O investimento da C&A na reforma de lojas cresceu 203% no primeiro trimestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. E, neste ano, estão programadas 20 reinaugurações.
O motivo para acelerar esse processo está nos resultados que a rede varejista de moda vem colhendo com essa estratégia: as lojas reformadas crescem, em média, dois dígitos acima do crescimento da C&A. A estimativa do BTG Pactual é que cerca de 23% da base - 75 lojas - entregou uma margem superior a dois dígitos.
A venda por metro quadrado da companhia, na parte de vestuário, chegou a R$ 2,2 mil nos primeiros três meses de 2025, uma melhora em relação aos R$ 1,9 mil/m² do primeiro trimestre do ano passado e aos R$ 1,6 mil/m² do ano anterior. É uma taxa de crescimento anual composto (CARG) de 19,1%.
“Tínhamos um gap de mais ou menos 35% em relação ao principal concorrente na venda por metro quadrado em 2023. A cada ano nos propusemos a fechar esse gap”, diz Paulo Correa, CEO da C&A, em entrevista ao NeoFeed. “Até o fim de 2026 vamos estar no mesmo patamar. Já capturamos alguma coisa em torno de 40%, 45% do potencial dessa estratégia.”
A principal concorrente é a Lojas Renner, que nesse quesito de produtividade por loja se mantém um patamar acima. No primeiro trimestre deste ano, a rede liderada por Fabio Faccio manteve sua vantagem competitiva sobre os concorrentes com uma receita por metro quadrado de R$ 3,4 mil.
“O grande foco que nós temos é o de melhorar a venda por metro quadrado. Isso continua sendo o nosso assunto número um e vai continuar sendo ao longo de 2025”, diz Correa.
Na estimativa do Itaú BBA, a C&A reduziu a lacuna de produtividade em relação à Lojas Renner de 47% no primeiro trimestre de 2024 para 38% neste ano.
“Um exercício simples mostra que a C&A poderia dobrar sua venda por metro quadrado se estreitasse completamente sua lacuna de produtividade em relação à Lojas Renner. Claro que isso não acontece do dia para a noite, mas não vemos razão estrutural pela qual isso não poderia acontecer nos próximos anos”, escreveram os analistas de consumo do BBA liderados por Rodrigo Gastim.
Para o CEO da C&A, a maneira de estreitar essa diferença está na experiência do cliente na loja. Isso significa desde aprimorar o sortimento e a apresentação dos produtos até ter uma operação mais ágil e com um abastecimento mais assertivo das peças, além de atender à expectativa de agilizar o pagamento.
No cálculo da C&A, mais de 200 lojas (de um total de 332) já foram impactadas por algum tipo de melhoria na apresentação do sortimento em várias categorias de produtos diferentes. Um exemplo foi a valorização da categoria beleza, que cresceu 70% trimestre a trimestre, na comparação anual.
“Estamos impressionados com os investimentos estratégicos na cadeia de suprimentos da C&A, com o modelo push & pull mais a automação, e foco no desenvolvimento de produtos. Essa combinação impulsionou seu desempenho e é essencial para competir com plataformas internacionais e concorrentes locais”, escreveram os analistas do BTG Pactual Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Pedro Lima.
A combinação desses fatores passa pela reforma das lojas. No ano passado, foram feitas nove reformas para o novo conceito pensado pela companhia. As lojas foram reinauguradas e categorias fortes, como o jeans, ganharam uma experiência diferenciada.
Os espaços que não entraram ainda nessa lista fazem parte do chamado projeto Dispersão, que busca levar as experiências que deram certo com essas reinaugurações para lojas que precisam melhorar o desempenho.
“Temos ouvido muito de clientes a seguinte frase: ‘a C&A está diferente’. Isso está sendo um carimbo de que realmente tem uma transformação importante acontecendo”, diz Correa.
Na prancheta do CEO há uma possibilidade de inauguração de até 10 lojas neste ano, mas a decisão vai depender da combinação entre bons pontos e oportunidades.
O que está com o “martelo batido” é a um novo conceito de loja, mais disruptivo, segundo o CEO, que será inaugurado no segundo semestre - o local ele quer manter em segredo para “não alertar a concorrência”.
Cautela local, otimismo internacional
Em meados de maio, Correa esteve em Nova York para participar da tradicional Brazilian Week. Ele voltou impressionado com o interesse que ele chamou de genuíno dos investidores estrangeiros pelo Brasil. Segundo o executivo, foi algo que ele não esperava encontrar, nem via acontecer há tempos.
"De repente, há um certo otimismo crescente com o Brasil”, diz ele. "Com as ações locais muito descontadas já há algum tempo, tem uma oportunidade concreta para investidores internacionais.”
Apesar desse otimismo, Correa reconhece desafios. A questão tributária com produtos cross-border ainda não está totalmente resolvida - "o que os cross-borders pagam em termos de impostos é praticamente a metade do que os locais pagam".
O mercado de trabalho aquecido vem sustentando o consumo, o que vem sendo positivo para a economia. Mas a taxa de juros alta permanece como a espada de Dâmocles sobre o consumo.
“A C&A continua melhorando a produtividade e a margem bruta, mas a nossa principal preocupação está no segundo semestre com comparações mais difíceis e restrições de crédito”, diz João Pedro Soares, analista do Citi. Para o segundo semestre, o CEO mantém cautela. "Temos confiança de que vamos ter um bom segundo semestre".
Com valorização de 135,5% no ano, a ação CEAB3 subiu 31,1% somente em maio. O valor de mercado da companhia é de R$ 5,4 bilhões.