Quando a fusão entre BRMalls e Aliansce Sonae foi acertada entre as partes e anunciada ao mercado no fim de abril, um dos principais argumentos a favor do acordo era a sinergia estimada na operação, de R$ 200 milhões, o que traria ganhos aos acionistas.
Entretanto, passados pouco mais de dois meses do anúncio, a analista Georgia Jorge, do BB Investimentos, está cautelosa em relação a essa projeção, afirmando que a conta final pode não ter o efeito positivo esperado pelos detentores dos papéis da BRMalls.
Por conta disso, e levando em consideração a piora do cenário macroeconômico, o BB Investimentos divulgou relatório nesta segunda-feira, dia 4 de julho, com o rebaixamento da recomendação para as ações da BRMalls, de compra para neutra, e a redução do preço-alvo de R$ 12,20 para R$ 9,50.
Pelos cálculos da analista, considerando o preço em que as ações da BRMalls e Aliansce Sonae fecharam o pregão de sexta-feira, dia 1º de julho, os acionistas da BRMalls teriam um ganho de 3,5% após a transação, com base nos termos acertados.
A fusão prevê um pagamento em dinheiro no valor de R$1,25 bilhão e a entrega de 326.339.911 ações de emissão da Aliansce Sonae, representativas de 55,13% do capital social da companhia combinada. A expectativa é de que a união resulte na criação da maior operadora de shopping centers da América Latina, com 69 shoppings centers e 13 mil lojistas pelo País, com vendas anuais na casa dos R$ 38,5 bilhões.
Apesar de considerar factível a obtenção de cerca de R$ 200 milhões em sinergias, Jorge destaca que o montante pode mudar dependendo do que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) exigir como remédio para aprovar a operação. Em especial, a possível venda de ativos relevantes, que podem impactar o tamanho da nova companhia.
Outro ponto levantado pela analista do BB Investimentos é em relação a outras despesas envolvidas na operação, em especial aquelas relacionadas à BRMalls.
Segundo o relatório, os custos de iniciativas tomadas pela administração atual, como a aceleração de benefícios em planos de remuneração baseados em ações, compensações pela demissão de diretores e por novos incentivos para retenção de profissionais podem ofuscar as sinergias previstas para serem capturadas no curto prazo. O custo total desses três itens está estimado no relatório em cerca de R$ 151 milhões.
“Dados esses pontos, estamos mais cautelosos quanto à capacidade de a transação efetivamente gerar valor para os acionistas”, diz trecho do relatório.
A análise do BB Investimentos cita ainda fatores macroeconômicos para justificar a alteração da recomendação e do preço-alvo das ações da BRMalls.
A expectativa da analista é de que a companhia apure uma retomada integral do fluxo de pessoas para os shoppings no segundo semestre. Mas a recuperação das vendas e da rentabilidade pode ser prejudicada pelo fato de seu público-alvo ser composto por classes sociais de menor poder aquisitivo, as mais afetadas pelos atuais níveis da inflação.
No primeiro trimestre, a BRMalls registrou lucro líquido ajustado de R$ 84,2 milhões, alta de 11% em relação ao mesmo período de 2021, com a receita subindo 41,7%, a R$ 341,8 milhões, e o Ebitda ajustado avançando 49%, para R$ 254,6 milhões.
Na teleconferência sobre os resultados, o CEO da operadora de shopping centers, Ruy Kameyama, afirmou que os resultados estão melhorando mês a mês, informando que as vendas totais cresceram 21,6% em abril, em comparação com o mesmo mês de 2019, antes do início da pandemia.
Por volta das 14h, as ações da BRMalls subiam 1,43%, a R$ 7,80. No ano, elas acumulam queda de 6,13%, levando o valor de mercado da companhia para R$ 6,4 bilhões.