Maior corretora brasileira para investimentos no exterior, a Avenue anunciou a oferta de ETFs UCITS, marcando sua primeira conexão direta com a Europa. Essa nova categoria de produtos oferece uma alternativa mais eficiente aos tradicionais ETFs americanos. Os ETFs UCITS seguem regulamentação europeia e são estruturados, em sua maioria, na Irlanda.
Voltados a investidores não residentes nos Estados Unidos, esses fundos oferecem vantagens fiscais relevantes e permitem o mesmo tipo de exposição internacional, mas com um veículo mais otimizado do ponto de vista tributário.
A principal diferença entre os ETFs UCITS e os ETFs americanos está no tratamento tributário dos dividendos, o chamado withholding tax, imposto retido na fonte.
No caso de ETFs de ações nos Estados Unidos, esse imposto pode chegar a 30% sobre os dividendos pagos, reduzindo o retorno líquido do investidor. Já nos ETFs UCITS, esse impacto é menor: a alíquota pode variar entre 15% e 0, dependendo da estrutura do fundo.
“A grande vantagem é o reinvestimento, que acumula o patrimônio mais rápido”, afirma Alexandre Artman, COO e diretor de operações da Avenue.
O produto foi anunciado oficialmente à imprensa na segunda-feira, 29 de setembro, mas já estava disponível na plataforma havia um mês. Nesse período, 8 mil clientes adquiriram algum dos 80 ETFs UCITS oferecidos pela Avenue. A demanda, comenta Artman, superou as expectativas.
“A adesão do produto foi inacreditável. Já havia demanda, com muita gente falando disso no Brasil, mas o acesso era muito difícil”, diz o COO da Avenue.
A maior dificuldade, segundo ele, foi a conexão com a Bolsa de Londres, onde estão listados esses ETFs. Para explicar a complexidade, Artman fez uma alusão a diferentes padrões de tomadas de energia. Todo o processo para disponibilizar esses ETFs, conta, demorou cerca de seis meses.
“Em qualquer país há adaptador para tomada americana. A Europa tem uma tomada diferente. Então, conectar as plataformas e tecnologias não é tão simples quanto parece”, diz o COO.
“Os Estados Unidos são muito grandes, então tudo no mundo foi feito em forma escalável para se encaixar com esse mercado”, complementa.
Embora sejam listados na Bolsa de Londres e regulados por normas europeias, os ETFs UCITS não se restringem a ativos da Europa. Eles oferecem exposição a uma variedade de mercados globais, incluindo ações japonesas, europeias, de emergentes e também de empresas americanas. Além disso, há opções temáticas, como tecnologia, saúde e inteligência artificial.
Com a expectativa de que os ETFs UCITS continuem atraindo investidores, o COO da Avenue acredita que concorrentes também devem passar a oferecer o produto. Mas avalia que a adaptação aos sistemas europeus, que foi um dos desafios na implementação, agora pode ser uma vantagem competitiva.
“A Avenue está puxando esse movimento. Vai ter o famoso FOMO (fear of missing out). Todo mundo agora vai querer correr atrás para poder fazer isso. Mas vão ter dificuldades. Há muita peça em movimento por trás que não aparece para o investidor”, afirma Artman.
Negociados na Bolsa de Londres, os ETFs UCITS seguem o horário do pregão europeu, das 4h às 12h30, no horário de Brasília. Por serem listados fora dos Estados Unidos, têm liquidação em dois dias úteis — diferentemente dos ETFs americanos, que liquidam em um dia.
Em termos de custos, muitos desses ETFs apresentam taxa de administração ligeiramente maior do que os equivalentes americanos. No entanto, essa diferença tende a ser compensada pelos benefícios tributários, sobretudo a redução ou eliminação do withholding tax, que pode impactar significativamente a rentabilidade líquida ao longo do tempo.
Nos últimos anos, o volume captado por esses ETFs têm passado por uma crescente. Em 2023, os ETFs UCITS registraram captação de € 169 bilhões. No ano anterior, o volume foi de € 261 bilhões. No acumulado de 2025 até a sexta-feira, 26 de setembro, o montante chegou a € 270 bilhões, sendo mais de um terço desse valor sob gestão da BlackRock.
“É um instrumento mais eficiente. O investidor costuma olhar muito a questão do custo [do fundo], mas esquece um pouco o imposto, que às vezes é até mais importante”, diz Cristiano Castro, diretor de desenvolvimento de negócios da BlackRock Brasil, que também participou do anúncio.
No mundo, os ETFs tem sob gestão US$ 17,54 trilhões, segundo dados do Investment Company Institute. A maior parte está listado nos Estados Unidos, onde os ETFs somam US$ 12,2 trilhões em investimentos, de acordo com dados de agosto do J.P. Morgan. No Brasil, no entanto, esse mercado ainda é incipiente, com apenas R$ 65 bilhões alocados, o que é menos de 1% da indústria de fundos locais.
A implementação dos ETFs UCITS na plataforma também abre a possibilidade de a Avenue, no futuro, oferecer ações listadas diretamente no mercado europeu. Com a infraestrutura já conectada à Bolsa de Londres, esse movimento seria viável do ponto de vista operacional, segundo Artman.
A companhia, no entanto, afirma que, por ora, não há planos de seguir nessa direção. Para o COO, adicionar papéis em outras moedas — como libra ou euro — poderia comprometer a experiência do usuário, hoje centralizada em dólares.
Segundo ele, as ações oferecidas no mercado americano já são suficientes para atender à demanda dos clientes, já que as principais empresas do mundo, inclusive europeias, estão disponíveis nas bolsas dos Estados Unidos por meio de ADRs. “Isso vale para as maiores companhias e também para a renda fixa.”