A novela em torno do controle do grupo Toky, dona da Mobly e Tok&Stok, chega à Justiça e órgãos de controle. Nesta terça-feira, 22 de abril, o Conselho de Administração da companhia autorizou o envio de série de documentos ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que mostram um suposto conluio entre a família Dubrule, fundadora da Tok&Stok, e a Home24, controladora da Mobly.

Pela manhã, a empresa já havia divulgado fato relevante indicando providências tomadas para apurar as possíveis irregularidades descobertas. No documento enviado à CVM, a diretoria executiva da Toky apresenta trocas de mensagens entre a família Dubrule e representantes da alemã XXXLutz, controladora da Home24.

Nos materiais, nos quais o NeoFeed teve acesso, a família já teria realizado pagamentos de 5 milhões de euros à empresa, fora do Brasil, sem que isso fosse comunicado aos demais acionistas e reportado ao mercado.

Com 44,3% de participação acionária na Mobly, a Home24 tem dois dos sete assentos do Conselho de Administração. Na decisão pelo envio dos documentos ao Cade, os representantes da acionista se abstiveram na votação. Sempre que questionados, segundo o material recolhido pela companhia, os representantes da Home24 negaram qualquer relação com a família Dubrule.

Pelo documento, a transação que asseguraria a volta do controle da companhia aos fundadores foi sacramentada no dia 13 de novembro de 2024, quase cinco meses antes do pedido de Oferta Pública de Ações (OPA), protocolado na semana passada.

As conversas entre as partes, ainda segundo o material enviado ao Cade, tiveram início em outubro do ano passado. No dia 15 daquele mês, foi assinado um acordo entre a família e a controladora da Home24. O ponto de contato para tratar do negócio foi Regis Dubrule, que fundou com sua esposa Ghislaine, em 1978, a Tok&Stok, e Bertrand Lefort, representando a XXXLutz.

À época, foi assinado um acordo de confidencialidade e de exclusividade, aceitando a venda das ações para a família Dubrule. Em 11 de novembro, o irmão de Regis, Paul Dubrule, autoriza o envio de 5 milhões de euros para o pagamento à Home24. O e-mail com a autorização está no documento que foi mandado para CVM e Cade.

Outro e-mail, datado de 8 de dezembro de 2024, mostra que Dubrule comenta de uma reunião com o dono da XXXLutz, quando falam que havia um risco de os credores pedirem antecipação imediata de debêntures. E deixa claro que já havia sido pago um valor no exterior.

Na visão da Toky, essas transações deveriam ter sido comunicadas ao mercado. E é justamente essa omissão do pagamento antecipado de prêmio que a diretoria da companhia quer que seja investigada.

A ação visa a impedir que seja realizada reunião em 30 de abril, que irá analisar a OPA, a R$ 0,68 por ação, o que significaria uma desvalorização de cerca de 50% dos papéis. Os documentos também foram encaminhados à Justiça comum e ao Ministério Público Federal.

No dia 29 de abril também está marcada reunião para, em tese, derrubar o posion pill, o que, na prática, garantiria a retomada do controle da empresa pelos fundadores, praticando um valor bem abaixo do mercado para aquisição dos papeis de acionistas minoritários. A intenção, ainda segundo a diretoria, era que a empresa fechasse o capital e ainda tentasse entrar com pedido de Recuperação Judicial (RJ) de uma das duas empresas.

Fonte ouvida pelo NeoFeed afirma que o caso pode ser enquadrado como crime financeiro. “Em 30 anos de atuação nessa área de M&As, nunca vi algo parecido, e que pode prejudicar muito os demais acionistas”, afirmou. “Se o controlador decide vender sua participação por metade do valor, ou a companhia tem algum problema ou ele está recebendo algo a mais por fora.”

Em nota enviada ao NeoFeed, a família Dubrule nega qualquer irregularidade. “Tudo o que temos a dizer no momento é que nossa OPA está obviamente mantida. A família Dubrule lamenta a campanha infundada, desesperada e sem quaisquer limites éticos movida pela administração da Toky.”

As ações da Mobly na B3 fecharam em alta de 10,58% nesta terça-feira. No acumulado do ano, os papeis da companhia tiveram desvalorização de 23,33%. A Mobly está avaliada em R$ 141,8 milhões.