Os ETFs alavancados estão ganhando espaço na estratégia de curto prazo de investidores qualificados, profissionais e institucionais. E esta segunda-feira, 17 de novembro, marca a estreia da ação de uma empresa brasileira com essa característica.

A gestora americana Themes ETFs vai colocar no mercado o NUG, um ETF que replica em dobro a variação das ações do Nubank. O lançamento será seguido por versões alavancadas, também em duas vezes, de Petrobras (PBRG) e Vale (VALG), previstas para 12 de dezembro.

Todos os três ETFs serão listados na Nasdaq, já que a legislação brasileira não permite alavancagem de ETFs. “O Brasil é uma oportunidade constante. Nós vamos dar uma solução para os gestores, para os traders ou investidores profissionais”, afirma Pablo Gegalian, diretor regional Cone Sul da Flexfunds, em entrevista ao NeoFeed.

Gestora por trás da marca Themes ETFs, a Flexfunds tem US$ 5 bilhões sob gestão e 53 ETFs já listados nos Estados Unidos, sendo a estratégia com alavancados uma de suas principais neste terreno. O grupo é comandado por Jose Carlos González, ex-CIO da gigante de ETFs Global X, com US$ 97 bilhões sob gestão.

Nos Estados Unidos, os ETFs alavancados existem desde 2006, mas vêm ganhando cada vez mais tração entre traders e investidores ativos. Há produtos que oferecem exposição de duas vezes, três vezes e até cinco vezes a variação diária de um ativo – de ações individuais a ativos como bitcoin e ouro, além de grandes índices como o Nasdaq-100 e o S&P 500.

Ao todo, há mais de 500 ETFs alavancados no mercado americano, com US$ 160 bilhões sob gestão. O montante é 11 vezes o tamanho do mercado brasileiro de ETFs, mas apenas uma fração dos cerca de US$ 15 trilhões geridos por essa indústria.

O maior ETF alavancado é o ProShares UltraPro QQQ (TQQQ), três vezes exposto à variação diária do índice Nasdaq-100. Também são populares ETFs alavancados em índices temáticos, como inteligência artificial, ou de empresas de microchips, além dos expostos a ativos específicos.

Os ETFs à brasileira que serão lançados pela Flexfunds seguem o modelo clássico dos alavancados americanos, com reset automático ao fim de cada pregão — o que significa que o objetivo do fundo é multiplicar somente o retorno diário do papel, e não o retorno acumulado no longo prazo.

No mercado americano, esses ETFs são usados especialmente para operações de curtíssimo prazo, já que a alavancagem diária potencializa tanto os ganhos quanto as perdas. Embora a recompensa possa ser elevada em movimentos favoráveis, o risco também se multiplica.

Pablo Gegalian, diretor regional Cone Sul da Flexfunds

Dada a facilidade de se ter uma exposição alavancada a uma tese, esse é um mercado que tem se popularizado entre investidores de varejo, junto com os ETFs inversos – que variam de forma oposta à variação do ativo espelho, como se estivesse vendido. Essa estratégia também é vetada entre os ETFs listados no Brasil. A estimativa é de que 75% da negociação de ETFs alavancados é feita por investidores de varejo.

“A pessoa física, às vezes, gosta porque simplifica a vida deles. Pode ser que não tenham a sofisticação para buscar alavancagem por outros mecanismos. O fundo pode alavancar por compra de opção, mercado futuro ou tomar dívida”, diz um gestor brasileiro de ações que opera no mercado americano.

Para Lucas Santos, head de fundos da Avenue, a estratégia com ETFs alavancados pode até se encaixar no perfil de um investidor mais arrojado, que queira montar alguma posição de curto prazo.

“Muitas gestoras têm feito esses ETFs para atender à demanda de clientes, fazendo teses três vezes ou cinco vezes as ações da Nvidia e Tesla. E o investidor se posiciona em um momento que ele acha que vai subir ou cair [em caso dos invertidos]”, afirma o especialista da Avenue

Por que Brasil?

Os ETFs NUG, VALG e PBRG serão os primeiros da Flexfunds alavancados em empresas de fora dos Estados Unidos. Além da busca pelo ineditismo, diz Gegalian, a escolha pelo Brasil também está alinhada às ambições da companhia no país.

Até então, a principal atividade da Flexfunds no Brasil tem sido por meio da estruturação de ETPs privados – veículos estruturados no exterior que empacotam diferentes tipos de ativos, líquidos ou ilíquidos, para distribuição offshore.

Enquanto os ETFs tradicionais são produtos de oferta pública negociados em bolsa, os ETPs estruturados pela Flexfunds são ofertas privadas offshore, criadas sob medida para gestoras e escritórios brasileiros que desejam captar fora do país ou distribuir ativos locais no exterior.

São veículos fechados, não listados, que empacotam desde projetos imobiliários até fundos tradicionais, e que já somam 567 emitidos pela Flexfunds.

“Procuramos soluções offshore em que quem tem um projeto líquido ou ilíquido possa levar isso de uma maneira fácil para o private. Por exemplo, temos uma parceria de muitos anos com a Cix Capital, empacotando participações nos projetos deles”, diz Wilson Gomes, gerente de desenvolvimento de negócios da Flexfunds.

Agora, a companhia espera intensificar também a frente de ETFs no Brasil, por meio da estruturação de estratégias personalizadas para gestoras locais e, eventualmente, o lançamento de produtos próprios na B3.

“Chegamos a visitar o pessoal da B3 para entender mais sobre listagem de ETFs e ETPs. Mas o fato de ser alavancado realmente nos atrasa um pouco”, afirma Gomes.

Com o lançamento dos três primeiros ETFs alavancados de empresas brasileiras no exterior, a Flexfunds quer demonstrar a viabilidade desse formato também para o mercado local. A ideia é usar o desempenho e o histórico dos produtos na Nasdaq como vitrine para avançar na discussão regulatória no Brasil e mostrar à B3 e à CVM que há espaço – e demanda – para instrumentos mais sofisticados por aqui.

“Um pouco do nosso objetivo é mostrar que é possível fazer isso. E, quando houver um track record, conversar com o regulador e apresentar como esses produtos funcionam na prática”, diz Gegalian.

O diretor regional da Flexfunds afirma que não há planos, pelo menos por ora, para novos ETFs alavancados de empresas brasileiras, além de Nubank, Petrobras e Vale. A companhia, porém, já estuda uma segunda frente de produtos voltados ao investidor de longo prazo.

“O que eu gostaria de desenvolver em algum momento é uma estratégia de buy and hold para os ativos brasileiros. Estamos mais no desenho e fazendo o backtesting [teste com dados históricos de mercado] da estratégia”, diz o executivo.