Depois do impacto do anúncio da fusão entre Arezzo &Co e Grupo Soma, operação antecipada pelo NeoFeed, os analistas começaram a olhar com lupa para as duas empresas, para entender o que será desta nova companhia, que à primeira vista será uma house of brands de 34 marcas, quase 22 mil funcionários e um faturamento superior a R$ 12 bilhões.

Um dos pontos que todos querem saber é o potencial de sinergia entre as duas empresas. Na coletiva que fizeram para detalhar a fusão, em 5 de fevereiro, os executivos preferiram não cravar um número.

Mas os analistas da XP Investimentos, que atuou como assessor financeiro da fusão, fizeram cálculos e chegaram à conclusão de que, no cenário considerado base, o mais provável, é de R$ 2 bilhões.

O valor fica distante dos R$ 4,5 bilhões especulados pelo mercado na época do negócio, um número que não foi "comprado" por muitos investidores. A XP traçou também dois outros. O otimista considera que as sinergias podem chegar até R$ 4,3 bilhões. O pessimista traz um número de R$ 1 bilhão.

“De acordo com as nossas estimativas, as sinergias podem atingir até R$ 4,3 bilhões, mas não incorporamos todo esse potencial, pois esperamos que parte desses ganhos sejam investidos no negócio, através de medidas para aumentar a competitividade, maiores investimentos e outros itens”, diz trecho do relatório escrito pelos analistas Danniela Eiger, Gustavo Senday e Laryssa Sumer. “Ainda há pouca visibilidade sobre o verdadeiro potencial de cada alavanca e existem riscos de execução.”

Considerando o cenário base para sinergias e os efeitos do acordo, os analistas da XP mantiveram a recomendação de compra para as ações da Arezzo e do Soma, com preços-alvo de R$ 90 e R$ 11, respectivamente.

No mapa que traçaram para entender de onde podem ser capturadas sinergias, os analistas da XP destacaram cinco frentes potenciais. A primeira delas é na integração da cadeia de fornecimento, ponto que permite a expansão das categorias das diferentes marcas. O relatório destaca que a Arezzo conseguiu isso com a Reserva, ao desenvolver a linha de calçados, que representa atualmente 30% das vendas da marca.

Para os analistas, a Farm deve ser a marca que mais deve se beneficiar desta frente, tanto no Brasil quanto no exterior. “Nosso cenário base para esta alavanca assume um potencial de aumento de 20% para a Farm, no Brasil e no mundo, a ser capturado em dois anos”, diz um trecho do relatório.

A expertise da Arezzo na operação de franquias é outra alavanca para sinergias, especialmente para a Hering, adquirida pelo Soma em 2021. Os analistas da XP calculam que esta frente pode resultar em um aumento de vendas em torno de 20% nos cinco anos seguintes à conclusão da fusão, embora ressaltem que se trata de um tema altamente complexo.

Se na parte de franquias para a Hering a captura de sinergia é considerada mais complexa, o fato de a marca catarinense ter um amplo parque fabril é considerado um ponto positivo, ao poder ser utilizado para os produtos da Reserva, com ganhos já no curto prazo.

Os analistas destacam ainda que a escala da nova companhia deve permitir ganhos nas negociações de aluguéis de loja e nos serviços de transportes e com a otimização das despesas gerais e administrativas.

Eles veem ainda o potencial de sinergias fiscais, com espaço para aumento do pagamento de juros sobre capital próprio (JCP) com a incorporação da participação dos acionistas do Soma. Isso dependerá do nível de payout.

A grande questão para a captura das sinergias nestas cinco frentes passa principalmente pela execução. Os analistas destacam que a empresa vai ganhar complexidade, considerando seu tamanho, ainda que a Arezzo tenha experiência com M&As.

Outro ponto sensível é o risco de canibalização. Embora visto como baixo, ele pode ocorrer caso as marcas decidam competir em áreas parecidas, como NV e Animale na parte de calçados, o que geraria riscos para Schutz e Vicenza.

A situação é mais evidente na parte de roupas masculinas, em que a linha Simples da Reserva busca atender o mesmo público que compra produtos da Hering.

Por volta das 12h25, as ações da Arezzo caíam 1,21%, a R$ 57,92. No ano, elas acumulam baixa de 10,2%, levando o valor de mercado a R$ 6,4 bilhões. Os papéis do Soma recuavam 0,43%, a R$ 6,93, acumulando queda de 7% no ano e levando o valor de mercado para R$ 5,4 bilhões.