Menos de dois meses depois de reportar seu primeiro lucro trimestral após sete resultados consecutivos no vermelho, a BRF está novamente no centro de uma notícia positiva, mesmo que com ressalvas. Desta vez, o portador da mensagem favorável envolvendo a grupo brasileiro de alimentos é o Goldman Sachs.

Em relatório divulgado na segunda-feira, 15 de abril, intitulado “Volta ao Básico”, o banco americano elevou a recomendação da empresa, de venda para neutro, além de aumentar o preço-alvo da ação, de R$ 9,70 para R$ 15,60 - ainda assim abaixo do preço de tela na abertura do pregão, quando a ação estava cotada a R$ 16,89.

Um dos principais componentes para o Goldman Sachs envolve o plano de eficiência BRF+. Iniciativa da gestão de Miguel Gularte, que assumiu o comando da BRF em setembro de 2022, a iniciativa integra mais um ciclo de reestruturação da companhia e começa a trazer resultados concretos.

“Cerca de um ano e meio depois, a BRF voltou ao básico, entregando melhores KPIs em áreas essenciais, como desempenho agrícola, gestão de estoques, hedge de grãos, eficiência logística e assertividade de preços”, escreve o analista Thiago Bortoluci.

Ele observa que, a partir do BRF+, a gestão de Gularte registrou bons avanços na recuperação da operação ao resolver alguns dos gargalos que existiam desde a fusão da Sadia e da Perdigão, acordo que resultou na criação do grupo, em 2011.

Olhando para frente, o banco também ressalta que a segunda fase do plano, em andamento, deve criar mais “ventos favoráveis” para a lucratividade da BRF. Especialmente diante de dois segmentos que têm se mostrado mais resilientes: os alimentos processados e o mercado Halal.

Na primeira categoria, em que o analista enxerga a manutenção de uma concorrência mais racional, o relatório destaca que o grupo segue alavancando sua posição dominante em margarinas, um segmento “altamente lucrativo” e que representa cerca de 17% de seu mix de vendas em alimentos processados.

Já no mercado Halal, que responde por cerca de 20% do mix de vendas do grupo, o banco pontua que os preços mais elevados do petróleo têm impulsionado um consumo mais forte, ao mesmo tempo em que as tensões comerciais em curso criaram uma oportunidade para o modelo de distribuição direta da BRF.

Em outra frente, o relatório coloca que, apesar das preocupações sobre possíveis riscos de queda na safrinha 2023-2024 do milho, há pouca probabilidade de interrupções e problemas em grande escala na oferta de grãos, cujos preços seguem estáveis.

Com esses ingredientes no contexto, o Goldman Sachs ampliou em 25% as projeções do Ebitda da BRF para 2024. Mas complementa que, apesar de enxergar um primeiro semestre de 2024 particularmente favorável, algumas questões impedem que a análise sobre o papel seja mais construtiva.

A principal delas é o fato de que, mesmo com as “estrelas alinhadas” em termos de eficiência e inflação de custos em 2023, a BRF ainda não foi capaz de entregar uma geração de fluxo de caixa livre positiva e lucro por ação.

Por volta do meio-dia, as ações da BRF subiam 9,1% na B3, cotadas a R$ 17,73. No ano, os papéis acumulam uma valorização de 32,9%. A empresa está avaliada em R$ 29,4 bilhões.