A guerra das tarifas de importação, travada entre Estados Unidos e China, começa a seguir outro caminho além dos discursos inflamados dos governos. As empresas já sentem o impacto da cobrança adicional de 10% aplicada por Donald Trump sobre os produtos chineses que entrarem no território norte-americano.
A gigante varejista Walmart passou a pressionar os fornecedores chineses para compensarem o impacto da nova taxa estabelecida pelo governo dos Estados Unidos, que entrou em vigor na terça-feira, 4 de março, justamente com uma redução de até 10%.
Na prática, isso significaria fazer com que os vendedores da China absorvam integralmente a nova alíquota aplicada pela gestão Trump. A solicitação foi feita para fabricantes de setores como utensílios domésticos e roupas.
O problema, segundo revelou a Bloomberg, é que muitos não toparam rediscutir os valores dos produtos. A alegação é de que novos preços afetariam as margens, que já são baixas pela política do Walmart em comprar itens a preços mais baixos para conseguir manter a vantagem competitiva entre os itens vendidos na rede.
Fornecedores alegam que qualquer redução acima de 2% poderia acarretar prejuízo na relação comercial com a varejista. Alguns chegaram a dizer que teriam, inclusive, que trocar seus próprios fornecedores de matérias-primas e buscar peças no Vietnã.
O resultado dessa queda de braço entre governos e, por consequência, entre as cadeias de suprimentos pode afetar os próprios consumidores dos Estados Unidos que, na ponta do lápis, poderiam arcar com essa cobrança extra.
No mês passado, a rede de supermercados já havia previsto receita abaixo da expectativa para 2025, exatamente pelas incertezas provocadas pelos anúncios de Trump de que iria adotar novas cobranças para vários países, o que poderia afetar os negócios do Walmart.
Nos últimos meses, a empresa tem procurado diversificar a fonte de seus fornecedores para aliviar o impacto de medidas deste tipo. Hoje, segundo a empresa, dois terços já são adquiridos dentro dos Estados Unidos.
Ainda que o secretário de Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, tenha minimizado o impacto no setor industrial e varejista no país, outras gigantes do setor como Target e Best Buy alertaram os consumidores de que poderá haver aumento nos preços nas próximas semanas.
O varejo, no entanto, não é o único segmento que tem começado a demonstrar insatisfação com as medidas tarifárias adotadas por Donald Trump. No setor automotivo, há perspectiva de aumento de pelo menos US$ 12 mil nos preços dos carros nos Estados Unidos.
O impacto maior deverá ser sentido, na avaliação de consultorias e associações ligadas ao segmento norte-americano, quando entrar em vigor a cobrança de 25% sobre produtos importados do Canadá e do México.
Na quinta-feira, 6 de março, Trump anunciou o adiamento para 2 de abril do início da taxação para boa parte dos produtos mexicanos e canadenses.
Na semana passada, executivos de montadoras como General Motors, Stellantis e Ford estiveram com dirigentes do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, segundo o Detroit News, para alertar sobre os riscos reais de que as medidas afetassem as vendas de automóveis no país.
No agro, as reclamações públicas também começaram. Associações ligadas a produtores de soja alegam que o país irá perder espaço com a cobrança adicional e que o Brasil poderá ser favorecido com a medida. Produtores disseram estar frustrados com as ações protecionistas de Trump.
As preocupações acontecem justamente no momento em que os Estados Unidos projetam déficit de US$ 45,5 bilhões na balança comercial do agronegócio no ano fiscal de 2025 (que vai de outubro de 2024 a setembro de 2025).
A expectativa agora é entender quais serão os próximos setores a demonstrar contrariedade com as medidas adotadas pelo país contra os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos.