Pedro Parente construiu uma carreira de sucesso no mundo corporativo. Foi, por exemplo, presidente da RBS, da Bunge, da Petrobras, da BRF. Mas sua fama mesmo foi construída na época em que teve a difícil missão de evitar que o Brasil sofresse com o apagão de energia em 2001.

Naquela época, como ministro chefe da Casa Civil e presidente da Câmara de Gestão da Crise de Energia do governo FHC, ele ficou conhecido como o “ministro do apagão”. Agora, 21 anos depois, Parente volta a lidar com o setor elétrico.

Ele está à frente da eB Infra, um braço da gestora eB Capital que vai investir mais de R$ 2 bilhões em energia solar e biogás. “Aprendi muito naquela época. Lá era lidar com uma crise, com uma perspectiva horrorosa. Aqui é lidar com um lado superlegal dessa questão energética”, diz Parente ao NeoFeed.

O projeto é ambicioso. “Estaremos entre os maiores players de geração distribuída no Brasil”, diz Parente. A eB Infra prevê a construção de cerca de 90 usinas geradoras com uma capacidade total de 270 MWp (megawatts-pico) até 2024. Deste total, 10 unidades já estão sendo construídas, 30 já têm local definido e as outras 50 estão à espera de autorização.

Nessa jornada a eB Infra se tornou sócia da E1 Energias, do empresário Edson Queiroz. “Vamos instalar usinas no Brasil inteiro”, diz Marco Sunye, da eB Infra. “Começamos no Sudeste e no Sul e agora estamos expandindo para Nordeste e Centro-Oeste.”

Diferentemente da geração centralizada, com usinas que necessitam de grandes linhas de transmissão para levar a energia aos mercados consumidores - o que gera perdas no caminho -, a geração distribuída é formada por usinas menores e a energia pode ser vendida tanto para o consumidor final como para as distribuidoras que estão em suas áreas de atuação.

Isso quer dizer que as usinas solares da eB Infra poderão vender para companhias como CPFL Paulista, Energisa, Enel, Equatorial, Light, entre outras. O plano é comercializar 80% da energia gerada para essas companhias e os outros 20% para consumidores finais, famílias e pequenas empresas.

Para ganhar tração, a eB Infra pretende usar companhias com foco na experiência de clientes, como a Alloha, empresa de fibra ótica da eB Capital. “Vamos usar a usar a força de vendas dela”, diz Parente. E complementa com um exemplo do que pretende fazer. “Em vez de cobrar R$ 99,00 por uma fibra de 300 megas, cobra R$ 105 e já diz para ele que ele terá um desconto de 10% a 15% na conta de energia dele. “Ganha a Alloha, o consumidor e a gente.”

Para construir as plantas, o projeto vai consumir R$ 2 bilhões. Desse total, R$ 1,4 bilhão é de dívida e R$ 600 milhões é equity – 50% da eB Fibra e 50% da companhia de Edson Queiroz. A eB Capital também está captando no mercado com um fundo chamado eB Transição Energética.

A meta é buscar R$ 550 milhões para o projeto de geração distribuída e biogás. Parente não dá detalhes do fundo só diz que “não gosta de ‘blind fund’ e que o dinheiro já tem destinação. E, ao contrário dos fundos de infraestrutura, com cerca de 12 anos de duração, esse terá seis anos.

Eduardo Sirotsky Melzer, o Duda, sócio da eB Capital, diz que a ideia com a eB Infra é fazer o mesmo que a gestora fez com a eB Fibra, que se tornou Alloha. “Partimos de 90 mil assinantes em janeiro de 2019 para mais de 1,5 milhão de assinantes atualmente e um faturamento de R$ 1,5 bilhão”, afirma. “Vamos criar uma gigante, consolidar o mercado.”

Quando as operações de geração distribuída e de biogás estiverem a pleno vapor, a expectativa é a de que gerem uma receita de R$ 550 milhões por ano. “Até 2025, com espaço para aquisições, devemos chegar em R$ 1 bilhão em receita”, diz Melzer.

Mas não vai ser tão fácil assim. A eB Infra vai encontrar players já estabelecidos no mercado. São empresas como a Órigo Energia, do TPG e Mitsui, e a Mori Energia Solar, da Comerc, que é da Vibra. Na área corporativa, a Faro Energy, a GD Sun e a Axis.

Indagado sobre isso, Melzer diz que o projeto foi construído com lupa. “Antes de entrar nesse mercado, estávamos estudando há mais de um ano e meio”, diz ele. “A nossa estratégia é sempre entrar em áreas que ajudam a resolver problemas reais. A matriz de transição energética é a solução para um problema real”

No caso do biogás, a eB Infra vai trabalhar com geração a partir de resíduos industriais. Segundo Pedro Parente, o problema é que hoje empresas gigantes pagam entre R$ 90 e R$ 150 a tonelada de resíduos para ficar em aterros e composteiras.

Na Europa, aterros já são proibidos. E, pela lei brasileira, as indústrias são responsáveis pelos resíduos para sempre. “O que estamos propondo é que as empresas paguem um valor inferior a isso para usar os resíduos como insumo das nossas plantas de biogás com transformação 100% em produtos utilizáveis: o biometano e o gás carbônico. E o que sobra disso vira fertilizante.”

A eB Infra planeja erguer três plantas industriais. A primeira vai ficar no polo petroquímico de Porto Alegre. “Escolhemos o lugar por ter demanda de gás e porque é próximo de geradores de resíduos”, diz Marco Sunye.

A companhia mapeou resíduos a 150 km da planta e está assinando contratos de resíduos. São resíduos orgânicos como sobras de farelo de grão de soja, escama de aviário, lodo, entre outros.

O investimento nessa primeira unidade é de R$ 190 milhões. Quando estiver pronta, ela vai tratar 18 mil toneladas de resíduos por mês e gerar 33 mil metros cúbicos de biometano por dia.

Outras unidades poderão ser criadas no Oeste de Santa Catarina, no sudoeste do Paraná, Goiás e Minas Gerais. “Só em locais que têm demanda por gás”, diz Sunye. Juntos, os projetos de geração distribuída e de biogás, terão pegada negativa de carbono em um total estimado em 100 mil toneladas. E Pedro Parente avisa. “Esse é o começo da eB Infra, não vamos parar por aí.”