As ações da Azul registram forte crescimento das posições vendidas na bolsa de valores desde o anúncio do aumento de capital de R$ 1,66 bilhão, na quarta-feira, 23 de abril. De acordo com dados da B3 compilados pelo RocketTrader, os papéis da companhia aérea terminaram o último pregão com 106 milhões de ações alugadas.
A quantidade, que equivale a 23% do free float (apenas dois pontos percentuais abaixo do limite permitido pela B3 para ações em aluguel) representa um crescimento de 22% em dois dias. A taxa de tomador, paga para montar a posição vendida, saltou de 60% para 179%, dada a demanda pela aposta contra a empresa.
Além do efeito de diluição da base de acionistas pelo aumento de capital, investidores esperam por uma forte pressão vendedora após o período de lock-up da operação. Isso porque 97% do aumento de capital se deu por meio de troca de dívidas por ações, sendo apenas 3% referente à captação adicional.
“Além da conversão da dívida, havia a expectativa de uma oferta de ações, que não foi bem-sucedida. Apesar da dívida reestruturada e alongada, o custo é muito alto e a ideia dessa captação adicional era abater o custo financeiro [pelo aumento de caixa], mas não foi possível, porque não teve demanda”, diz Luiz Fernando Araújo, CEO da Finacap Investimentos.
De acordo com cálculos de um relatório da XP, a relação dívida/Ebtida deve ser reduzida em 0,4 vez, enquanto a diluição total atingiu 61%, considerando todas as emissões e conversões em ações.
“Tem uma base gigantesca de bondholders que quer converter o crédito em ações, o que vai gerar diluição e overhang gigantescos quando o lock-up cair. Já vimos isso antes. Pena que o aluguel estava muito caro, senão, estaríamos short grande também”, disse um gestor de ações que preferiu não ser identificado.
O lock-up é o período em que o investidor é impedido de vender as ações (geralmente obtidas em novas ofertas). No caso da operação da Azul, são previstos cinco períodos de lock-up: em julho e outubro de 2025 e em janeiro, abril e junho de 2026.
“Alguns investidores já se anteciparam ao movimento vendendo antes da pressão esperada para o futuro. Apesar de ajudar a companhia no médio prazo, no curto prazo foi uma pressão vendedora muito forte”, disse Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos.
Lage, no entanto, comenta que algumas posições chegaram a ser fechadas no início desta segunda-feira, 28, com parte dos vendidos realizando lucros após as quedas já registradas nos dias anteriores. Segundo ele, isso explica a forte valorização que os papéis registraram no começo do dia, quando chegaram a ser negociados em alta de 9,7%.
“Com essa taxa de tomador, só fica quem estava vendido já há bastante tempo e já acumula um lucro significativo. Com aumento do custo de aluguel e queda das ações, tem sido cada vez mais arriscado apostar contra a Azul, devido ao risco de um short squeeze”, afirma Lage.
Assolada em uma crise de dívida, a Azul encerrou 2024 com um prejuízo financeiro de R$ 12,6 bilhões, o triplo do registrado no ano anterior. As ações da companhia acumulam cerca de 50% de queda no ano e desvalorização de 80% em 12 meses.