Como garantir a nutrição adequada dos peixes em cativeiro sem sobrecarregar ainda mais os ecossistemas e, ao mesmo tempo, atender à demanda de um mercado em franca expansão que, entre 2021 e 2022, cresceu 2,7% e atingiu quase 53 bilhões de toneladas métricas? Muitas empresas e centros de estudo estão em busca de soluções circulares.

Uma das frentes de pesquisas mais curiosas é conduzida por cientistas da startup SalmoSim, fundada em 2016, na Universidade de Glasgow. A equipe liderada pelo professor Martin Llewellyn desenvolveu um alimento à base de plástico.

Os pesquisadores escoceses trabalham com larvas da traça-de-cera. Na natureza, esses vermes são considerados uma praga da apicultura. No mercado, porém, são usados como ração animal.

Tradicionalmente, as fórmulas usadas na aquicultura resultam da combinação de ingredientes de origem animal, como vísceras e ossos, com outros de origem vegetal, como farelo de soja, milho, arroz e trigo.

Mais recentemente, em 2017, a cientista espanhola Federica Bertocchini descobriu que esses bichos conseguem biodegradar polietileno. Sim, eles comem o mais comum dos plásticos, aqueles usados, por exemplo, na fabricação das sacolas de supermercado.

O ineditismo das pesquisas realizadas em Glasgow está em usar as traças-de-cera alimentadas com polietileno na produção de ração para salmão de cativeiro. O passo seguinte foi testar a digestibilidade do alimento. Para tanto, o time de Llewellyn usou um simulador in vitro do intestino do salmão do Atlântico, desenvolvido na Universidade de Glasgow.

Até aqui, os resultados foram considerados promissores. Ou seja, a ração de plástico é bem absorvida pelos peixes. As próximas etapas são as mais complicadas. Consistem em avaliar a salubridade do salmão alimentado com as tais larvas para consumo humano.

Confirmado o sucesso dos primeiros testes, a ração à base dos vermes degeneradores de polietileno pode resolver dois problemas de uma tacada só: a sustentabilidade na produção de alimentos para a aquicultura e a reciclagem de um dos grandes poluidores do mundo contemporâneo.

Cerca de 7 bilhões das 9,2 bilhões de toneladas de plástico, produzidas globalmente, entre 1950 e 2017, acabaram em aterros sanitários ou lixões.

Mais modesta em relação aos anos anteriores, a produção mundial de proteína animal segue em ascensão, em 2023. E o setor deve agradecer à aquicultura pelo crescimento. “Sua expansão contínua é apoiada por sua relativa independência dos preços das commodities agrícolas”, lê-se no relatório "Global Animal Protein - Outlook 2023", do Rabobank.

Ao aliviar a pressão sobre o campo e os oceanos, os animais e algas aquáticos criados em cativeiro representam uma nova fronteira na busca por sistemas alimentares mais sustentáveis, inclusivos e produtivos.