Na segunda metade de 2020, quando começou a estruturar o lançamento de suas contas digitais para pessoas físicas e pessoas jurídicas, o Tribanco, braço financeiro do Martins, grupo de atacado e distribuição, elegeu o investimento em startups como um dos caminhos para encurtar essa jornada.
Agora, a companhia começa a dar velocidade a essa frente. Em informação antecipada ao NeoFeed, o Tribanco acaba de concluir um investimento na T10, startup mineira que atua nas áreas de engenharia de software, inteligência de dados e de consultoria de projetos digitais para empresas.
O acordo, cujo valor não foi revelado e envolve uma fatia minoritária da operação, está sendo fechado por meio da Simtech, empresa de tecnologia do Martins. Mas a porta de entrada da T10 no grupo é, de fato, o banco, que já havia feito um investimento-anjo na operação, em agosto de 2020, não divulgado até então.
“Temos um gap de profissionais em tecnologia”, diz Ricardo Batista, CEO do Tribanco, ao NeoFeed. “E a T10 está conseguindo criar uma comunidade de desenvolvedores e cientistas de dados que é complementar ao nosso negócio, além de trazer um choque cultural para a nossa operação.”
Fundada em janeiro de 2019, a T10 trabalha com a identificação de oportunidades para a criação de produtos digitais. E também atua no desenvolvimento dessas novidades, com o uso de recursos como inteligência artificial e machine learning.
Com uma equipe de 54 profissionais e um faturamento de R$ 6 milhões em 2020, a empresa trabalha com uma carteira de 10 clientes, que inclui startups como a Shopper e empresas de maior porte, como os grupos Algar e Rodobens.
Sob a nova configuração com o Tribanco, estão previstos projetos em áreas como o uso de telemetria para mensurar a produtividade do time de vendas, a aplicação de dados para estratégias de precificação de produtos e a melhoria na usabilidade dos aplicativos e nas interfaces com os clientes do banco.
“Estamos saindo de uma relação de fornecedor e cliente para uma parceria de fato”, afirma Batista. “Não estamos trazendo a T10 para dentro da nossa estrutura, até para preservar a independência e a cultura deles, mas já consideramos a empresa parte do nosso time.”
Cofundador e CEO da startup, Yann Machado destaca outras questões com o novo patamar da relação. Entre elas, o fato de o acordo não envolver exclusividade de atendimento e de ir muito além do aporte financeiro em si.
“A rodada nos dá a oportunidade de acessar um faturamento adicional nos contatos e nos clientes do Martins”, diz Machado. “Ao mesmo tempo, abre as portas para atendermos mais desafios em outras empresas do grupo.”
O aporte também sinaliza uma estratégia mais ampla para o Martins. “Estamos começando essa abordagem pelo banco, mas podemos estender a outras empresas do grupo”, diz Camila Martins, gerente de estratégia e novos negócios do Tribanco.
Parte da terceira geração da família à frente do grupo, Camila observa que os acionistas da holding discutem como organizar novos investimentos do Martins em startups, o que pode envolver a estruturação de um veículo de corporate venture capital.
Enquanto avalia esse modelo, o grupo recorreu à aceleradora Ace para ajudá-lo na formatação da tese e na curadoria dos ativos no radar. Uma das definições é que os acordos terão início com fatias minoritárias.
“Estamos olhando para tudo o que possa ser complementar ao nosso ecossistema mercantil, financeiro, tecnológico e logístico”, diz Camila. “E já avaliamos mais de 100 empresas.”
No âmbito do Tribanco, existem duas outras startups em fase avançada de negociações. O banco está olhando prioritariamente para startups que atuem em áreas como cibersegurança, open banking, seguros, gamificação, fidelidade e programas de relacionamento com os clientes.
À parte desses investimentos, o banco segue reforçando sua oferta tanto nos segmentos de pessoa jurídica como em pessoa física. Nesse último, uma das novidades em fase de projeto-piloto é uma plataforma de investimentos em parceria com a Órama.
A estratégia dá sequência a movimentos semelhantes com a Rodobens, em consórcios, e com a SulAmérica, em seguros. “Estamos testando internamente essa plataforma como um white label que tem como motor a Órama”, diz Batista. “Em breve, ela vai ser integrada ao nosso aplicativo.”
Outras iniciativas na conta digital pessoa física incluem a integração, em andamento, e-commerce do grupo Martins. Hoje, o Tribanco tem 400 mil contas abertas nesse segmento e prevê fechar 2021 com 500 mil.
Já no plano das contas pessoa jurídica, a base atual é de 4 mil empresas e a projeção é encerrar o ano com 10 mil contas abertas. Nessa área, o Tribanco já tem integração com frentes como o programa de fidelidade do braço de atacado e distribuição do grupo.
O banco encerrou o primeiro semestre de 2021 com uma carteira de ativos de R$ 2,4 bilhões, alta de 28,5% na comparação com igual período, um ano antes. A carteira de crédito cresceu 28,4%, para R$ 2,5 bilhões, e o lucro líquido avançou 186,9%, para R$ 29,9 milhões.