No primeiro balanço de resultados após a aprovação da incorporação da holding Natura&Co à Natura Cosméticos, a companhia começa a dar sinais de recuperação financeira a partir da simplificação operacional na América Latina, mas ainda vê desafios grandes, principalmente em relação ao endividamento.

No primeiro trimestre de 2025, a Natura reportou queda de 83,9% no prejuízo líquido, com R$ 150,7 milhões, contra R$ 935,1 milhões registrados nos três primeiros meses de 2024. A receita líquida alcançou R$ 6,6 bilhões, alta de 45,8% sobre o mesmo período do ano passado.

“Temos muita confiança nesta próxima fase, em que a gente volta para nossas origens, com expansão a partir da nossa fortaleza, que é a América Latina”, disse João Paulo Fonseca, CEO da Natura, em entrevista coletiva nesta terça-feira, 13 de maio. “Voltamos às nossas raízes do ponto de vista empresarial.”

A "volta às origens" citada pelo executivo está conectada ao resultado do grupo na América Latina, que garantiu o crescimento financeiro da empresa nos primeiros meses do ano. Do faturamento total, 79% (R$ 5,3 bilhões) vieram da receita da companhia na América Latina. O restante (R$ 1,3 bilhão) corresponde ao resultado da Avon Internacional.

Fonseca afirmou que, ainda em 2025, a empresa encerra o processo de sinergia na logística e área comercial entre Natura e Avon na América Latina, a chamada Onda 2. No segundo trimestre, a companhia avança na integração no México e, no terceiro trimestre, na Argentina.

O mercado reagiu bem aos números da Natura divulgados nesta terça-feira. Por volta de 14h, as ações na B3 operavam em alta de 6,4%. No entanto, no acumulado de 2025, o índice é de queda, com desvalorização acumulada de 19,9%. A companhia está avaliada em R$ 13,9 bilhões.

Ainda que a empresa já tenha anunciado ao mercado a intenção de realizar o desinvestimento da marca Avon Internacional, justamente para focar a atenção nos mercado latino-americano, o CEO da companhia afirmou que ainda não há prazo para esse processo ser efetivado.

“Tomamos a decisão estratégia de separar os ativos e isso está confirmado. Há muitas equipes trabalhando em como iremos fazer isso. Essa intenção segue ativa. Mas ainda não temos esse prazo.”

Enquanto não há uma batida de martelo sobre o caminho exato da operação, o principal desafio na Avon Internacional é em reduzir o consumo de caixa. “Vamos reduzir esse volume nesse ano e, eventualmente, eliminá-lo a longo prazo”, diz Fonseca.

“Essa reestruturação está em curso e passa pela redução de 1.100 pessoas. Várias dessas etapas terão pico no segundo e terceiro trimestres. Vamos reduzir, mas sem o potencial de zerar ainda em 2025”, afirma Silvia Vilas Boas, CFO da Natura.

Dessa forma, a Natura registrou aumento da alavancagem e dos custos de operação no período. O endividamento chegou a 1,43 vez a relação dívida versus Ebitda. No primeiro trimestre de 2024, esse número de 0,13 vez.

A dívida líquida saltou de R$ 275,3 milhões, no primeiro trimestre de 2024, para R$ 2,9 bilhões nos primeiros três meses deste ano, o que representa uma alta de 1.053%.

Reação do mercado

Relatório do Santander destaca o crescimento na receita na América Latina, com destaque para o Brasil, além da melhora nas margens de lucro. Mas também coloca a Avon como o principal ponto fraco da companhia em termos de desempenho financeiro, com queda nas vendas e com processo de reestruturação em andamento.

As receitas da Natura &Co América Latina superaram as estimativas do Santander (e do consenso em 7% e 4%, respectivamente, com crescimento de 15,4% em relação ao ano anterior, impulsionadas pela Argentina e pelo câmbio”, afirma o documento.

“O fluxo de caixa livre foi negativo em R$ 675 milhões, fortemente impactado pela Avon Internacional, que continuou enfrentando dificuldades no trimestre, com cortes de custos significativos e impacto negativo no capital de giro, anulando a geração de caixa da Natura &Co”, completa o Santander.

Para o BTG, o destaque está na recuperação da companhia no trimestre, principalmente sobre o resultado do quarto trimestre de 2024. “Após a Natura ter divulgado números fracos e prejudicados no quarto trimestre (com as ações caindo 31% desde então), o primeiro trimestre mostrou tendência geral de melhora.”

“Os destaques positivos foram as vendas da bandeira Natura na América Latina e os ganhos de margem bruta, que compensaram a ainda enfraquecida tendência da Avon e maiores despesas de vendas. Como ponto negativo, destaca-se o aumento da alavancagem no período”, completa o relatório.

O Citi também elenca o desafio na redução de caixa com a operação da Avon. “Os resultados do foram, sem dúvida, uma melhora sequencial e sugerem que a América Latina retornou à sua trajetória de recuperação de margem. Mas ainda observamos custos de transformação elevados e a Avon, em geral, continua desafiadora.”