Cinco meses após seu rebranding, a Motiva (ex-CCR), grupo de infraestrutura de mobilidade que inclui de rodovias e trilhos até aeroportos, está criando uma diretoria de inovação que tem a meta de investir R$ 1 bilhão exclusivamente nessa frente nos próximos dez anos.

“Até então, a inovação acontecia naturalmente na empresa, mas muito mais fruto de uma reação, muitas vezes, por uma necessidade quase contratual ou de movimentos oportunísticos”, diz Pedro Sutter, vice-presidente de inovação, tecnologia, risco e sustentabilidade da Motiva, ao NeoFeed.

A postura reativa da inovação se manifestava em iniciativas dispersas no grupo, sem uma estratégia centralizada. O que dificultava escalar essas ações e ter visibilidade, inclusive sobre quanto era destinado a essa frente e os ganhos gerados por ela.

Além do plano bilionário de investimentos, a área tem como meta gerar uma redução de 2 a 3 pontos percentuais em seu patamar de eficiência, medido pela relação Opex (Caixa)/Receita líquida, nos próximos dez anos.

Nesse indicador, a Motiva acaba de antecipar para o fim de 2025 a meta de alcançar 38%, prevista inicialmente para 2026. Já para 2035, o número a ser perseguido agora é de 28%, contra os 35% anunciados anteriormente.

“Além da criação de uma área específica, temos um plano de onde queremos chegar, onde investir e com metas por cada investimento alocado”, diz Francine Saueia, diretora de estratégia e inovação da Motiva.

Como parte dessa governança, Saueia, que, até então, liderava a diretoria de estratégia, passa a comandar agora a diretoria de estratégia e inovação. A área, por sua vez, estará sob a vice-presidência de Sutter, que também adicionou o termo à sua nomenclatura.

Em um segundo passo nessa direção, a Motiva criou o Comitê de Inovação, Digital e Inteligência artificial, que, além de Saueia e Sutter, será composto por toda a diretoria executiva do grupo, entre eles, o CEO Miguel Settas e a diretora de tecnologia e digital, Cristiane Gomes.

Com reuniões mensais, esse comitê será o responsável por avaliar os projetos que sairão dos estágios de prova de conceito e de minimum viable product (MVP) e receberão recursos para ganharem escala na operação. Nesses estágios iniciais da nova área, já foram aprovados R$ 13 milhões nessa esfera.

Cada pitch submetido a esse comitê tem origem em uma leva inicial de mais de 300 ideias geradas em todas as áreas e níveis da operação. Após um primeiro filtro, essa base resultou em 85 projetos em avaliação.

Todas essas iniciativas, por sua vez, se encaixam em um dos cinco pilares eleitos pela Motiva como os desafios a serem endereçados pela inovação: excelência operacional; excelência em capex; cidades inteligentes e sustentabilidade; experiência do cliente; e novos negócios.

Em execução

Há 12 MVPs dentro desse escopo atualmente no grupo, prestes a serem submetidos ao crivo do comitê. Como essa estrutura é recente, boa parte ainda está mais concentrada em dois desses pilares.

“Nesse primeiro momento, estamos mais focados nos domínios de excelência operacional e de capex”, afirma Saueia. “Essas operações vão permitir que entremos nas demais áreas. Em trilhos, por exemplo, elas vão ajudar a criar um data lake para nos aprofundarmos em experiência do cliente.”

Um dos projetos em curso aposta na inteligência artificial (IA) para agilizar e automatizar a compra de suprimentos. Em particular, os contratos de menor valor – inclusive, estratégico. E que, em grande volume, consomem muito tempo dos profissionais da área.

Outra iniciativa envolve o uso de uma gama de sensores e data lakes para antecipar não apenas a necessidade de manutenção, mas também o que deve ser feito para prevenir falhas futuras. Esse projeto abrange desde os trilhos e os trens até as escadas rolantes de uma concessão do grupo.

Já em rodovias, uma aplicação passa por sistemas de modelagem da informação da construção (BIM, na sigla em inglês), que vão permitir o acesso aos chamados “gêmeos digitais”. Ou seja, estruturas digitais que permitem simular e testar projetos antes de efetivamente implantá-los em um ambiente.

Em uma segunda camada, a Motiva também elegeu seis vetores e tecnologias que apoiarão esses projetos. Além da IA generativa, big data e analytics, o pacote inclui as vertentes de internet das coisas; automatização e robotização; novos materiais; e transição energética.

Os investimentos nessa largada passam ainda pela criação de um Centro de Excelência em IA generativa e uma “fábrica digital”, com 15 especialistas. Além de um hub para estreitar os laços com diversos atores nesse ecossistema – de startups e big techs à academia.

“Até então, essas parcerias estavam totalmente desfocadas ou subutilizadas”, afirma Sutter. “Nesse início, a ideia é reforçar essas conexões além dos limites da Motiva. Mas temos a firme intenção de, no futuro, encontrar um espaço físico para centralizar todas essas atividades.”