Um estudo realizado pela consultoria indiana Meticulous Research aponta que o setor plant-based deverá movimentar US$ 95,5 bilhões até 2029. Isso, no entanto, não é o suficiente para convencer a gestora The Yield Lab a apostar no segmento – ao menos não em startups que tentam substituir a proteína animal com vegetais.

Em processo de mapeamento de startups latino-americanas que atuem diretamente com o agronegócio, a The Yield Lab vem refinando seu filtro. Neste sentido, a gestora que já realizou 18 investimentos em startups da América Latina, entre elas as brasileiras Terramagna e Seedz, deixou de fora as companhias que voltam seus negócios para os novos tipos de proteína.

Tudo isso faz parte da estratégia da gestora para seu terceiro fundo, no valor de US$ 50 milhões e que está em fase de captação. O valor é consideravelmente maior do que os veículos anteriores, que somados captaram US$ 6 milhões. O plano é investir em até 30 agtechs na América Latina. Os cheques começam em torno de US$ 200 mil e podem chegar a até US$ 1,5 milhão.

Em entrevista exclusiva ao NeoFeed, Kieran Gartlan, managing partner da gestora no Brasil, citou diferentes obstáculos que fazem com que a gestora desconsidere investir neste tipo de negócio. O que interessa? "Algumas empresas que atuam com a concessão de crédito para os produtos rurais", diz Gartlan.

Por que a The Yield Lab não vai apostar nas startups plant-based?
Quando fomos pesquisar a respeito, vimos que quase nenhum player realmente fazia a produção de seus alimentos. Tudo era terceirizado. E até o insumo principal era importado. Quando eu vi isso, vi que não fazia sentido investir.

Ainda assim, há diversas empresas que cresceram neste mercado nos últimos anos. Como você avalia o cenário atual do setor?
As empresas que atuam neste mercado precisam criar uma marca forte para conseguir disputar espaço nas prateleiras. Não é o nosso negócio. A proteína alternativa vai ter que evoluir para gerar mais impacto.

No exterior, esse setor está mais desenvolvido. Qual é a dificuldade de escalar os negócios deste tipo por aqui?
No Brasil, este ainda é um mercado de consumo de luxo. É um mercado de nicho e que não tem o mesmo perfil de cliente que está nos Estados Unidos ou na Europa. São empresas que cobram muito caro e que eu não vejo como é possível escalar o negócio. A gente precisa ver o que realmente faz sentido para investir no Brasil.

E no que vale a pena investir no Brasil?
Um exemplo são as fintechs focadas no agronegócio. Algumas empresas atuam com a concessão de crédito para os produtos rurais, isso faz sentido porque resolve um problema real daquele consumidor que não consegue acessar o crédito de uma forma fácil e ágil.

Depois de um 2022 mais conturbado, qual é a sua projeção para o cenário de tecnologia neste ano?
O que aconteceu no ano passado, para nós, foi ótimo. O mercado estava supervalorizado e isso gerava muito ruído fazendo com que as gestoras percam muito tempo olhando para negócios que não vão dar certo. A melhor época para investir é quando o mercado está em queda. Com o novo fundo, o timing foi perfeito.