De um lado, a demanda crescente por alimentos, a escassez de terras aráveis e o apagão da mão de obra no campo. Do outro, o aperfeiçoamento das tecnologias agrárias e a redução nos custos da automação das fazendas. Eis a combinação perfeita para a explosão na procura pelos robôs agrícolas.
Até 2028, o mercado de agribots deve avançar a uma taxa anual composta de 18,42%. Indo dos US$ 7,6 bilhões de 2022 para US$ 21,1 bilhões, nos próximos cinco anos, aponta a consultoria global International Market Analysis Research and Counsulting Group.
Da capina à colheita, os robôs fazem brilhar os olhos dos investidores de risco. Em pleno inverno do venture capital, do fim do ano para cá, o setor registrou alguns aportes milionários. Em um dos maiores investimentos em robótica agrícola do mundo, a startup suíça Ecorobotix levantou recentemente US$ 52 milhões.
Fundada em 2014, em Yverdon-les-Bain, às margens do Lago Neuchâtel, pelo engenheiro Steve Tanner e o administrador Aurelien Deumarex, a Ecorobotix desenvolveu o ARA, um sistema de pulverização de precisão, baseado em inteligência artificial (IA).
Os investimentos de série B foram liderados pela Aqton e Cibus Capital, com participação da SwisscantoInvest/Swisscanto Growth Fund I, Yara Growth Ventures e Flexstone Partners. Com o dinheiro de agora, o total levantado sobre para US$ 80,61 milhões.
Implantada em 15 países europeus, a tecnologia da Ecorobotix pode ser usada tanto para fertilizar a plantação quanto para combater as ervas daninhas. Graças ao sistema de IA, em tempo real, o ARA reconhece a planta, o tipo de praga e o pesticida mais adequado, nas quantidades exatas, para cada caso.
Míssil teleguiado
Com um método de pulverização ultradirecionado, com uma precisão de seis em seis centímetros, o robô preserva as outras plantas e o solo do ataque massivo de veneno. Como cada pé da lavoura recebe nem mais nem menos agrotóxico do que o necessário, o agricultor reduz entre 70% e 95% o uso de defensivos agrícolas. O que, no final, acaba por aumentar o rendimento da plantação em até 10%, além de diminuir a pegada de carbono das operações.
Destruir as ervas daninhas, tal qual um míssil teleguiado, é o que também oferece a agtech americana Verdant Robotics. Lançada em 2018, na cidade de Hayward, na Bay Area, a agtech captou, no fim de 2022, US$ 46,2 milhões. A rodada foi capitaneada pela gestora de venture capital Cleveland Avenue, elevando o total financiado para US$ 80 milhões, nos cálculos da consultoria CB Insights.
Conforme o fundador e CEO da agtech, Gabe Sibley, o robô da Verdant é o único do mercado americano com tripla ação. Depois de identificar a planta contaminada, o sistema de IA determina o tipo e as poções exatas de herbicida. Mas, além de pulverizar, o sistema também corta as ervas daninhas a laser.
“Veículos autônomos e robôs dançantes podem até ganhar as manchetes, mas não há nenhuma área mais impactante para a aplicação de robótica e aprendizado de máquina do que a agricultura”, diz Sibley, em comunicado.
Inclusiva e sustentável
Com seus robôs altamente precisos e rápidos, a automação agrícola pode reduzir o trabalho humano e a escassez de mão de obra, melhorar a sustentabilidade ambiental, mitigar os impactos do aquecimento global e adaptar as plantações às mudanças climáticas, lê-se no relatório mais recente da FAO, a agência para agricultura e alimentação da ONU.
“A FAO está convencida de que sem progresso tecnológico e aumento da produtividade não é possível tirar milhões de pessoas da pobreza, da fome, da insegurança alimentar e da má nutrição. O que importa é como o processo de automação é realizado, não se deve ocorrer ou não”, escreve QU Dongyu, no prefácio do documento. “Devemos garantir que a automação seja realizada de forma inclusiva e que promova a sustentabilidade.”