone feminista, por ter como cartão de visita a versão loira, magra e consumista (sobretudo quando o assunto é moda).
A exemplo do brinquedo da Mattel criado em 1959, que atravessou gerações como objeto do desejo das crianças, o filme já é um dos mais aguardados pelo público. Divulgado no último dia 16, o primeiro trailer teaser soma até o momento 6 milhões de visualizações no YouTube.
E o lançamento do trailer foi seguido, minutos depois, por uma enxurrada de reações e memes nas redes sociais. E todo esse barulho faltando mais de seis meses para a obra estrear: em 21 de julho, com Margot Robbie no papel da boneca dada a luxos, com Ryan Gosling como o namorado Ken e com Greta Gerwig na direção.
Também divulgado na conta oficial da Barbie no Instagram, com 2,2 milhões de seguidores, o trailer já entrega o tom de piada do filme. A peça promocional faz referência ao clássico de ficção científica “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick, que também é da Warner.
Embalada pela música-tema do clássico, “Assim Falou Zaratustra”, Richard Strauss, a primeira cena do trailer mostra um nascer do sol, com a narração da atriz Helen Mirren. Ela diz que, desde o início dos tempos, as meninas já brincaram com bonecas.
“Mas as bonecas eram sempre bebês’, continua a narradora, enquanto a câmera passeia por cenário arenoso onde meninas ninam, alimentam e penteiam as bonecas de colo. Pelo menos até uma Barbie gigante aparecer, usando um maiô listrado, no lugar do monólito preto que deixava os macacos confusos no filme de Kubrick.
Aqui as garotas também ficam alteradas, passando a destruir as bonecas criancinhas, como o macaco faz com os ossos no clássico. Uma delas, irritada, joga a boneca pelos ares – parodiando a cena do macaco lançando o osso. Lá o fêmur faz a ponte para a cena seguinte, com uma nave espacial no mesmo formato do osso.
E do mesmo modo como Kubrick refletiu sobre a evolução da humanidade em “2001”, “Barbie” deve analisar a imagem da mulher através dos tempos, mas com muito humor. A empresa que cuida do legado do cineasta aprovou a referência, ao repostar o trailer de “Barbie” na conta oficial de Kubrick no Twitter, com o comentário: “Dizem que a imitação é a forma mais sincera de lisonja!”.
A piada com Barbie, no entanto, não deve ir muito longe, a ponto de ofender a marca. Até porque a empresa de brinquedos americana Mattel está produzindo a comédia, que foi rodada este ano e está em processo de finalização.
A ideia de um filme com a Barbie em carne e osso foi ouvida pela primeira vez em 2009. Mas o projeto, na época tocado pela Universal Studios, não foi adiante. O mesmo aconteceu com o filme anunciado em 2016, desta vez pela Sony, que teria a humorista Amy Schumer na pele da boneca.
Como Amy conta que costuma ouvir produtores pedindo que ela emagreça, por destoar do padrão de magreza de Hollywood, ela parecia perfeita para interpretar essa versão da boneca. Aqui ela seria expulsa da “Barbielândia”, por não ser perfeita.
Em 2017, Anne Hathaway foi atrelada ao filme, quando os direitos pertenciam à Sony. Mas a ideia não avançou. O projeto só começou a sair do papel em 2018, depois que a Sony deixou os direitos expirarem, e a Warner assumiu a empreitada, iniciando tudo do zero.
Como os envolvidos no filme guardam os detalhes em segredo, pouco se sabe sobre a trama. Não há sinopse oficial ainda. Margot Robbie só adiantou até agora, em entrevistas nos EUA, que a proposta é subverter as expectativas, dando ao público “aquilo que ele não sabia que queria”.
O ator Will Ferrell, chamado para encarnar o CEO da Mattel, só disse se tratar de uma “homenagem satírica à marca e um comentário sobre o patriarcado”, além de o filme explorar as razões pelas quais a boneca é criticada.
Ele provavelmente se referia ao fato de Barbie ser acusada de reforçar o estereótipo de beleza europeia e de magreza, por mais que a boneca tenha, ao longo do tempo, representado raças e silhuetas diferentes.
A escolha de Greta Gerwig para a direção já é um sinal de que Barbie será reimaginada de um ângulo feminista aqui. Mais conhecida como a diretora de “Lady Bird: A Hora de Voar” (2017) e “Adoráveis Mulheres” (2019), Greta é conhecida por celebrar uma geração mais realista de mulheres. Elas não se encaixam nos padrões e nem se esforçam para isso. Tudo justamente para fugir da ideia de perfeição sobre como uma mulher deveria ser.