Banho de sangue. Essa foi a expressão utilizada pelo português Carlos Tavares, CEO global da Stellantis, para alertar sobre o futuro do mercado de carros elétricos. De acordo com o executivo, as fabricantes que estão cortando os preços dos veículos de forma muito rápida estão gerando um risco para a indústria.

Na opinião do executivo, a redução de preços pode desconsiderar a realidade dos custos. "Será uma corrida para o fundo do poço e isso terminará em banho de sangue", afirmou Tavares, que comanda o grupo que detém marcas como Peugeot, Fiat e Jeep. "É isso que estou tentando evitar."

As declarações de Tavares ocorrem após movimentos de cortes de preços no setor. No ano passado, a Tesla diminuiu  os preços de alguns de seus modelos. Como resultado, as vendas aumentaram e a companhia conseguiu aumentar sua participação no mercado.

“Conheço uma empresa que cortou brutalmente os preços e a sua rentabilidade entrou em colapso brutal”, disse Tavares, sem citar a Tesla ou outra companhia. “Quando você faz isso, você está pulando em um oceano vermelho. Quando isso acontece, as coisas ficam muito difíceis no futuro."

Tavares afirmou que as empresas que perdem dinheiro com essa estratégia se tornam “potenciais alvos”. Avaliada em mais de US$ 669 bilhões, a Tesla com certeza não está no alvo da Stellantis. Por outro lado, startups como Lordstown, Proterra e Electric Last Mile Solutions já entraram com pedidos de proteção à falência.

As grandes montadoras também enfrentam problemas com os elétricos. Nesta sexta-feira, 19 de janeiro, a Ford informou ao mercado que vai diminuir a produção da F-150 Lightning, versão com motor elétrico da popular caminhonete. A versão tradicional é o veículo mais vendido pela empresa nos Estados Unidos.

De acordo com a montadora, a medida alinha a produção com a demanda pela versão elétrica lançada em 2022. A Ford vendeu 24 mil unidades do modelo no ano passado. Ainda que o resultado tenha sido 55% maior do que obtido em 2022, as expectativas eram maiores para o veículo que custa a partir de US$ 50 mil.

A Ford já havia dado a entender que não estava satisfeita com os resultados de sua iniciativa elétrica no ano passado, quando anunciou uma redução de 43% na produção da futura fábrica de baterias da empresa em Michigan. A companhia anunciou a fábrica em fevereiro e afirmou que a planta demandaria um investimento de US$ 3,5 bilhões.

Em resultados gerais, o mercado de carros elétricos desacelerou no ano passado, principalmente na Europa. Dados da empresa de pesquisas Kelley Blue Book apontam que, ainda que um recorde de 1,2 milhão de automóveis tenha sido vendido, houve queda na participação em relação aos carros com motor por combustão.

De acordo com dados da Associação Europeia de Fabricantes Automobilísticos (ACEA, na sigla em inglês), as vendas de carros elétricos e híbridos na Alemanha caíram 48% e 74%. O país é um dos principais mercados do continente para a indústria automotiva. A queda foi motivada pelo fim dos subsídios do governo para a compra dos veículos.