Março de 2021 foi o início de uma nova agenda no Next. Para entrar de vez na corrida dos bancos digitais, a fintech criada em 2017 pelo Bradesco ganhou um CEO, na figura de Renato Ejnisman, um veterano do banco da Cidade de Deus. E trouxe Ricardo Urada, para traçar sua estratégia de aquisições.
Nesse intervalo, o Next saltou de uma base de 4 milhões para 10 milhões de contas ativas. E agora, um ano depois, está inaugurando mais uma temporada para seguir escalando esses números, justamente com sua estreia no campo dos M&As.
A empresa anuncia nesta segunda-feira, 7 de março, a compra da Aarin, startup de meios de pagamento de Salvador (BA). No acordo, cujos termos financeiros não foram divulgados, a fintech passa a ser a acionista majoritária da novata, que seguirá operando de forma independente.
“Estamos em uma toada de crescimento e, ao mesmo tempo, de rentabilizar nossa base de clientes”, afirma Ejnisman, ao NeoFeed. “E, como parte dessa visão, encontramos na Aarin muito mais do que nós procurávamos.”
O acordo traz novos recursos ao nextShop, marketplace de produtos não-financeiros lançado em novembro de 2021. Assim como o banco Inter fez com o Inter Shop, a plataforma é um dos pilares do Next para atrair, reter e fazer com que os clientes naveguem com mais frequência em seu ecossistema.
Em outro racional da aquisição, o banco digital do Bradesco encontrou na Aarin um atalho para alcançar um novo perfil de clientes: as empresas e microempreendedores individuais (MEIs).
O primeiro contato com a startup aconteceu em agosto de 2021, quando o Next buscava um fornecedor para as operações de cashback do nextShop.
“Depois da primeira reunião, vieram a segunda, a terceira, a quarta e a quinta. Sempre com o time de uma área diferente”, conta Ticiana Amorim, cofundadora e CEO da Aarin. “E cada equipe dizia que nós tínhamos exatamente o que eles estavam precisando.”
No cashback, por exemplo, a Aarin tem uma ferramenta que permite definir e gerenciar regras customizadas para cada parceiro e seus respectivos clientes. Essa mesma abordagem é adotada em outras ofertas da startup.
Além do acesso a essas funcionalidades, o Next entendeu que era mais vantajoso trazer a plataforma para dentro de casa, em vez de entrar na fila e depender das prioridades de um intermediário para fazer qualquer avanço nessa esfera.
“A compra da Aarin vai nos dar mais controle para levar o cashback, inclusive para além do marketplace”, explica Ejnisman. Ele cita as áreas de seguros e de investimentos como possíveis novas fronteiras do que podem começar a oferecer essa modalidade, outra aposta do Next para crescer sua base.
Carro-chefe da operação da Aarin, as soluções desenvolvidas a partir do Pix, o sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, foram outro elemento que pesaram na decisão de investir na startup. No curto prazo, essas ofertas serão incorporadas ao nextShop.
A Aarin permite que e-commerces e varejistas físicos recebam seus pagamentos via Pix. Em outra aplicação, qualquer funcionário consegue confirmar, em tempo real, se a transação foi efetivada. Sem que para isso precise acessar a conta bancária do estabelecimento.
“Eles também desenvolveram um QR Code universal”, observa Ricardo Urada, executivo-chefe de novos negócios do next. “Em uma praça de alimentação, por exemplo, você consegue fazer o pagamento via Pix independentemente se a sua carteira digital ou banco é A, B ou C.”
Esse tipo de aplicação traz um conceito que permeia todo o portfólio da Aarin e que é conhecido no mercado como “invisible banking”. Na prática, ele envolve embarcar produtos financeiros na jornada de compra, em uma única plataforma, sem que o usuário precise acessar outros aplicativos.
“Isso elimina as fricções e a gente acredita que essa abordagem vai nodar um diferencial para competir no open banking”, diz Ejnisman. “A Aarin conseguiu colocar de pé soluções muito inovadoras com pouco tempo no mercado e recursos escassos.”
Essa trajetória teve início em meados de 2020, quando Ticiana e Victor Tavares fundaram a startup e começaram a desenvolver, do zero, uma plataforma baseada no Pix, que seria lançado em novembro daquele ano.
A dupla teve o apoio de um aporte pré-seed, de R$ 2 milhões, com a participação de investidores como a Cubos Venture Studio e a RB3 Participações. A startup conquistou seu primeiro cliente, em janeiro de 2021. E, desde então, ganhou escala.
A Aarin fechou 2021 com um volume transacionado (TPV) de mais de R$ 300 milhões e com 1 milhão de transações via Pix. A empresa tem uma carteira de 261 clientes, boa parte deles, empresas de médio porte em segmentos como logística e varejo.
“Nós não esperávamos que isso acontecesse em um ano”, diz Ticiana. “E o fato de o Next ter se interessado pelo que nós fazemos, mostra que eles têm uma visão que foge do tradicional. E que ainda traz a potência de estar debaixo do guarda-chuva de um grupo grande e consolidado.”
CNPJs à vista
Além de um novo fluxo de receitas e da abertura para novos clientes, a carteira e o portfólio da Aarin vão permitir que o Next comece a explorar também as ofertas para empresas e MEIs. A fintech já está trabalhando na estruturação de uma conta voltada especificamente a esse público.
“Estamos bem avançados no desenho do que vai ser essa oferta”, diz Ejnisman. “Já temos uma base grande de MEIs e o marketplace também é uma porta de entrada para varejistas – hoje são perto de 30 na plataforma. É natural estabelecer uma relação bancária com esse público.”
Em outro movimento nessa direção, em dezembro de 2021, o Next fechou um acordo para “acolher” uma base de 700 mil clientes pessoa física do BS2, banco digital da família Pentagna Guimarães, que decidiu deixar de atender esse público para se focar em contas de pessoas jurídicas.
Ejnisman não revela o quanto dessa base migrou efetivamente para a carteira do Next. O fato é que, depois de começar a ganhar tração nas pessoas físicas, a fintech do Bradesco entra agora em uma arena que surge como o próximo front dos bancos digitais.
O leque de concorrentes dispostos a atrair os CNJPs inclui o Itaú Unibanco, que lançou a plataforma Itaú Meu Negócio, voltada a esse público. Nomes como BTG Pactual, Nubank, Inter, Original e C6 também estão explorando esse espaço.
Assim como fintechs com foco exclusivo nesse perfil de clientes, casos da Cora e da Conta Simples. Ou memo empresas como a Omie, de sistemas de gestão na nuvem, que comprou a Linker, outra startup financeira destinada especificamente a PMEs, em novembro de 2021, por R$ 120 milhões.
Depois da Aarin, as aquisições seguirão como uma das armas do next nessa disputa. Urada diz que a empresa tem uma conversa avançada em uma das frentes de M&A, e outros cinco acordos, em diferentes estágios, sendo negociados em mais duas áreas.
“O que vai nos mover será o ponto de vista estratégico e não o tamanho das aquisições”, diz Ejnisman. “Inevitavelmente, esses acordos estarão ligados a aumentar o número de clientes, ampliar a receita ou nos dar algum viés diferencial, seja na experiência ou na tecnologia.”