Eles são conhecidos como a geração foodie. Nos encontros em torno da comida, não querem apenas satisfazer a fome. Querem saciar o apetite por experiências. Nas fotos e vídeos postados à profusão nas redes sociais, os alimentos se transformam em marca pessoal; o retrato de um estilo de vida.
Abertos a novos sabores, buscam a diversidade das cozinhas étnicas, originárias de todos os cantos do mundo. E quanto mais picante, melhor. Com esse cardápio, a geração Z, ou simplesmente gen Z, pauta o futuro à mesa.
Nascidos entre 1997 e 2012, eles têm, como definem os especialistas, um paladar mais ousado do que as faixas etárias anteriores. No Brasil, o uso de pimenta, pimentão e temperos apimentados está presente na alimentação de 20% dos gen Z. Entre os millenials, seus antecessores, esse índice é de 18%, indica o Painel de Uso e Consumo, da consultoria global Kantar.
Divulgado com exclusividade para o NeoFeed, o levantamento é trimestral e tem como base 4 mil pessoas, em 970 domicílios – um universo que representa 58 milhões de brasileiros, de sete regiões metropolitanas, de todas as classes sociais e idades.
No último ano, terminado em março de 2023, os temperos apimentados e as pimentas leguminosas se fizeram presentes em nossas mesas quatro vezes por semana, em média. Uma frequência 10% maior em comparação a 2022. Em dois terços dessas ocasiões, o consumo foi liderado pelos Z, além dos millenials e os primeiros alpha, os pré-adolescentes de hoje.
Como nota Jenifer Ferreira Novaes, executiva sênior de uso da Kantar, divisão Worldpanel, entre os mais jovens, o sabor picante é bem-vindo não só no preparo das proteínas animais, mas também das saladas e das massas. “O macarrão ao alho e óleo virou macarrão ao alho, óleo e pimenta”, ilustra.
Pimenta, música e lanches
Tem ainda outra diferença. Se, para a maioria da população, os sabores quentes estão concentrados sobretudo no almoço e no jantar; para as gerações mais novas, aparecem também nos momentos de snacking.
“Para elas, os lanches da tarde e da noite têm até 16% mais importância do que para os mais maduros”, diz Jenifer. “E isso vai se refletir no preparo. Os apimentados estão no cachorro-quente e nos patês.”
Empresas de vários segmentos da indústria alimentícia estão se adequando ao paladar dos novos consumidores. No Brasil, por exemplo, a Seara, controlada pela JBS, lançou, em 2021, a linha Super Picante, com os seis produtos mais famosos da marca na versão apimentada. Entre os quais, a lasanha bolognesa com jalapeño e a salsicha chiplote dog.
Este ano, a companhia esquentou ainda mais seu portfólio, com a estreia no mercado da categoria de frangos crocantes, com dois produtos mais apimentados. Não à toa, a Seara está levando a nova linha para o The Town, festival de música, a ser realizado em setembro, na capital paulista e cujo público é majoritariamente composto por representantes da geração foodie.
“Essa novidade vai de encontro com os desejos da geração Z porque traz, por meio da picância, uma experiência de autoindulgência e suculência”, diz Tannia Fukuda Bruno, diretora de marketing da Seara.
Nos Estados Unidos, marcas de vários segmentos da indústria alimentícia estão se adequando ao paladar dos novos consumidores. As redes de fast-food Subway, Panda Express, de comida chinesa, e a Chipotle, mexicana, incrementaram seus cardápios com itens mais quentes. Na Wendy’s, de um ano para cá, a procura pelo Nugget de Frango Picante disparou, relata a plataforma Business Insider.
Na última conferência do Consumer Analyst Group of New York, em fevereiro passado, Brendan Foley, presidente e diretor de operações da McCormick & Co., gigante dos temperos e especiarias, testemunhou: “A demanda por picantes está pegando fogo, um vento favorável para impulsionar o crescimento da empresa”.
Em suas contas, os sabores mais quentes do portfólio de produtos da companhia representaram, no mínimo, 20% das vendas totais da McCormick, no ano passado, segundo a Food Business News. Com operações em 27 países, a companhia registrou uma receita de US$ 6,351 bilhões, em 2022.
Poder bilionário
Na opinião de Jenifer, da Kantar, as empresas devem estar atentas aos movimentos dos novos consumidores para não perder oportunidades de negócios. Afinal, a geração Z começam a chegar ao mercado de consumo agora. E eles compõem um grupo de nada mais, nada menos, 2 bilhões de pessoas, ao redor do mundo.
Os dados da empresa americana de inteligência de negócios Morning Consulting, com sede em Washington, retratam o poder dos jovens na indústria alimentícia.
A geração foodie...
. gasta mais em comida e bebida do que em roupas, produtos e serviços de beleza ou eletrônicos;
. considera os encontros à mesa mais divertidos e mais relevantes do ponto de vista social e cultural, do que qualquer outro evento;
. experimenta, no mínimo, uma bebida e um alimento novos a cada mês;
. nunca perderá o interesse por explorar sabores desconhecidos. A intensidade da procura por novidades pode até diminuir, mas desaparecer, jamais.