Quem nunca? Guardamos as sobras do almoço para comer no jantar. Mas aí esquecemos. Fazemos uma nova refeição e mais outra....

Quando lembramos, é tarde demais. A comida foi sendo empurrada para o fundo da geladeira, saiu do alcance da nossa visão e acabou estragada. Só resta jogá-la fora. E, com os restos de alimento, a intenção de refeições mais racionais e sustentáveis vai também para o lixo. Sobra apenas a frustração – e essa nunca apodrece.

Na correria do dia a dia, dividindo-se entre o trabalho em período integral e os cuidados com a filha pequena, o casal de americanos Ty e Stacie Thompson sonhava com o dia em que a comida “emitisse” alertas para lembra-los de consumi-la. Quem nunca?

Diferente da maioria de nós, no entanto, os Thompson foram além da imaginação. Em 2017, junto com o designer Dave Joseph e o engenheiro Bob Kuehne, eles fundaram a Ovie.

“Passamos os últimos anos desenvolvendo um sistema ridiculamente fácil de usar”, conta a CMO Stacie, em entrevista para o NeoFeed.

Inspiradas nos faróis de trânsito e batizadas LightTags, as etiquetas inteligentes da startup de Chicago acabam de chegar ao mercado.

E é, de fato, muito simples. O usuário define o tempo pelo qual deseja acompanhar determinado produto, clicando na LightTag uma vez para cada dia de monitoramento.

Em seguida, ele encaixa o dispositivo em um suporte adesivo e fixa o “conector” na embalagem.

Para Stacie, a LightTag é "ridiculamente" fácil de usar" (Foto: Ovie)
Para Stacie, a LightTag é "ridiculamente" fácil de usar" (Foto: Ovie)

Baseado em uma série de sensores e temporizadores, o sistema entra em ação sempre que a geladeira é aberta.

Se a luz verde piscar, o alimento tem validade superior a um dia. A amarela indica que o consumo deve ocorrer em 24 horas. A vermelha que já era: o prazo acabou e o alimento deve ser descartado.

Para quem tem problemas para identificar cores, a etiqueta tem um padrão de intermitência, vibrando cada vez mais rápido quanto mais próxima a comida estiver da data de expiração.

Laváveis, as LightTags estão à venda no site da Ovie. O conjunto de três etiquetas sai por US$ 58; o de seis, por US$ 98, e o de nove, por US$ 138. Por enquanto, são oferecidas apenas nos Estados Unidos, mas estão nos planos da empresa, como relata a CMO, levar as etiquetas inteligentes para o mundo.

“Metade da razão pela qual desperdiçamos alimentos é porque simplesmente não percebemos quando abrimos a geladeira e, por padrão, esquecemos que eles estão lá até que seja tarde demais”, explica Ty, CEO da Ovie.

Na cozinha de casa

Da 1,3 bilhão de toneladas de toda a comida produzida no mundo e não consumida, 931 milhões de toneladas são rejeitadas em nossas casas, no varejo e nos serviços alimentares, informa o relatório Índice de Desperdício de Alimentos, da Organização das Nações Unidas (ONU).

Alerta vermelho: não consuma (Foto: Ovie)
Alerta vermelho: não consuma (Foto: Ovie)

Para se ter ideia, 40% dos alimentos comprados pelos americanos são perdidos no âmbito doméstico, informa a ONG ReFed.

Responsável por um prejuízo anual de US$ 750 bilhões, o desperdício está associado a três das maiores crises planetárias contemporâneas – o aquecimento global, a degradação do meio ambiente e a insegurança alimentar.

E, com a emergência climática, a escassez de terras agrícolas, a carência de água e o crescimento exponencial da população, é impossível continuar do jeito que está.

Problema global, de todos nós

Como lembram os analistas da consultoria americana Boston Consulting Group, no documento Closing the Food Waste Gap, o desperdício é um problema global e sua solução depende dos governos, empresas, ONGs e cidadãos.

Para a maioria, o controle das perdas no dia a dia da casa exige mudanças de comportamento, muitas vezes, difíceis de adotar.

Tecnologias como a da Ovie podem nos ajudar a lembrar da comida esquecida no fundo da geladeira.