Bolhas invisíveis a olho nu estão agitando o ecossistema de inovação agroalimentar. Com 70 a 120 nanômetros, 2,5 mil vezes menores do que um grão de sal, elas têm uma missão de grandeza inversamente proporcional a seu diâmetro: ajudar na construção de sistemas mais sustentáveis, produtivos e resilientes à crise climática.
O poder das chamadas nanobolhas está justamente em seu tamanho reduzidíssimo. Na escala do bilionésimo do metro, essas partículas possuem propriedades físicas, químicas e biológicas únicas. Características que fazem de cada bolhinha uma espécie de “entregador de delivery”. Sua principal mercadoria? Oxigênio.
No momento em que são formadas, as bolhas “tradicionais” sobem à superfície e arrebentam. As invisíveis, não. Se quanto menor a área, maior a pressão exercida sobre ela, as nanobolhas se movem muito lentamente – a cerca de 8,5 milímetros por segundo. Algumas podem levar dias para chegar ao topo e estourar.
Além da liberação do gás, as “nanoexplosões” produzem ondas supersônicas e calor instantâneo da ordem de 4 mil a 6 mil graus Celsius, entre outras alterações. Nessa pequena, mas intensa movimentação, o teor de oxigênio aumenta ainda mais. E, em tempos de acelerada degradação ambiental, água com altas concentrações de oxigênio é sinônimo de vida - e riqueza.
Como o potencial de negócio é enorme, cresce o interesse dos inovadores e dos venture capital pela nanotecnologia. Sobretudo no desenvolvimento do maquinário para a produção das bolhas. Em geral, usa-se apenas água e ar, em um processo que envolve, entre outros fenômenos, forte agitação mecânica intensa.
Recentemente, a startup irlandesa NanobOx levantou € 900 mil. Fundada em outubro do ano passado, em Dublin, pelo CEO John Favier e pelo CTO Mohammad Ghaani, a empresa desenvolveu o primeiro equipamento para geração de nanobolhas movido à energia solar.
A rodada foi liderada pela The Yield Lab, com participação da DeepIE Ventures e Growing Capital. Com o novo cheque, Favier e Ghaani pretendem ampliar as pesquisas em torno da tecnologias, para lançá-la comercialmente em 2024.
O uso de energia renovável não comprometeu a eficiência do gerador de nanobolhas. A transferência de oxigênio atingiu 90%, com comparação aos métodos de aeração convencionais. O foco da NanobOx é a aquicultura.
Ostras e morangos frescos
Estudos realizados em centros de pesquisa espalhados pelo mundo indicam um aumento médio de 20% a 30% no tamanho de peixes, crustáceos e plantas aquáticas cultivados com nanobolhas. Um trabalho conduzido por cientistas sul-coreanos mostrou: ostras criadas em ambientes “nanorricos” poderiam ser congeladas a 20º Celsius negativos e, mesmo assim, não perderiam o frescor.
Na agricultura, as nanobolhas oferecem uma vasta gama de oportunidades para robustecer os cultivos. A água enriquecida com oxigênio flui mais facilmente em direção à raiz. “Isso faz com que as plantações cresçam mais rápido e mais saudáveis”, diz o empresário sul-coreano Yang Sik Pak, fundador da brasileira Hidronano, em conversa com o NeoFeed.
As plantas regadas com nanobolhas ficam mais protegidas contra o ataque de microrganismos, sobretudo as bactérias anaeróbicas, aquelas que têm dificuldade para crescer na presença de oxigênio. Com isso, o fazendeiro pode economizar no uso de fertilizantes e defensivos agrícolas.
Uma das maiores agtechs do ecossistema de nanobolhas é a americana Moleaer. Fundada em 2016, em Los Angeles, a empresa já arrecadou quase US$ 70 milhões, indica a plataforma Crunchbase. Testes em campo com a tecnologia desenvolvida pela startup ilustram à perfeição o potencial das bolhas invisíveis.
Na Holanda, em experiência conduzida por cientistas do Instituto de Pesquisa Delphy, em plantações de morango, os rendimentos aumentaram 14% e os parasitas Pythium reduziram 74%. Nas lavouras de abacate, da empresa americana Gama, as nanobolhas tornaram as frutas quase 200 gramas mais pesadas. E isso apenas no primeiro ano de uso da tecnologia.
No segundo, os produtores perceberam que o solo estava menos compactado –ou seja, mais vigoroso. Além disso, os pés de abacate estavam mais resistentes e resilientes à salinização da terra; um dos efeitos mais nefastos do aquecimento global.
Uma das pesquisas mais importantes sobre o poder de limpeza das nanobolhas foi conduzido em 2010, pelo cientista ambiental peruano Marino Morikawa. Em apenas dois meses, ele conseguiu despoluir a lagoa El Casajo, na província de Huaral, ao sul de Lima. Em sete, os animais retornaram ao local. E a vida voltou a pulsar na lagoa da infância de Morikawa.
Com os avanços dos geradores, o mercado global está em expansão. Avaliado em US$ 33,42 bilhões em 2022, está previsto avançar a uma taxa de crescimento anual comporta de 17%, até 2028, quando deve bater cerca de US$ 86 milhões.