Quando Roberto Fulcherberguer assumiu a Via Varejo, em junho de 2019, com a missão de colocá-la de volta ao jogo pela liderança do setor de varejo, ele se concentrou em transformar a empresa digitalmente, estreitar a relação com os funcionários que estão com a barriga no balcão, refinanciar as dívidas e levantar capital.
Em pouco tempo, mesmo com o estouro da pandemia, ele conseguiu avançar nessa agenda. Agora dá um enorme impulso para se posicionar em outro jogo: o dos marketplaces. Para isso, a Via Varejo acaba de comprar a empresa paulistana i9XP, uma produtora de software para o varejo. O valor da transação não foi revelado.
“Vamos trazer 120 desenvolvedores para a nossa operação. Eles vão mergulhar no nosso marketplace”, diz Roberto Fulcherberguer, CEO da Via Varejo, ao NeoFeed. E o principal objetivo é fazer com que eles trabalhem para aperfeiçoar o processo de onboarding dos sellers que pretendem entrar na plataforma.
Atualmente, a empresa conta com 8 mil sellers no marketplace e tem uma lista de espera de 7 mil sellers para entrar na plataforma. Só que o processo ainda é lento. Antes, entravam cerca de 100 por mês e, neste último trimestre, o processo foi aperfeiçoado. “Agora estamos colocando entre 600 a 1 mil sellers para dentro”, diz Fulcherberguer.
Mesmo assim, ainda envolve muitas etapas manuais e a demora para aprovar um novo lojista na plataforma varia entre 5 dias e 15 dias. “Com a chegada do pessoal da i9XP vamos queimar etapas e, em breve, fazer o onboarding em tempo real”, afirma o executivo.
No segundo trimestre deste ano, o marketplace movimentou R$ 900 milhões – 18% do online da rede – e, com o impulso na questão tecnológica, Fulcherberguer enxerga espaço para destravar o que ele chama de todo o “potencial de omnicanalidade” da Via Varejo.
Os próximos passos incluem fazer a logística para o marketplace. “Hoje, os sellers usam vários parceiros logísticos, mas nenhum consegue executar essa logística por um preço mais barato do que o nosso. Temos volume e a malha logística no Brasil inteiro”, afirma.
A ideia é oferecer esse serviço a partir do primeiro trimestre de 2021. “A minha vantagem é que, enquanto os concorrentes estão investindo na logística, já tenho a área bem posicionada”, diz Fulcherberguer. O que faltava eram mais camadas tecnológicas para conectar as pontas.
A empresa conta com 1 milhão de metros quadrados em Centros de Distribuição e tem usado 500, das suas 1071 lojas, como mini hubs de distribuição para fazer a chamada última milha do ecommerce.
Além disso, a companhia adquiriu no início do ano a ASAP log. “Em pouco tempo, ela se tornou a transportadora mais relevante que temos na última milha e estamos crescendo de maneira muito acelerada”, diz ele.
O segundo passo nessa estratégia desenhada pela empresa inclui a integração do crediário digital para financiar os produtos vendidos no marketplace. “Só a gente vai ter isso. Ninguém relevante conta com esse produto”, diz Fulcherberguer.
O crediário online deverá estar conectado ao marketplace entre o primeiro e segundo trimestre de 2021. No segundo trimestre deste ano, a carteira de crédito da Via Varejo era de cerca de R$ 3,5 bilhões. “Hoje, temos R$ 10 bilhões de crediário pré-aprovados para nossos clientes”, diz Fulcherberguer.
A Via Varejo pretende manter o centro tecnológico da i9XP bo bairro paulistano de Moema, onde a empresa está localizada. Os 120 profissionais somam aos outros 1,2 mil funcionários da área tecnológica da dona de Casas Bahia e Ponto Frio.
A i9XP, entretanto, deixará de atender outros varejistas e passará a trabalhar exclusivamente para a Via Varejo. A compra faz com que a empresa comandada por Fulcherberguer ganhe tempo na corrida tecnológica.
Essa é a terceira aquisição da Via Varejo, que levou para casa a ASAP Log, em abril, e concluiu a compra da banQi, em maio. Cada uma tem acelerado o processo de expansão da empresa. “A compra da ASAP Log, por exemplo, representou um ganho de desenvolvimento de um ano e meio para a companhia”, diz Fulcherberguer.
No segundo trimestre a empresa contava com um caixa de cerca de R$ 7 bilhões e a companhia deve partir para outras aquisições. “Dá para se divertir um pouquinho”, diz Fulcherberguer. O executivo afirma que continua de olho em oportunidades de mercado, como a i9XP.
Disputa ferrenha
A disputa é cada vez maior e não envolve apenas os varejistas tradicionais. O Banco Inter, por exemplo, está pisando fundo no seu marketplace, que deve movimentar R$ 3 bilhões em 2021, e está de olho em aquisições para dar mais tração ao negócio.
A Magazine Luiza, que conta com cerca de 30 mil sellers, saiu às compras desde o início deste ano. Com um reforçado caixa de R$ 5,8 bilhões, adquiriu uma empresa atrás da outra.
A varejista da família Trajano incorporou companhias como Estante Virtual, Hubsales, Canaltech, inLoco Media, Stoq, AiQFome, GFL Logística e Sinq Log. E, a julgar pelas declarações do CEO Frederico Trajano, mais aquisições virão pela frente.
“Nós olhamos qualquer área, desde novas categorias, superapps, entrega mais rápida, crescimento exponencial do marketplace e dos serviços ofertados aos sellers”, afirmou Trajano, durante a teleconferência do segundo trimestre. “Não temos preconceito. Nosso espectro é amplo e, por isso, não se surpreendam com nada.”
O Mercado Livre, que conta com uma base de 11 milhões de sellers e anunciou recentemente o plano de investir R$ 4 bilhões em logística, comprou recentemente a Kangu, startup voltada para a última milha do ecommerce. A B2W, com 69,8 mil sellers, por sua vez, movimentou R$ 4,1 bilhões no segundo trimestre de 2020 – o que representa 61% de seu GMV.
Sobre essas movimentações e a disputa no varejo, Fulcherberguer vai direto ao ponto. “Não vejo um único vencedor. O mercado brasileiro é bastante diverso e grande. O que vejo é a Via Varejo extremamente bem posicionada, com destaque no ecossistema do varejo brasileiro”, diz ele.
“Temos ativos que muitos sonham em ter e estamos acelerando a transformação digital para, cada vez mais, dar produtividade para esses ativos e colocando mais ativos para dentro”, diz Fulcherberguer.
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