O CEO da Americanas, Leonardo Coelho, anunciou na segunda-feira, 26 de fevereiro, durante teleconferência para apresentar os resultados do terceiro trimestre de 2023, que o plano de recuperação judicial da varejista, aprovado no final do ano passado em Assembleia Geral de Credores (AGC), foi validado pela Justiça Federal do Rio de Janeiro.
Com isso, a empresa espera a publicação da homologação por parte da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro para dar início ao plano de ação em três etapas, entre 1º de março e 15 de abril, pelo qual a Americanas se compromete a pagar os credores, além de convocar uma Assembleia Geral para discutir um aumento de capital e a reestruturação da empresa.
Na teleconferência, Coelho tentou passar uma imagem de otimismo em relação ao futuro, em meio aos efeitos do rombo contábil de mais de R$ 20 bilhões da empresa, que veio à tona em janeiro do ano passado.
Segundo ele, a empresa gastou muita energia para lidar com as investigações internas da fraude e o processo de recuperação judicial. Os objetivos prioritários, desde o estouro do escândalo, foram estancar a crise ao longo de 2023, buscar fórmulas para voltar a gerar caixa operacional e criar novas formas de crescimento.
“A partir do segundo semestre de 2024, a atenção do grupo passa a ficar focada exclusivamente na operação do negócio”, disse o CEO, afirmando que a dívida bruta após aportes de capital e reestruturação pós recuperação judicial deverá ficar em R$ 1,875 bilhão, que será coberta com a emissão de debêntures. “A partir de 2025 pretendemos gerar lucro com a operação”, projeta.
Horas antes, após adiamentos, a Americanas reportou receita de R$ 10,293 bilhões no terceiro trimestre de 2023, que teve queda de 45% nos nove primeiros meses do ano passado em relação ao mesmo período de 2022. O prejuízo líquido da Americanas foi de R$ 12,9 bilhões.
Queda digital
O encolhimento das receitas dos canais digitais da companhia (-79,2% no terceiro trimestre de 2023 ante o mesmo período de 2022) reforçou a queda de confiança da varejista diante dos clientes, admitiu Coelho.
“Nosso canal digital sofreu muito mais que o físico, pois por meio desse canal o cliente passa numa loja, pega um produto na prateleira e leva para casa”, disse, ao citar a diferença entre a queda de quase 80% de receita nos canais digitais com a de 18,8% das lojas físicas.
“No digital, a dificuldade vem primeiro do vendedor, que tem dúvida se vai receber ou não, e do próprio cliente, que hesita em fazer compra online de uma empresa em recuperação judicial”, acrescentou o CEO.
Coelho disse que a Americanas continua atuando na reestruturação do canal digital, com perspectiva de atingir o breakeven no fim do primeiro semestre de 2025.
Quanto às lojas físicas, o foco é analisar as lojas que não podem se recuperar antes de fechar e tentar entender a performance de unidades acima de 1.500 metros quadrados. Nos três primeiros trimestres de 2023, a Americanas fechou 99 lojas físicas no País, encerrando setembro com 1.764 unidades.
“Nosso novo modelo de loja não pode fugir da proposta de valor do cliente”, advertiu, citando esse público como pessoas de ambos os sexos das classes B e C e com idade acima de 18 anos.
Em relação ao plano de recuperação judicial, Coelho disse que a estratégia de ação de três etapas da Americanas deverá ter início entre quarta e quinta-feira, dependendo da publicação da homologação pela Justiça.
Finalizado no final de 2023, o plano foi aprovado em Assembleia Geral de Credores (AGC) por mais de 97% dos créditos em valores e mais de 91% em quantidade de credores.
Na primeira etapa, estendendo-se até 15 de março, a varejista prevê o recebimento de termos de adesão dos chamados credores fornecedores colaboradores, que inclui credores de até R$ 12 mil e credores com saldo acima desse valor mas que aceitem receber apenas R$ 12 mil.
A segunda etapa, prevista para ocorrer até 1º de abril, inclui novos desembolsos dos recursos destinados aos credores de Classe I e IV (remanescente) e recebimento de termos de adesão de demais fornecedores, e credores com valores retidos.
A última etapa, até 15 de abril, terá desembolso dos recursos aos credores fornecedores de tecnologia, além de convocação da Assembleia Geral para discutir aumento de capital e a reestruturação da empresa.
“Falta muito para o reequilíbrio planejado para dezembro de 2025, mas estamos onde deveríamos estar”, disse Coelho. “Não dá para fazer cavalo de pau em transatlântico, precisamos recuperar a confiança e voltar a gerar lucro”.
Com queda de 48,5% em 12 meses, a ação da Americanas estava em alta de 1,9%, aos R$ 0,53, às 14h30 de segunda-feira, 26 de fevereiro. Em 2024, o papel cai 41,75%. O valor de mercado é de R$ 478,3 milhões.