A Weclix protocolou na Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos relacionados à Arbitragem do Tribunal de Ribeirão Preto, na segunda-feira, 18 de março, um acordo extrajudicial acertado com seus credores. A dívida de curto prazo de R$ 200 milhões da quinta maior empresa de telecomunicações em número de assinantes de banda larga do Estado de São Paulo foi alongada para que a companhia volte a se concentrar na operação.

A renegociação dos prazos sem a necessidade de recorrer a uma recuperação judicial foi aceita por, aproximadamente, 80% dos credores.

Divididos em três grupos, o principal é formado por um pool de bancos, que vinha fornecendo linhas de capital de giro para a Weclix. Fazem parte mais de uma dezena de instituições financeiras, como Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BTG. O segundo grupo são os sellers de empresas adquiridas e, por fim, os fornecedores.

“A conversa foi muito tranquila, aberta e transparente. Acertamos uma reestruturação extrajudicial, com alongamento dos prazos e investimento dos sócios”, diz Fabrício Kameyama, CEO da Weclix em entrevista ao NeoFeed. “Vamos pagar todo mundo. Não tem haircut top down.”

Com 36 sócios no quadro da Weclix, eles se comprometeram a fazer um aporte, embora não tenham definido um valor. A ideia é que sejam feitos os desembolsos conforme a demanda operacional de crescimento, informa a empresa.

Os acionistas de referência são Maria Aparecida Prenholato Pupin e Renato José Silveira Lins Sucupira, ex-diretor do BNDES, com 29,3% e 22,1%, respectivamente. E a Pattac Empreendimentos e Participações, holding da família Marder, que detém participações no Grupo Cataratas, na Volga Energia, no Puerto de Paracas, no Peru, entre outros, que possui 25% das ações da empresa de telecom.

Criada em 2018 em Ribeirão Preto, a Weclix está presente em 43 cidades do interior paulista e foi aberta na mesma onda do surgimento de pequenos provedores de internet que viram oportunidade em um setor pulverizado, lucrativo e crescente.

Arrumar a casa é algo essencial para a Weclix decidir se está no grupo das consolidadoras ou das empresas que vão ser consolidadas.

A consolidação dos provedores de internet de banda larga baseados em fibra óptica tem ganhado corpo, principalmente entre as chamadas operadoras competitivas de banda larga - aquelas que são de pequeno porte e estão atrás das grandes do setor: Vivo, Claro, Oi, Tim e Sky.

Em dezembro do ano passado, Vero e Americanet, que são geridas pelos fundos de private equity Vinci Partners e Warburg Pincus, concluíram a integração de suas estruturas. Juntas, elas detêm 1,35 milhão de assinantes e ocupam a segunda colocação no mercado brasileiro.

À frente delas está a Alloha, da eB Capital, com 1,57 milhão de assinantes e a compra de nove competidoras regionais até o ano passado. E, conforme o NeoFeed trouxe com exclusividade em agosto do ano passado, a Desktop, que atua no interior de São Paulo, mandatou o Bank of America (BofA) para vender sua operação de fibra óptica.

Crescimento acelerado e alavancagem

Nos primeiros três anos, a Weclix cresceu com base em sua alavancagem. Além do crescimento orgânico, foram feitas 12 aquisições de concorrentes em 18 meses - todas em um raio próximo a Ribeirão Preto. Essa combinação somada à alta da taxa básica de juros fez a telecom ter um custo financeiro maior do que poderia suportar.

No balanço de 2022 (o último disponível), a Weclix tinha receita operacional líquida de R$ 162,9 milhões, um avanço de 40,7% sobre o ano anterior. Mas as despesas financeiras, que eram de R$ 15,5 milhões em 2021, subiram 329% para R$ 66,5 milhões em 12 meses.

Fabrício Kameyama weclix
Fabrício Kameyama, CEO da Weclix

Com isso, o prejuízo foi de R$ 26,2 milhões em 2022. Embora os dados referentes a 2023 não estejam disponíveis, a fotografia foi muito parecida: geração de caixa com alto custo de dívida, o que faz a última linha do balanço registrar prejuízo. A empresa ainda não sabe estimar quando chegará ao breakeven.

“Durante os três primeiros anos tivemos um crescimento exponencial, mas todo esse crescimento acabou alavancando a empresa. Com a mudança nas condições macroeconômicas, o perfil da dívida passou a estrangular a operação”, diz o CEO.

Além da dívida de curto prazo que está renegociada, a Weclix emitiu uma debênture de R$ 200 milhões em 15 de setembro de 2022. O vencimento acontecerá em 2026 e a remuneração do título, que tem pagamento semestral de juros em abril e outubro, é NTN-B + 4,8% ao ano.

Os covenants financeiros (garantias exigidas pelos credores) dessas debêntures levam em conta uma alavancagem medida pelo indicador dívida líquida sobre o Ebitda menor que 3,5 vezes (x) em dezembro deste ano e menor que 3x a partir do fim de 2025. Atualmente, a alavancagem está abaixo de 2,5x.

De volta à operação

Com a quantidade de M&As, o quadro de funcionários da Weclix chegou a 700 pessoas. Mas havia muita sobreposição. Atualmente, a empresa conta com 330 pessoas. O número de assinantes, que já foi superior a 200 mil, encerrou janeiro em 149 mil, segundo dados da consultoria Teleco.

“Temos nos concentrado na reestruturação operacional. Desde o segundo semestre de 2022, capturar sinergias das aquisições e conseguir aumentar a eficiência operacional”, afirma Kameyama.

A partir da aprovação do plano de recuperação extrajudicial e do aporte dos acionistas de referência, a Weclix quer se concentrar novamente em “atacar o mercado”.

O primeiro trabalho é aumentar a participação do mercado B2B dentro do portfólio. A ideia é conquistar o dobro da participação atual de 8% nos próximos dois anos.

“Esse mercado é mais rentável e a relação de retorno sobre o capex é melhor do que o varejo”, afirma o CEO da telecom.

Uma segunda perna é melhorar o mix do varejo e entrar com força no segmento A-B da população, onde o cliente é mais estável e menos suscetível às variações da economia.

Em paralelo, a Weclix quer ter produtos correlatos à conectividade, como streaming, telefonia, sistema de segurança por câmera, entre outros, que podem agregar valor ao pacote, seja por meio de parceria ou contratação do serviço.

“A conectividade está virando uma commodity. Todas as companhias já viram que é preciso reforçar com outros produtos para capturar o máximo de tíquete dos clientes”, diz Kameyama.