Principal investidora da OpenAI, a Microsoft vem, há tempos, colhendo frutos dessa associação com um dos ícones da inteligência artificial (IA). Com um valor de mercado de US$ 3,8 trilhões, a gigante de Redmond está atrás apenas da Nvidia, avaliada em US$ 4,5 trilhões, outra estrela dessa onda.

Há cerca de um mês, a Oracle, que também tem estreitado seus laços com empresas como a dona do ChatGPT, viu suas ações registrarem seu maior ganho diário desde 1992, de 36%, após reportar seu balanço do segundo trimestre com indicadores impulsionados justamente pelo boom da IA.

Agora, outras duas veteranas da tecnologia estão dando sinais de que também têm fôlego para surfar essa onda e voltar definitivamente à primeira prateleira das big techs: as americanas IBM e Dell Technologies.

No seu passo mais recente nessa direção, a IBM anunciou uma parceria com a Anthropic na terça-feira, 7 de outubro. O acordo prevê a aceleração do desenvolvimento de recursos de IA para empresas com a incorporação do Claude, modelo da startup americana, umas das principais rivais da OpenAI.

Em comunicado também na terça, 7, a Dell revisou para cima suas projeções de longo prazo ao citar a demanda por infraestrutura de inteligência artificial. Entre outras linhas, a empresa de Michael Dell prevê agora um crescimento anual de receita entre 7% e 9%, contra a faixa anterior de 3% a 4%.

Com as novas estimativas, os papéis da Dell encerram o pregão de hoje com alta de 3,51% na Nyse, cotados a US$ 150,87, avaliando a empresa em US$ 101,1 bilhões e registrando o pico de cotação desde que a companhia voltou ao mercado de capitais, em 2018, após um hiato de cinco anos.

Também na Nyse, as ações da IBM fecharam o dia com alta de 1,54%, cotadas a US$ 293,87, alcançando sua máxima histórica e dando à empresa um valor de mercado de US$ 273,7 bilhões. O recorde anterior era de março de 2012, quando a companhia chegou a um valuation de US$ 241 bilhões.

Em outros dados que reforçam as trajetórias ascendentes da dupla no mercado de capitais, os papéis da Dell acumulam uma valorização de 30,9% em 2025. Enquanto as ações da IBM têm alta de 33,6% no mesmo intervalo.

Curiosamente, muito antes de a inteligência artificial turbinar os valuations de nomes como OpenAI, Anthropic e Nvidia, a IBM foi uma das pioneiras nesse front, ainda no século passado, a avançar nessa fronteira.

Em 1997, por exemplo, a IBM “promoveu” uma disputa entre o seu supercomputador Deep Blue com o campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov. O saldo dos embates foram três vitórias para o enxadrista, uma para a máquina e dois empates.

O Deep Blue foi sucedido pelo Watson, que também se envolveu numa “disputa” para demonstrar seus dotes. Em 2011, o supercomputador programado para responder perguntas com linguagem natural derrotou dois campeões do game-show americano Jeopardy.

Em 2013, a empresa lançou a primeira aplicação comercial do Watson, que se tornou sua principal plataforma de inteligência artificial. E que, na época, despontava como a ferramenta que assumiria a dianteira dessa tecnologia. Já em 2014, o Bradesco foi um dos primeiros clientes a adotar a plataforma.

O Watson e a IBM parecem ter perdido, porém, esse protagonismo – e o hype - diante de novos players que impulsionaram a IA, em particular, junto aos usuários. No mundo corporativo, a plataforma seguiu quase que como um sinônimo desse conceito, mesmo que mais restrita aos bastidores.

A parceria anunciada hoje mostra, no entanto, que a adoção da IA nas empresas também pode ser um terreno bastante fértil, o que renova o gás da IBM. Tanto que a própria Anthropic vem dando mais peso a esse segmento – há um mês, a companhia disse ter mais de 300 mil clientes nesse espaço.

Com essa orientação, a startup americana anunciou, por exemplo, um acordo com a Deloitte no início desta semana, que prevê a oferta dos seus modelos a mais de 470 mil funcionários da consultoria em todo o mundo. E a IBM é vista como um fator essencial para avançar nessa esfera.

“A IBM sabe como superar as barreiras corporativas”, afirmou ao The Wall Street Journal o brasileiro Mike Krieger, cofundador do Instagram e que, desde maio de 2024, atua como chief product officer da Anthopic.

“Eles entendem as pilhas tecnológicas existentes, têm amplas capacidades de consultoria e podem ajudar na gestão de mudanças em escala. Esta parceria combina nossos recursos de IA com a expertise empresarial da IBM para que a adoção aconteça onde mais importa”, complementou Krieger.

Já sob o ponto de vista da IBM, a associação com a Anthropic viabiliza uma oferta de modelos de IA mais acessíveis aos seus clientes. A empresa também fornece seus próprios modelos, batizados de Granite. Mas eles são mais voltados a ambientes de mainframe.

“Nosso foco é realmente a inteligência artificial para os negócios”, disse Kareem Yusuf, vice-presidente sênior de ecossistema e parceiros estratégicos da IBM, ao jornal americano. “Temos buscado parcerias que correspondam a esse espírito.”

As empresas também são o foco da oferta da Dell no campo da inteligência artificial. Aqui, porém, centrada na infraestrutura que viabiliza as aplicações sob esse conceito. A companhia ressaltou que está capitalizando o ritmo sem precedentes de mudanças na tecnologia, especialmente em IA.

“Os clientes estão ávidos por IA e pela computação, armazenamento e rede que oferecemos para implementar inteligência em escala. Estamos traduzindo com sucesso essa demanda em crescimento e forte fluxo de caixa, que, em grande parte, retornamos aos acionistas”, afirmou, em nota, Michael Dell, chairman e CEO da Dell Technologies.

CFO da empresa, David Kennedy destacou que a empresa já retornou US$ 14,5 bilhões aos seus acionistas desde o ano fiscal de 2023. No novo guidance, a companhia também elevou a projeção de crescimento do lucro ajustado por ação para 15% ou mais, contra a previsão anterior de 8%.

“Nos últimos cinco anos, praticamente dobramos o lucro por ação”, afirmou Kennedy no comunicado. “Com o aumento da nossa meta de lucro por ação, esperamos dobrar o lucro por ação novamente.”