O Uruguai é o segundo menor país da América do Sul e, apesar de elaborar vinhos há 250 anos, ainda é pouco conhecido pelos seus brancos e tintos. É mais famoso por seu pioneirismo em direitos civis, na América Latina, e pela qualidade de sua carne bovina.
Mesmo assim, o país tem um vinho negociado na nobre Place de Bordeaux, na França: o Balasto. Seu preço beira R$ 1.000 (exatamente R$ 969, a recém-lançada safra de 2018, na World Wine) e críticos internacionais lhe conferem notas altíssimas.
Lançada neste início de dezembro, a quarta safra do Balasto, nome em referência à característica do solo local, de base granítica, obteve 96 pontos de uma escala de 100 pontos do crítico americano James Suckling.
A safra de 2017, que chegou ao mercado no ano passado custando R$ 699, recebeu 95 do mesmo Suckling e também do Descorchados, o principal guia de vinhos da América Latina.
Já está definido que não haverá o Balasto 2019. Esse é outro critério que norteia os rótulos ícones: se a safra não é perfeita, melhor não elaborar um vinho que não irá envelhecer bem. Mas há grandes expectativas para a safra de 2020.
Sua produção, numerada, é pequena e não chega a 20 mil garrafas. Mais: esse vinho premium da Bodega Garzón é elaborado na região costeira, perto do balneário de Punta del Este, e não em Canelones, região que concentra mais de 80% dos vinhedos do país. Em comum aos demais tintos uruguaios, só a tannat, que é a sua uva principal.
“(Alejandro) Bulgueroni sabia que elaboraria coisas fantásticas no Uruguai”, afirma o chileno Christian Wylie, CEO da Garzón, e um dos principais estrategistas para colocar esse vinho em destaque.
Para colocar o Uruguai no mapa dos grandes vinhos, Wylie aposta não apenas no conceito de exclusividade, mas também no reconhecimento dos comerciantes franceses e, claro, na qualidade do vinho, mesmo ainda jovem e com poucas safras para contar a sua história.
“Tenho diversas consultorias ao redor do mundo, mas meu primeiro vinho na Place de Bordeaux foi o uruguaio”, afirma o enólogo italiano Alberto Antonini. Consultor do projeto desde o início, o nome de Antonini, de prestígio nesse setor, também ajuda a posicionar o Balasto em patamar de qualidade e preço alto.
A Garzón é a primeira e a maior vinícola do empresário argentino Alejandro Bulgueroni e exigiu investimentos estimados em US$ 250 milhões. O recurso foi necessário para construir a vinícola, forte em enoturismo com cozinha do premiado chef Francis Mallmann, e plantar seus 240 hectares de vinhedos.
Vindo do ramo do petróleo, o bilionário Bulgueroni começou nos vinhos em 2007 e, desde então, investiu mais de US$ 1 bilhão no seu projeto de ter vinícolas pelo mundo. Atualmente são 21 propriedades, 14 delas com suas próprias vinícolas, em países como Uruguai, Argentina, Austrália, Itália e Estados Unidos.
Vinho patagônico
O próximo lance de Bulgheroni é no seu país natal. Dez anos atrás, a equipe da Garzón plantou uvas na Patagônia argentina, cultivando o vinhedo mais austral do mundo, na província de Chubut, no paralelo 45 Sul.
Não foi fácil fazer os 50 hectares de vinhas crescerem. O clima muito frio e, principalmente, o vento, que chega a mais de 100 quilômetros por hora, são os maiores obstáculos. As videiras vingaram, graças à plantação de Alamos, que serve de barreira natural ao vento.
Até recentemente, o projeto, batizado de Otronia, era meio secreto. Talvez por não terem certeza do potencial dos vinhedos, talvez por não saberem se as vinhas frutificariam com o vento.
Ele começa a ser revelado agora, com a chegada de sua primeira safra comercial, a de 2017. O volume é restrito. Para o Brasil, foram enviadas pouco mais de 2 mil garrafas, divididas entre os quatro vinhos: o Rugientes Casta Branca e o Rugientes Pinot Noir, cada um por R$ 279; e o Block 1 Pinot Noir e o Block 3&6 Chardonnay, cada um por R$ 669, na World Wine.
No grupo Avinea, que reúne as empresas de Bulgheroni, está no radar levar estes vinhos premiuns patagônicos para o mesmo patamar do Balasto. Nota-se a estratégia já pelo preço da primeira safra.
“É um projeto único. Como todo grande terroir, o vinho traz um forte caráter do lugar em que foi plantado”, diz Antonini. Adjetivos como mineral, fresco, complexo são usados pelo enólogo para descrever o vinho.
Junto com a pequena oferta e o inusitado da localização de seus vinhedos, foi dado mais um passo para a construção de uma marca ícone. Agora é esperar a complexidade, mas aqui é preciso tempo, para as raízes ganharem profundidade e para o vinho construir a sua história.
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