No último dia 7 de fevereiro, o Bradesco divulgou os dados do seu balanço do quarto trimestre e do ano de 2023, na primeira call sob o comando do novo presidente, Marcelo Noronha. Na oportunidade, o banco também apresentou o guidance para 2024 e detalhou seu plano estratégico até 2028.
Com os dois anúncios, o banco tentou sinalizar ao mercado um caminho para reverter uma série de trimestres consecutivos com indicadores progressivamente aquém das expectativas e do desempenho de seus pares, em especial, o Itaú Unibanco.
A resposta inicial dos investidores veio, porém, na direção contrária. Desde então, as ações preferenciais do banco acumulam uma queda de 17,2%. Passadas duas semanas, porém, há quem esteja indo na contramão dessa reação negativa.
O voto de confiança na terça-feira, 20 de fevereiro, e foi dado pelo Goldman Sachs, que elevou a recomendação do Bradesco de venda para neutra e manteve o preço-alvo do papel em R$ 14, um upside de 2,6% sobre o preço no fechamento do pregão da segunda-feira, de R$ 13,65.
A mudança acontece apenas um mês depois de o banco americano ter rebaixado a recomendação do Bradesco, de neutra para venda. No relatório publicado hoje, o Goldman Sachs observa que os argumentos que levaram a esse downgrade se mantêm. Mas faz algumas ressalvas.
“Embora o posicionamento do banco permaneça fundamentalmente o mesmo, a ação desvalorizou significativamente após a divulgação do resultado”, escrevem os analistas Tito Labarta, Tiago Binsfeld, Beatriz Abreu e Lindsey Shema.
Segundo o quarteto, os múltiplos pelos quais os papéis do segundo maior banco privado do País estão sendo negociados já refletem, no entanto, os riscos adequadamente. O que abre espaço para a elevação na recomendação.
“Além disso, os anúncios do guidance e do plano estratégico de 5 anos do banco melhoram a visibilidade das projeções, embora a execução siga sendo um ponto de interrogação”, pontuam, acrescentando: “As mudanças culturais e na estrutura de gestão podem melhorar a competitividade”.
No saldo desse “sobe e desce”, os analistas mantiveram a projeção de um lucro líquido de R$ 18,9 bilhões para 2024, com um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) de 11,3%, o que figuraria da média para a faixa superior estipulada no guidance do banco.
“A recuperação da margem financeira com o mercado e uma normalização parcial das provisões para devedores duvidosos devem impulsionar a maior parte da recuperação do lucro, com um possível viés de alta resultante de uma melhoria do ciclo de crédito”, ressalta outro trecho do relatório.
Nessa linha, o Goldman projeta um lucro líquido de R$ 23,7 bilhões para 2025, alta de 5%, com um ROE de 13,2%. Mas observa que o indicador ainda está 6% abaixo do consenso da Bloomberg, para 2024, e 8% inferior, para 2025.
O banco americano acredita que, embora existam muitas incertezas pela frente, que o ROE trimestral poderá superar o patamar de 13%-14% entre o fim de 2024 e o início de 2025.
“Isso dependerá do ritmo de normalização do custo do risco e da resiliência da margem financeira com taxas mais baixas. Além disso, espera-se que o banco acelere o crescimento do crédito depois de perder participação de mercado comparado aos níveis anteriores à pandemia”, escrevem os analistas.
Já no que diz respeito ao plano estratégico, o Goldman ressalta alguns pontos positivos. Entre eles, a nova estrutura corporativa e a transformação cultural, eliminando camadas e buscando contratações externas no C-Level.
Outro aspecto favorável foi o reforço do foco no crédito para o segmento de baixa renda, destacado como um “mercado grande demais para ser ignorado”. Além da tendência mais positiva no crédito, com uma expectativa de ganhos de market share nos próximos cinco anos entre 100 e 500 basis points - entre 1% e 5%.
Em contrapartida, os analistas citam algumas incógnitas no que foi traçado pelo banco. Em especial, no que classificam como uma estratégia necessária, mas difícil de executar: ampliar sua eficiência e, ao mesmo tempo, ganhar market share.
“O banco terá de acelerar o crescimento do crédito, reduzindo, ao mesmo tempo, a sua pegada física e aumentando os investimentos em tecnologia”, observam os analistas, acrescentando que uma redução no custo de servir pode trazer taxas de juros menores e uma redução na receita de tarifas.
Outro desafio à frente é um cenário de competição ainda mais acirrada. Aqui, entre bancos tradicionais, fintechs e outros players, o Goldman cita o rápido ganho de escala do Nubank entre os clientes de baixa renda; o Itaú bem posicionado na alta renda; e a concorrência no segmento de pequenas e médias empresas com nomes como BTG Pactual, Stone e Mercado Livre.
Por volta das 11h20, as ações preferenciais do Bradesco estavam sendo negociadas com alta de 1,47%, cotadas a R$ 13,85, dando ao banco um valor de mercado de R$ 140,1 bilhões. Em 2024, os papéis acumulam uma desvalorização de 18,9%.