Já ouviu falar em “eletricida”? Celebrada como uma das inovações mais necessárias da agricultura 4.0, a capina elétrica surge como substituta aos herbicidas sintéticos no controle das ervas daninhas.

Em tempos de condenação dos insumos químicos, a eletrocussão das plantas invasoras ganha força no mundo todo, conforme analistas do ecossistema agtech.

Em processo de aperfeiçoamento desde meados da década de 1990, a tecnologia deu um grande salto nos últimos anos. As novas ferramentas estão mais precisas e potentes, sem comprometer a saúde das espécies agrícolas ao redor, interferir na qualidade do solo ou perturbar o ecossistema das plantações, em especial os animais polinizadores – como acontece com as capinas química, mecânica e térmica.

Os herbicidas, sobretudo os sintéticos, estão na mira de agricultores preocupados com a biodiversidade de suas lavouras e das agências reguladoras de vários países. As legislações sobre o uso dos venenos químicos ficam cada vez mais rigorosas.

A Europa, por exemplo, não renovou a autorização de uso do glifosato, o agrotóxico lançado em 1950 e até hoje o mais usado no planeta. Em dezembro de 2020, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), depois de 12 anos em processo de reavaliação, decidiu liberar o produto, com restrições, no Brasil.

Os métodos agrícolas tradicionais exigem uma quantidade de insumos químicos maior do que a necessária. Esse excesso pode comprometer a saúde da plantação e empobrecer o solo. Com isso, o controle passa a requerer volumes maiores de veneno.

A Pesquisa Internacional de Ervas Daninhas, fruto da colaboração de 664 estudiosos do mundo inteiro, é reveladora do tamanho do problema. Atualmente, 97 culturas, em 72 países, registram resistência a 165 herbicidas diferentes.

Enquanto as novidades em insumos químicos continuam estacionadas nos anos 1990, as tecnologias de eletrocussão só evoluem. Fundada em 2012, na cidade de Warwickshire, a agtech inglesa RootWave é uma das mais inovadoras.

Sua tecnologia usa visão computacional e inteligência artificial para localizar a erva daninha e disparar seus choques. A morte é instantânea e os restos da planta eletrocutada são transformados em matéria orgânica, sendo absorvidos pelo solo.

O ataque desferido pela RootWave contra os inços é único no mercado. A ser acoplado em máquinas agrícolas, o sistema ferve a daninha de dentro para fora, das raízes para cima. A agtech inglesa já levantou US$ 10 milhões, aproximadamente, conforme dados da plataforma Crunchbase. Entre os investidores mais recentes estão o holandês Rabo F&A Innovation Fund e o belga V-Bio Ventures.

Equipamento da RootWawe, que dá "choque" e mata as ervas daninhas

Estudos independentes, realizados em lavouras de milho e beterraba e cujos resultados foram divulgados recentemente, mostram que a eletrocussão dos inços mata 100% das plantas invasoras e consome apenas um quinto da energia dos herbicidas sintéticos. Essa economia acontece porque a descarga elétrica só disparada quando a ferramenta entra em contato com o inço.

O ecossistema de capina elétrica está ebulição. Em junho passado, os acionistas e novos investidores, entre os quais a Demeter Investment Managers e Madaus Capital Partners, aumentaram a base de capital da Crop.Zone em quase US$ 11 milhões. Fundada em 2019, na cidade alemã de Aachen, a agtech pretende avançar no mercado internacional. A empresa já tem negócios na Europa, Estados Unidos e Ásia-Pacífico.

Em outubro de 2021, a CNH Industrial, multinacional italiana, segunda maior fabricante global de equipamentos agrícolas, se tornou sócia minoritária da Zasso. Nascida no Brasil e hoje sediada na Suíça, a Zasso comercializa suas ferramentas de eletrochoque para vários países do mundo.