O fundador e CEO da gestora Pershing Square Capital Management, o bilionário Bill Ackman, gosta de uma briga pública com conselhos de administração e executivos para promover mudanças estratégicas e valorizar o preço das ações.
Foi dessa forma vocal, e nada diplomática, que Ackman fez sua fama em Wall Street, realizando campanhas contundentes contra empresas como a varejista JCPenney, a fornecedora de folhas de pagamento ADP e a Canadian Pacific Railway.
Mas agora Ackman está adotando uma nova estratégia de investimento: o silêncio. Em uma mudança que está chamando de “Pershing Square 3.0”, Ackman disse que planeja ser um acionista menos vocal, trabalhando nos bastidores com empresas em quaisquer preocupações ou estratégias.
“Todas nossas interações com empresas nos últimos cinco anos foram cordiais, construtivas e produtivas”, escreveu Ackman no relatório anual aos investidores. “Pretendemos mantê-las assim, pois torna nosso trabalho mais fácil e divertido, e nossa qualidade de vida melhor.”
Segundo o jornal Financial Times, esse novo posicionamento “paz e amor” de Ackman ocorre em meio a uma melhora no desempenho de seus investimentos. Após três anos de perdas entre 2015 e 2017, impulsionadas por um investimento desastroso na Valeant Pharmaceuticals, a Pershing Square se tornou um dos melhores desempenhos do setor de fundos de hedge.
Em 2019, gerou um retorno líquido de 58%, cerca do dobro do índice de ações S&P 500. Durante 2020, a Pershing Square teve um retorno líquido de 70%. No ano passado, empresa conseguiu acompanhar o crescimento dos mercados, ganhando 26,9%.
A virada da Pershing Square no desempenho ocorreu quando Ackman adotou uma abordagem mais silenciosa, concentrando-se em empresas que não exigem grandes correções de rotas, nem pesadas reestruturações.
Depois de sair da empresa de marketing multinível Herbalife em 2018 com prejuízo, ele também abandonou a venda a descoberto e a execução de campanhas públicas em busca de lucro. “Nós nos aposentamos permanentemente desta linha de trabalho”, disse Ackman, no relatório anual.
Em vez disso, Ackman protegeu sua forte exposição a ações nos últimos anos, colocando hedges contra o mercado que renderam bilhões de dólares à Pershing Square, que foram reinvestidos no mercado.
Em 2020, no início da pandemia de coronavírus, a gestora havia feito hedges para proteger seus ativos, no valor de US$ 27 milhões, e lucrou US$ 2,6 bilhões com o tombo de 30% no mercado de capitais, em março daquele ano, permitindo que a empresa construísse grandes participações na Starbucks e no grupo Hilton.
Há um ano, a Pershing Square pagou mais de US$ 150 milhões para colocar cerca de US$ 100 bilhões em hedges para se proteger contra o aumento das taxas de juros. Em janeiro, Ackman vendeu a maioria desses hedges por US$ 1,2 bilhão, usando os recursos para construir uma participação de mais de US$ 1 bilhão na empresa de mídia de streaming Netflix.