A Blip (ex-Take Blip) nasceu, em 1999, centrada nos ringtones – as músicas usadas como toque de celular. Mas só afinou, de fato, seu modelo e ganhou escala quando passou a se concentrar em softwares para gerenciar o diálogo entre as marcas e consumidores em plataformas como o WhatsApp e o Instagram.

Com esse discurso, a companhia atraiu US$ 170 milhões em dois aportes da Warburg Pincus, além de grandes clientes. E, para dar sequência à sua tese, está combinando as aquisições e a expansão internacional para adicionar novos sotaques a essas conversas.

Em seu primeiro M&A fora do Brasil - e o segundo em sua história - a Blip está anunciando nesta segunda-feira, 18 de dezembro, a aquisição da GUS, companhia mexicana do mesmo setor. O acordo, cujos valores não foram revelados, foi antecipado com exclusividade ao NeoFeed.

“O nosso produto é global por natureza, pois se baseia em plataformas com penetração em vários países”, afirma Marcelo Hein, chief strategy officer da Blip, ao NeoFeed. “Então, nossa ambição sempre foi chegar a todas as regiões. E essa aquisição acelera muito esse nosso plano.”

O passo inicial dessa estratégia de fincar os pés, via operações próprias, em outros mercados foi dado justamente no México. Em março, o país foi escolhido para receber a primeira operação internacional da Blip. A aproximação com a GUS data desse mesmo período.

Agora, em um segundo movimento a partir da aquisição, a Blip está nomeando Jaime Navarro, cofundador e CEO da GUS, como o seu diretor executivo para a Península Ibérica e América Latina. Na nova função, ele comandará essa operação a partir de Madri, na Espanha.

“A expansão global é a prioridade e a oportunidade é enorme na Espanha e na Europa”, diz Navarro. “São mercados onde o WhatsApp é muito forte entre os consumidores, mas que só agora começa a ser adotado pelas empresas, que ainda estão bem atrás da América Latina e, especialmente, do Brasil.”

Fundada em 2015, com o projeto de desenvolver um assistente pessoal via WhatsApp, a GUS, assim como a Blip, migrou para as aplicações que conectam empresas e seus clientes. E, ao ser incorporada, traz um bom reforço para os “bate-papos” que a companhia brasileira quer intermediar mundo afora.

Com escritórios no México e na Espanha, onde desembarcou em 2020, a GUS tem 150 clientes – nomes como Carrefour, Ikea e Nestlé - distribuídos em mais de 15 países. Esse mapa inclui desde mercados na América Latina, como Colômbia e Chile, até Portugal, Itália e França, entre outras localidades na Europa.

Já a Blip atende cerca de 4 mil clientes, em 31 países. Com essa carteira, que tem nomes como Itaú, Coca-Cola, Fiat, Claro e Nestlé, a companhia projeta fechar 2023 com um faturamento superior a US$ 150 milhões, especialmente a partir do impulso gerado pelo hype da inteligência artificial generativa.

Em 2022, sua receita ficou próxima de US$ 100 milhões. A Blip não divulga a fatia dos negócios internacionais nesse bolo, tampouco a projeção do quanto essas operações podem representar no futuro.

Grandes contas

Principal pilar agora dessa estratégia, a divisão fruto da soma da Blip e da GUS que estará sob a alçada de Jaime Navarro envolve 70 profissionais, que estarão divididos entre o México e a Espanha. Esse time também atenderá os demais países dentro dessa área de cobertura.

“Estamos estruturando as equipes com base no que a GUS tinha e vinha fazendo já com muito sucesso”, observa Hein. “E seguimos estudando e identificando outros mercados relevantes ao ponto de terem times locais.”

Jaime Navarro (à esq.), cofundador e CEO da GUS, e Marcelo Hein, chief strategy officer da Blip
Jaime Navarro (à esq.), cofundador e CEO da GUS, e Marcelo Hein, chief strategy officer da Blip

A partir dessa estrutura, o plano inicial é replicar uma estratégia pela Blip, no começo de sua trajetória, e que também vinha sendo o norte da GUS: priorizar o atendimento e a abertura de contratos com grandes empresas. Sem deixar de reservar um espaço para clientes de menor porte nessas conversas.

“Na Espanha, por exemplo, só agora os grandes bancos estão começando a falar da possibilidade de terem o WhatsApp Business”, explica Navarro. “Então, é um mercado ainda muito no início e um ótimo momento para começar a buscar essas contas.”

Sob essa perspectiva, o maior foco estará em bancos e em segmentos como telecomunicações, varejo e educação. Navarro ressalta ainda que a GUS já tem uma boa abertura no setor de seguros. No México, a empresa atende sete das dez maiores companhias nesse espaço. Entre elas, MetLife, Chubb e Sura.

No médio prazo, a Blip já avalia estender esse seu apetite global para outras fronteiras além da América Latina e da Europa. Hein cita países como os Estados Unidos e África do Sul, e regiões como Ásia entre os mercados que a companhia monitora.

Outro passo natural dessa estratégia são os M&As. Antes da GUS, a única aquisição na esteira da Blip aconteceu em 2022 e envolveu a também brasileira Stilingue, plataforma que monitora o que os consumidores estão falando das marcas nas redes sociais.

Os dois exemplos ilustram os racionais por trás de eventuais novos acordos. O primeiro é cobrir outras etapas das interações entre as marcas e seus clientes. Nesse pacote, cabem empresas que atuam com aplicações de IA generativa e em áreas como propaganda e marketing digital.

No exterior, esse olhar comporta ainda M&As que reforcem as operações nos países em que Blip já atua ou que viabilizem sua entrada em novos mercados. “Fora do País, as nossas principais teses são escala e acelerar crescimento”, afirma Hein.

Seja por vias orgânicas ou aquisições, o México, segundo maior mercado da América Latina, costuma ser escolhido por muitas empresas brasileiras com ambições globais para inaugurar essa jornada. Nubank, Wine e QuintoAndar são apenas alguns entre tantos nomes que seguiram esse destino.

Um dos exemplos mais recentes veio da LWSA (ex-Locaweb). Em setembro, em sua primeira incursão no exterior, a companhia de tecnologia desembarcou em solo mexicano por meio da Bling, sua plataforma de sistemas de gestão (ERP) para pequenas e médias empresas.