Em busca de uma saída para a crise financeira que se meteu, a varejista francesa Casino, comandada por Jean-Charles Naouri, está em uma encruzilhada.

Por um lado, o todo-poderoso empresário francês tem em suas mãos duas propostas de capitalização que podem aliviar sua situação financeira. Por outro, ele vê os investidores reagirem negativamente às ofertas, diante da diluição que ambas provocam em suas participações.

O resultado é que as ações da companhia registram forte queda nesta quarta-feira, dia 5 de julho. Por volta das 12h07, as ações do Casino registravam queda de 33,6% em Paris, a € 3,03. No ano, elas acumulam queda de 70%, levando o valor de mercado da companhia para € 609,7 milhões.

Na terça-feira, dia 4 julho, a companhia anunciou ter recebido duas propostas para “fortalecer o patrimônio líquido”.

Uma delas é de um consórcio formado pela EP Global Commerce, veículo de investimento do bilionário tcheco Daniel Kretinsky, segundo maior acionista do grupo, e pela holding Fimalac, do empresário francês Marc Ladreit de Lacharriere.

A outra é da 3F Holding, formada pelo empresário de telecomunicações francês Xavier Niel, o empresário de varejo de alimentos Moez-Alexandre Zouari e o banqueiro de investimentos Matthieu Pigasse.

Segundo apresentação feita pelo Casino a respeito das duas ofertas, a primeira totaliza € 1,35 bilhão, com os dois investidores prometendo injetar € 860 milhões, enquanto € 290 milhões viriam de credores de dívidas não garantidas e € 200 milhões seriam aportados pelos acionistas.

A segunda proposta prevê uma injeção de € 900 milhões, com metade em capital e o restante em dívida a ser emitida.

Em ambos os casos, segundo o Casino, os atuais acionistas serão “massivamente diluídos”, entre eles o Rallye de Naouri, que detém 51,7% do capital social da varejista, sendo que 61% são de ações com direito a voto.

A possibilidade de diluição é consequência do momento vivido pelo Casino, que registra um endividamento elevado, de € 6,4 bilhões, e enfrenta um momento operacional desafiador.

A empresa fechou 2022 com um prejuízo de € 316 milhões, uma redução de 40,9% em relação à perda de 2021. Já o prejuízo antes da incidência de tributos passou de € 283 milhões para € 334 milhões.

Para lidar com a difícil situação, além de considerar uma capitalização e de se engajar voluntariamente dentro de um processo jurídico chamado procedure de conciliation, a companhia vai buscando recursos de todos os lados, saindo de ativos considerados não essenciais.

Neste sentido, a companhia vem arrecadando recursos através de seus ativos brasileiros. Em março, o Casino levantou cerca de R$ 4 bilhões com o follow on do Assaí, medida que resultou na redução de sua participação na companhia de 30% para 11,7%.

Três meses depois, em junho, vendeu o restante que detinha na rede de atacarejo via uma operação de block trade, que ficou em torno de R$ 2,1 bilhões.

Agora, pouco mais de dez anos após ter assumido o controle do Grupo Pão de Açúcar (GPA), depois de uma dura batalha com o empresário Abilio Diniz, o Casino pretende vender participação na varejista brasileira, em que detém 40,9% das ações ordinárias.

Outro ativo do qual deve se desfazer é a rede de supermercados da Colômbia Éxito, nas mãos do GPA. O ativo já recebeu uma proposta, do empresário colombiano Jaime Gilinski, de R$ 4 bilhões, prontamente rejeitada pela companhia, por ter sido considerada muito baixa.