O grupo varejista francês Casino segue em um amontoado de problemas. Enquanto busca uma saída para sua delicada situação financeira, o controlador do Grupo Pão de Açúcar (GPA) vê as operações na França, seu principal mercado, se deteriorar.
Dados preliminares divulgados pela empresa mostram que, no segundo trimestre, as vendas recuaram nas maiores lojas da companhia. Os hipermercados apresentaram queda de 17,1% em relação ao mesmo período de 2022, enquanto os supermercados apresentaram baixa de 14%, na mesma base de comparação.
Segundo o Casino, o desempenho foi prejudicado por um menor volume de vendas e cortes nos preços dos produtos, sem entrar em detalhes sobre o que provocou esses dois pontos.
O site de comércio eletrônico Cdiscount também não escapou, apresentando um recuo de 22,1% das vendas, com o GMV total caindo 13,2%. A única área com resultados positivos foi a parte de lojas de conveniência, com alta de 2,6%.
A situação forçou uma revisão das perspectivas para o ano, considerando que o Ebitda pós-arrendamento deve fechar o primeiro semestre no campo negativo, entre € 165 milhões e € 175 milhões. No mesmo período de 2022, ele ficou positivo em € 191 milhões.
“Diante do desempenho estimado para o final da primeira metade de 2023, o grupo espera agora que o Ebitda pós-arrendamento no acumulado de 2023 fique abaixo de € 300 milhões, comparado com os € 440 milhões do plano de negócios apresentado ao mercado em 26 de junho”, diz trecho do comunicado.
Os resultados demonstram a urgência de Jean-Charles Naouri de encontrar uma saída que fortaleça a estrutura de capital, permitindo uma retomada das operações, considerando o elevado endividamento, na casa dos € 6,4 bilhões.
A empresa conta com duas propostas de capitalização neste momento. Uma delas é de um consórcio formado pela EP Global Commerce, veículo de investimento do bilionário tcheco Daniel Kretinsky, segundo maior acionista do grupo, e pela holding Fimalac, do empresário francês Marc Ladreit de Lacharriere.
A outra é da 3F Holding, formada pelo empresário de telecomunicações francês Xavier Niel, o empresário de varejo de alimentos Moez-Alexandre Zouari e o banqueiro de investimentos Matthieu Pigasse.
A primeira totaliza € 1,35 bilhão, com os dois investidores prometendo injetar € 860 milhões, enquanto € 290 milhões viriam de credores de dívidas não garantidas e € 200 milhões seriam aportados pelos acionistas. A segunda proposta prevê uma injeção de € 900 milhões, com metade em capital e o restante em dívida a ser emitida.
Em ambos os casos, segundo o Casino, os atuais acionistas serão “massivamente diluídos”, entre eles o Rallye, holding de Naouri, que detém 51,7% do capital social da varejista, sendo que 61% são de ações com direito a voto.
Projeção do Casino
Pelo cronograma traçado pelo Casino, ambos devem apresentar na sexta-feira, 14 de julho, as ofertas revisadas, que serão avaliados considerando a “natureza incondicional dos compromissos de capital” e o “nível de liquidez disponível ao grupo após o fim da reestruturação”.
Além da injeção de capital externo, o Casino conta com a venda de ativos para reforçar sua liquidez. Em março, o Casino levantou R$ 4 bilhões com o follow on do Assaí, medida que resultou na redução de sua participação na companhia de 30% para 11,7%. E em junho, ela vendeu o restante que detinha na rede de atacarejo via uma operação de block trade.
O Casino pretende ainda vender participação no GPA, em que detém 40,9% das ações ordinárias, e se desfazer é a rede de supermercados da Colômbia Éxito, nas mãos do GPA.
Por volta das 12h10, as ações do Casino caíam 3,38% na Bolsa de Paris, a € 3,21.