Quando a Cosan anunciou a compra de 4,9% no capital social da Vale, em outubro do ano passado, o mercado ficou sem saber o que pensar. Além de questões relacionadas à estrutura financeira armada para viabilizar a operação, os investidores ficaram em dúvida sobre como a empresa se encaixaria nos planos da holding.

Passados quase oito meses desde o anúncio, o que foi visto com um olhar torto passou a ser encarado como uma oportunidade. A tal ponto de ser um dos cinco motivos pelos quais os analistas do Bank of America (BofA) estarem reiterando a compra das ações.

Ainda que tenham reduzido o preço-alvo de R$ 38 para R$ 31, em função de revisões nos valores para os papéis de Vale (de R$ 83 para R$ 81) e da Raízen (de R$ 9 para R$ 5,90), os analistas Isabella Simonato, Guilherme Palhares e Fernando Olvera afirmam que as perspectivas da companhia são bastante positivas, tanto no curto quanto no longo prazo.

“Nosso preço-alvo revisado pressupõe um potencial de alta (das ações) de 76%, e quando olhamos atentamente a estrutura da holding, temos confiança a respeito das fortalezas do grupo”, ressalta um trecho do relatório.

Uma delas é justamente a participação na Vale. Para os analistas do BofA, a aquisição representa uma das avenidas de crescimento da Cosan para os próximos anos, mesmo que no momento ela seja neutra em termos de criação de valor.

Além de ser uma das maiores mineradoras do mundo, a Vale tem uma oportunidade de destravar valor com a separação da unidade de metais básicos, junto com uma série de melhorias operacionais e a resolução do passivo relacionado à Samarco.

O relatório aponta ainda que Luis Henrique Guimarães, CEO da Cosan, foi recentemente eleito para o conselho de administração e está à frente do comitê que trata de alocação de capital na Vale, um tema que ele tem bastante experiência.

A segunda avenida de crescimento destacada pelo BofA, e citada como motivo para comprar ações, é a unidade de gestão de terras. A companhia desembolsou cerca de R$ 1,5 bilhão por mais 47% da gestora Radar em 2021 e, no final do ano passado, firmou a compra de uma fatia adicional na Tellus Brasil e na Janus Brasil, por R$ 1 bilhão.

Além de deter terras produtivas, a Cosan quer utilizar essa área para atuar no mercado de crédito de carbono, segundo informaram seus executivos em evento com investidores no ano passado. E para os analistas do BofA, o mercado está subestimando o valor desse ativo, ao ver a companhia e a Raízen investindo nessas terras, elevando a sua produtividade, sem se preocupar com contratos de arrendamento.

No curto prazo, a Cosan deve se beneficiar do movimento de queda das taxas de juros, criando o terceiro e quarto motivo para ficar posicionado nas ações, que são endividamento sob controle e liberação de recursos em caixa.

Segundo o relatório, apesar de a dívida líquida da holding estar na casa dos R$ 30 bilhões, não se trata de um tema problemático. Para os analistas, a expectativa é de que a relação entre os dividendos recebidos e os juros pagos fique em torno de 2,7 vezes entre 2023 e 2027, acima da média histórica de 2,0 vezes.

“Isso indica que, embora a companhia não terá recursos suficientes para liquidar a dívida especificamente em 2025, ela tem um fluxo de dividendo suficiente para refinanciar a dívida, ao mesmo tempo em que mantém um fluxo estável de dividendos para seus acionistas”, diz trecho do relatório.

A queda dos juros também deve liberar recursos para investir em novas oportunidades, reduzir a alavancagem financeira e reduzir o custo de capital de suas subsidiárias. Cálculos do BofA apontam que a redução da Selic dos atuais 13,75% para 9,5% até 2025 deve ajudar a companhia a poupar R$ 1,2 bilhão.

“Ao mesmo tempo, a redução pode levar a um cenário em que a relação entre dividendo e juros pagos fique estruturalmente maior ao longo do ciclo de investimentos de 2023 a 2027”, diz  um trecho do relatório.

O quinto motivo para se estar comprado em Cosan é a perspectiva da listagem de ações de outras subsidiárias, intenção anunciada em 2020 como parte de um plano de reestruturação corporativa e que pode seguir em frente caso a recuperação do mercado se consolide. Entre as companhias consideradas prontas pelos analistas estão a Compass, de gás, e a Moove, de lubrificantes.

“Acreditamos que esse movimento tem o potencial de destravar valor para os acionistas da Cosan, com as incertezas relacionadas ao valuation de cada negócios criando divergências sobre como o mercado avalia o valor correto do custo da holding”, observam os analistas.

Por volta das 13h39, as ações da Cosan caíam 1,07%, a R$ 17,62. No acumulado do ano, elas sobem 5,7%, levando o valor de mercado da companhia a R$ 33,2 bilhões.