Dois grandes rivais prometem um duelo épico em 3 de setembro. Na data em que é comemorado o Dia do Trabalho (Labor Day) nos EUA, cinema e streaming vão bater de frente. E em grande estilo, com a estreia de “Tenet” nas telonas e o lançamento de “Mulan” diretamente na Disney +.
Pela primeira vez na história, a indústria do entretenimento vai acompanhar ansiosa pelas rendas obtidas tanto nas salas de cinema quanto pelas plataformas de VoD, Video on Demand, durante um fim de semana prolongado. Analistas de bilheteria ouvidos pelo NeoFeed acreditam que o resultado terá um grande impacto na indústria.
As estratégias dos estúdios podem mudar significativamente a partir da comparação entre a performance do filme de Christopher Nolan, sobre agente secreto que tenta evitar a Terceira Guerra Mundial, e a versão em live-action da clássica animação da Disney.
Vale lembrar que o streaming ganhou muito mais força durante a pandemia de covid-19, com os consumidores reclusos em casa. E a reabertura dos cinemas não significa necessariamente o comparecimento em massa, já que o público ainda pode ter medo de ficar em ambiente fechado, na companhia de estranhos – pelo menos até que uma vacina esteja disponível.
“Não é segredo que a maioria dos grandes estúdios já tem canais diretos para mostrar seus produtos no streaming”, afirma Jeff Bock, analista sênior da Exhibitor Relations, de Los Angeles. “A Disney + está à frente do jogo com atualmente mais de 60 milhões de assinantes (nos EUA)”, diz ele.
Embora esse número seja uma decorrência da pandemia, diz o analista, o streaming da companhia se tornou uma ferramenta valiosa para a Disney analisar o melhor método de distribuição daqui para frente. Ele não descarta a possibilidade de “Viúva Negra”, o filme solo da heroína da Marvel, ser o próximo título da Disney a ganhar um lançamento direto na plataforma.
A princípio, sua estreia nos cinemas está prevista para 6 de novembro. “O futuro de ‘Viúva Negra’ depende do desempenho de ‘Mulan’ no VoD e da performance dos filmes dos outros estúdios nos cinemas dos EUA nos próximos meses”, conta Bock. Ele lembra que a AMC, a maior rede de cinemas dos EUA, volta a operar na quinta-feira, 20 de agosto, depois de cinco meses com as portas fechadas.
No Brasil, onde os cinemas do Rio de Janeiro prometem liderar a reabertura, retomando a operação no dia 27, “Tenet” tem lançamento agendado para 10 de setembro. Como a Disney +, serviço de streaming da Disney só chega ao Brasil em novembro, “Mulan” deve estrear nos cinemas no País antes disso, em data ainda a ser definida.
“Se a bilheteria de “Tenet” não for muito boa para a Warner, ‘Mulher-Maravilha 1984’, que o estúdio planeja colocar nos cinemas em 2 de outubro, também pode cair nas plataformas de streaming (pelo menos nos EUA)”, prevê Bock.
Paul Dergarabedian, analista sênior da Comscore, baseado em Los Angeles, destaca que a decisão de optar pelo streaming, em detrimento das salas, funciona melhor com os filmes concebidos para toda a família. “Como vimos acontecer nos EUA com ‘Scoob!’ e ‘Trolls 2’, que foram abraçados por famílias desesperadas por entretenimento com os filhos presos em casa”, afirma ele.
No caso de “Trolls 2”, previsto para chega às telas do Brasil em 8 de outubro, a Universal comemorou ter apostado diretamente nas plataformas digitais na América do Norte, em abril. Enquanto a animação original, lançada em 2016, precisou de três meses para arrecadar US$ 153 milhões nos cinemas, a continuação faturou US$ 100 milhões no VoD em apenas três semanas.
A renda ameaçou o circuito exibidor, a ponto de a AMC fazer um comunicado, em represália, dizendo que a cadeia não exibiria mais os filmes do estúdio. O assunto só foi resolvido no mês passado, com um acordo firmado entre as empresas. A ideia é que, no caso de produções premium, a janela entre a exibição nos cinemas e o lançamento nas plataformas de streaming caia dos tradicionais 90 dias para 17 dias.
Há ainda outro fator em jogo. Enquanto o exibidor fica com cerca de 50% da renda obtida nos cinemas, o setor de VoD costuma reter apenas 20% (caso seja um serviço de streaming independente). Um estúdio com uma plataforma de streaming própria, como é o caso da Disney, garante naturalmente uma receita muito maior ao colocar os filmes no seu serviço de VoD do que ao levá-lo aos cinemas.
“Um lançamento mundial nas salas, no entanto, traz um prestígio que não existe em outra plataforma, além de alimentar o interesse do público por mais tempo, até que o título chegue ao streaming”, comenta Dergarabedian. “Em tempos normais, uma superprodução tem potencial para arrecadar de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões nos cinemas, o que representa um alicerce importante na geração de lucro de um filme de grande orçamento”, completa ele.
Para Bock, o mais irônico é que o mercado de entretenimento espera obter respostas sobre o futuro do cinema justamente no feriado do Dia do Trabalho. “Um final de semana prolongado para o qual a indústria nunca deu muita bola. E agora parece ser ele o mais importante para a história do cinema”, brinca.
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