Dados da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP) mostram que os investimentos dos fundos de private equity no Brasil fecharam o ano com uma retração de 19%, para R$ 7,3 bilhões, refletindo, em particular, a desaceleração econômica do País no período.
Com a manutenção das projeções de um cenário desafiador, acrescida de fatores agravantes como as eleições, 2022 promete ser novamente um ano complicado para os investimentos nessa esfera. Mas não para dois dos principais pares com atuação na indústria de private equity local e na América Latina.
“Estamos há 25 anos no Brasil e não me recordo da última vez que discutimos o cenário macroeconômico no nosso comitê de investimentos”, afirmou Patrice Etlin, sócio da Advent, na manhã desta quinta-feira, durante o Latin America Investment Conference, evento do Credit Suisse.
“No País e na região, a volatilidade sempre vai estar presente e será mais um ano nessa linha”, disse Etlin. “Vai ter barulho, eleições, muitas declarações controversas. Mas o importante é nos isolarmos e tomarmos nossas decisões de investimento independentemente desse barulho.”
Com cerca de US$ 80 bilhões sob gestão globalmente, a americana Advent mantém três escritórios na América Latina, em São Paulo, Bogotá e na Cidade do México. E, no momento, está investindo os recursos de um fundo captado no fim de 2020 para a região, no valor de US$ 2 bilhões.
“Para falar a verdade, nunca estive tão animado”, observou Alexandre Saigh, cofundador e CEO do Pátria Investimentos, gestora brasileira com US$ 26 bilhões sob gestão, sendo US$ 10,3 bilhões em private equity.
“Estamos entrando em 2022 com incertezas, mas eu consigo enxergar setores que, à parte desse contexto, vão seguir performando muito bem, por conta de oportunidades fantásticas e tendências que não vão se esgotar no curto prazo”, disse Saigh.
Nesse pacote, ele citou questões como a aceleração da digitalização, o envelhecimento da população, a troca da matriz energética para fontes renováveis. E, na esteira desses e de outros aspectos, destacou setores como saúde, agronegócio, energia, logística e educação.
No agronegócio, por exemplo, o Pátria esta por trás da Lavoro, holding de distribuição de insumos agrícolas com atuação no Brasil e na Colômbia. Já em energia, um dos ativos da gestora é a Essentia Energia, centrada em fontes renováveis.
“Outra oportunidade inacreditável envolve a infraestrutura, com concessões que, independentemente de presidente A ou B, terão que ser feitas”, ressaltou Saigh. “Não existe mais espaço fiscal para os governos da região investirem e eles terão que chamar o setor privado.”
Como parte desses certames, no ano passado, por exemplo, a Winity Telecom, empresa criada pelo Pátria, arrematou um dos lotes do leilão de 5G no Brasil, relativo à frequência 700 MHz, com um lance de R$ 1,42 bilhão.
Etlin, por sua vez, acrescentou segmentos como o varejo a essa lista. Nesse espaço, em 2021, a gestora vendeu boa parte da fatia que detinha no Big (ex-Walmart), ao Carrefour Brasil, em um acordo de R$ 7,5 bilhões. Outros setores destacados pelo investidor foram as fintechs e as empresas de tecnologia.
“O que vemos muito nessa última leva de empresas de tecnologia é que, em vez de simplesmente importar e copiar modelos de fora, elas realmente estão resolvendo dores locais e problemas reais”, disse. “E, nesse sentido, o Brasil é um poço infinito de oportunidades”.
Nesse contexto, ele destacou algumas das investidas da Advent no País. Entre elas, o Nubank, que captou cerca de US$ 2,6 bilhões em sua abertura de capital, em dezembro de 2021. E a Ebanx, que se prepara para seguir o mesmo roteiro e recebeu um aporte de US$ 430 milhões da gestora em junho do ano passado.
Outra companhia de tecnologia do portfólio da gestora que tocou o sino nos Estados Unidos foi a Ci&T. Em novembro, a empresa fez seu IPO na Bolsa de Nova York, captando US$ 195 milhões e alcançando um valor de mercado de US$ 2 bilhões.
Na contramão do cenário que classificou como “extraordinário” para o Brasil em tecnologia, Etlin observou que o México e os países da região andina estão um pouco atrás nesse contexto na América Latina. O que não significa que não há oportunidades nesses mercados em outros setores.
“Com o conflito entre Estados Unidos e China, as empresas que tinham uma cadeia de suprimentos global estão refletindo sobre ter um plano B em um país mais próximo e alinhado aos americanos”, afirmou Saigh. “E nesse cenário, o México tem uma tese muito atrativa em industrialização.”