Poucas disputas corporativas foram tão intensas quanto a que mobilizou o francês Jean-Charles Naouri e Abilio Diniz.  Os dois protagonizaram uma batalha pública pelo Pão de Açúcar que durou de 2011 a 2013.

De um lado, Diniz tentou unir o Pão de Açúcar ao Carrefour global em meados 2011, em um movimento que foi entendido por Naouri, na época seu sócio e controlador do Casino, como uma forma de evitar que ele assumisse a rede brasileira.

Naouri venceu. Evitou a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour e assumiu o Pão de Açúcar em junho de 2012. Diniz, em setembro de 2013, vendeu suas ações e deixou a empresa fundada por seu pai, Valentim dos Santos Diniz, em 1948.

Mais de 10 anos depois de assumir o Pão de Açúcar, quem está batendo em retirada, dessa vez, é Naouri. Nesta sexta-feira, 28 de julho, o Casino, anunciou que fechou um acordo com credores para a reestruturação de sua dívida de 6,1 bilhões de euros.

Na prática, Naouri deve perder o controle do grupo para o bilionário tcheco Daniel Kretinsky, através da EP Global Commerce, em parceria com a Fimalac, holding de investimento francesa, e com a gestora de private equity britânica Attestor Capital. O consórcio passará a deter 53% do capital da rede varejista francesa.

A proposta de reestruturação prevê uma injeção de capital de 1,2 bilhão de euros em novas ações. Desse total, 925 milhões de euros serão subscritos pelo consórcio liderado por Kretinsky. O valor restante será aportado por outros credores. A dívida deve cair para US$ 3,2 bilhões.

Com isso, Naouri, que controlava o Casino através de sua holding Rallye, vê seu império ruir. Quando assumiu o Pão de Açúcar, ele herdou uma empresa com a Via, dona das marcas Casas Bahia e do Ponto, e contava com a rede de atacarejo Assaí.

Os problemas crescentes do Casino fizeram com que Naouri fosse, pouco a pouco, vendendo ativos. O primeiro deles foi a Via. Recentemente se desfez de toda sua participação no Assaí.

Neste ano, o Casino informou ao mercado que analisava vender sua participação de 40,9% no Pão de Açúcar – o que abriu especulações de que Diniz poderia ser um comprador. Está vendendo também a Êxito, rede de supermercados colombiana que controla.

Os novos controladores, agora, querem evitar a venda desses dois ativos sem que os acordos passem por seu crivo. Isso só poderá acontecer se as ofertas ao GPA e a Êxito forem em dinheiro e ofereçam um desconto de 5% em relação ao valor de mercado.

Ao mesmo tempo que Naouri foi perdendo força, Diniz foi, pouco a pouco, se reinventando. Embora não tenha conseguido unir o Pão de Açúcar ao Carrefour como inicialmente desejava, o empresário brasileiro se tornou um acionista relevante da rede varejista francesa.

Hoje, Diniz, por meio da Península Participações, é dono de 7,3% do Carrefour Brasil e 8,4% do capital da rede varejista na França. Lá fora, sua participação só é menor do que a da família Moulin, detentora de 13,7% do capital do Carrefour.

Naouri, como mostra a história, ganhou a batalha lá atrás, mas, ao deixar o ego falar mais alto na disputa com Diniz, acabou perdendo a chance de criar uma gigante do varejo que poderia globalmente fazer frente às grandes redes americanas. E, claro, perdeu alguns bilhões de euros.