A XP Investimentos aproveitou o processo de desestatização da Eletrobras, em 2022, para dar um “gás” num instrumento que ficou esquecido praticamente por uma década: os Fundos Mútuos de Privatização (FMP), que permite à utilização de parte dos recursos do FGTS para investir em estatais em processos de privatização.
Aproveitando o fluxo de dinheiro que a operação atraiu, a empresa decidiu ir além e lançar dois fundos FMP de carteira livre no final de 2022. A ideia era dar aos investidores opções com rentabilidade superior ao instrumento original, que investe de forma passiva nos papéis das estatais que estão sendo vendidas, além de ter ganhos com taxas de administração.
Pouco mais de um ano após a privatização, a XP colhe os resultados da iniciativa e lidera a captação entre os FMPs de carteira livre. No ano passado, esses fundos bateram R$ 1 bilhão sob custódia. E a XP vê espaço para crescer ainda mais esse montante, atraindo mais recursos para esses dois novos fundos, não apenas de Eletrobras, como também de Vale e Petrobras.
“De todos os recursos que existem em fundos FMPs, apenas 10% está alocado em fundos de carteira livre”, diz José Tibães, head de produtos de fundos de investimentos da XP, ao NeoFeed. “Tem mais de R$ 10 bilhões no mercado disponíveis para fazer a migração.”
Previstos desde o final de 1990, os FMPs foram primeiro utilizados em 2000, na ocasião da capitalização da Petrobras, e novamente em 2002, na terceira etapa do programa de privatização da Vale. Dos cerca de 100 FMPs criados desde 2000, apenas 16% são da modalidade carteira livre, enquanto o restante abriga apenas as ações das empresas privatizadas.
Os FMPs voltaram à pauta com a privatização da Eletrobras, ocorrida em junho de 2022, num follow on que movimentou cerca de R$ 33,7 bilhões. Foi quando a XP, uma das instituições coordenadoras dessa operação, começou a olhar para esses fundos.
Com base na regulação dos FMPs, que permite que depois de seis meses as pessoas migrem os recursos alocados no fundo original para veículos com gestão ativa, a XP decidiu ir além e criar dois novos fundos de gestão ativa, visando atrair os recursos aportados via FGTS na privatização da Eletrobras, cerca de R$ 6 bilhões.
Em novembro de 2022, a XP anunciou a chegada do XP Investor FMP, um fundo que replica a estratégia do fundo de ações XP Investor, e do XP Investor Balanceado. Ele investe 51% dos recursos em ações diversas e o restante em LFTs, títulos do Tesouro pós-fixados. A XP também fechou uma parceria com a gestora Encore, que lançou um fundo de renda variável.
“Quando criamos esses fundos de carteira livre, essa possibilidade já existia, não foi uma inovação, mas era um negócio pouco difundido, considerando a pouca comunicação e educação financeira da época”, diz Tibães.
Segundo ele, a possibilidade de maior rentabilidade desses fundos comparada com o FMP com apenas as ações da Eletrobras acabou tendo adesão da base da XP, levando à captação bilionária.
Enquanto o FMP criado para captar os recursos do FGTS teve uma rentabilidade de 1,21% no ano passado, segundo levantamento elaborado pela consultoria Elos Ayta em parceria com a Mais Retorno, o XP Investor FMP rendeu 26,21% em 2023 e o XP Investor Balanceado teve um retorno de 18,90%. O fundo da Encore, lançado em agosto de 2023, registra uma rentabilidade desde o início de 8,49%.
Com a chegada a R$ 1 bilhão sob custódia em janeiro, a XP se tornou líder na captação dessa estratégia em 2023, sendo responsável por 62% dos recursos que vieram para esta modalidade, de acordo com dados da Quantum Axis.
Diante dos resultados da experiência com FMPs de carteira livre, a XP quer avançar com a tese das carteiras livres, atraindo cada vez mais os recursos de FGTS de pessoas que investiram em Eletrobras, Vale e Petrobras. Dentro da XP, Tibães diz que ainda tem R$ 900 milhões no FMP montado para a privatização da Eletrobras.
“Olhando para este ano, final de 2024, vejo que tem oportunidade de esses 10% em carteira livre se tornarem mais expressivos”, afirma.
Para a XP, o aumento da custódia também representa mais uma fonte de ganho. A taxa de administração do XP Investor FMP é de 2% de taxa de administração, sem taxa de performance, e o do FMP Balanceado é de 1,5%. Já o FMP Eletrobras tem 0,2% de taxa de administração, sem taxa de performance.
Sobre os processos de privatização que vêm por aí, sendo o da Sabesp o mais avançado, e possíveis novos FMPs, Tibães diz que a XP ainda não tem uma leitura clara sobre o cenário de novas operações, não tendo no momento nenhum outro produto à vista.
“Até dá para montar [novos FMPs], dependendo da estrutura da oferta, mas não temos muita leitura do que vem por aí, se vai acontecer algum outro produtos nessa linha”, afirma.