No dia em que completa 471 anos, em 25 de janeiro, a cidade de São Paulo ganhará uma nova sala de espetáculos: a Estação CCR das Artes. Localizada no Complexo Cultural Júlio Prestes, onde fica a Sala São Paulo, ocupará o mesmo prédio em que funciona a estação de trem.
Esse espaço, que no passado era a bilheteria e o saguão de espera da segunda classe, tem entrada pelo subsolo, e era utilizado para casamentos e eventos. Agora, será destinado à música clássica e popular, dança, teatro, literatura e cinema além de atividades educacionais.
A concepção é do diretor-executivo da Fundação Osesp, Marcelo Lopes, que teve a ideia de fazer ali uma sala com plateia retrátil ao conhecer a The Britten-Pears Foundation, em Suffolk, na Inglaterra, onde a Osesp se apresentou. “A plateia retrátil foi uma saída para não modificar o edifício que é tombado e satisfazer os órgãos de patrimônio”, diz ao NeoFeed.
“No início do ano passado nós levamos essa proposta ao governo do Estado de São Paulo, que resolveu encampar a ideia e fazer a transformação da sala. A concepção demorou um pouco porque era preciso fazer os estudos acústicos”, conta. “Mas a obra foi rápida, durou cerca de um ano”.
Diferentemente da grandiosidade da Sala São Paulo, trata-se de um espaço intimista, com palco de 160 m² e 543 lugares na plateia. A reforma só foi possível depois de firmado o contrato de patrocínio entre a Fundação Osesp e o Grupo CCR, que tem duração de três anos e foi realizado por intermédio da Lei Rouanet. A obra custou R$ 28 milhões e mais de metade desse valor foi gasto na reforma da estrutura.
A partir de agora será possível fazer um espetáculo na Sala São Paulo e outro, ao mesmo tempo, na Estação das Artes. Cada uma tem seus próprios equipamentos: aparatos acústicos, iluminação, camarins e até o bar, embora seja operado pela mesma empresa.
Lopes gosta de lembrar que nessa mesma sala foi realizado um concerto pela primeira vez em 1995, com a regência do maestro Eleazar de Carvalho, antes mesmo da Sala São Paulo ser construída.
“Desde aquela época ficou na minha cabeça que aquilo poderia ser uma nova sala de concertos ou um espaço múltiplo. E essa plateia é perfeita para isso, porque pode ser toda retraída e se torna um grande carro, um bloco que corre para qualquer um dos lados”, diz o diretor-executivo da Osesp.
A reforma foi entregue para a Dupré Arquitetura, de Nelson Dupré, também responsável pelo projeto da Sala São Paulo. Na Estação CCR das Artes a arquitetura original com vitrais coloridos da Casa Conrado e lustres de cristal também foi preservada.
Além de executivo e gestor cultural, Marcelo Lopes é trompetista e ingressou com 19 anos na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, onde tocou durante 21 anos. “Tenho esse vício de origem”, diz, rindo. Mas como também é economista e advogado, em 2005, quando foi criada a Fundação Osesp, ele foi indicado por Fernando Henrique Cardoso, então presidente da Osesp, e pelo maestro John Neschling para assumir a direção executiva, cargo que ocupa desde então. “Pensei que ia ficar cinco anos e que voltaria a tocar, mas não foi o que aconteceu”.
Entre os detalhes que envolvem toda essa história, Lopes recorda que quem salvou o prédio de uma negociação de dívida com o governo federal foi Yoshiaki Nakano, então secretário da Fazenda do governo Mário Covas (que morreu 2001), ao destinar a Estação Sorocabana para fins culturais.
Agora, a Estação das Artes se junta a outros equipamentos culturais que ajudam a promover a revitalização do Centro da cidade com finalidades diferentes. “Não se trata de uma sala menor ou de segunda categoria, apenas é um espaço menor, que tem possibilidade de fazer espetáculos mais flexíveis do que na sala de concerto, já que a Sala São Paulo é sempre muito rígida em seu formato”, diz.
No dia 25, serão duas apresentações inaugurais. Uma para convidados e outra aberta ao público e gratuita, às 20h. Elas terão a cantora Virginia Rosa, o acordeonista Toninho Ferragutti, a São Paulo Big Band Ensemble, a São Paulo Companhia de Dança, um quarteto de cordas formado por músicos da Osesp, o Coro Acadêmico da Osesp, a pianista Juliana Ripke e a companhia Mundo do Circo. Os ingressos serão distribuídos na terça-feira, dia 21 de janeiro, às 12h, no site da Sala São Paulo.
Ao falar do papel do Grupo CCR, que atua na área de mobilidade Em São Paulo (linha 4-Amarela, por meio da ViaQuatro; e linhas 5-Lilás do Metrô e 8-Diamante e 9-Esmeralda da CPTM, por meio da ViaMobilidade), Marcelo Lopes lembra que é importante que a companhia tenha uma atuação cultural. “Não é o caso só de transportar pessoas de um ponto para outro, mas dar a elas uma vida mais prazerosa na cidade. Até pela importância que ela tem na operação do transporte urbano, tem a obrigação de olhar para a cidade como um ambiente de convivência e de fruição artística.”