Além dos nomes envolvidos, dois fatores despertaram a atenção do mercado no aporte captado pela Ebanx junto à Advent International, divulgado na manhã desta terça-feira, 15 de junho. O primeiro foi o tamanho do cheque, de US$ 430 milhões, um dos maiores já assinados na América Latina.

O segundo componente foi o anúncio de que a rodada pavimenta o caminho da startup curitibana, responsável pelo processamento de pagamentos de sites globais como Spotify, Alibaba e Airbnb, para uma oferta pública inicial de ações nos Estados Unidos, programada para acontecer nos próximos 12 meses. Outros US$ 30 milhões da Advent estão comprometidos, inclusive, com essa estratégia.

“Sempre tivemos cuidado para não dar nenhum passo errado”, afirma Wagner Ruiz, cofundador e chief risk officer da Ebanx, ao NeoFeed. “E a Advent é a confirmação dos nossos passos anteriores e um belo passo para seguirmos rumo a um IPO.”

Sócio da Advent, Brenno Raiko observa que a gestora vinha acompanhando a Ebanx há tempos. E ressalta que a rodada marca o primeiro investimento da gestora na América Latina que combina os seus quatro fundos, sendo dois específicos para região, um global e um dedicado à tecnologia.

Ele destaca ainda como a Advent pode acelerar o percurso da empresa até o IPO. “Já fizemos mais de 50 IPOs no mundo, sendo mais de 10 empresas da América Latina”, diz. “E temos uma conexão muito forte com os maiores investidores em pagamentos e de tecnologia. Vamos trazer essa bagagem e ajudar a Ebanx nesse capítulo que eles estão escrevendo.”

Antes de tocar a campainha na Nasdaq, a Ebanx tem, no entanto, uma série de planos em curso, que ganhará mais velocidade e agressividade com o novo aporte. Entre eles, o investimento em aquisições, em expansão na América Latina e na ampliação do portfólio, com a possibilidade, inclusive, do lançamento de uma oferta de crédito para pequenas e médias empresas e consumidores.

Em entrevista ao NeoFeed, Ruiz fala sobre a rodada, o IPO e os destinos dos recursos captados.

Como esse aporte e a chegada da Advent se encaixam no momento da Ebanx?
Nós estamos tentando fazer vários movimentos importantes e o objetivo é um só: crescer 10 vezes. E entendemos que o caminho que vamos seguir é da oferta pública de ações. E a Advent chega nesse momento pré-IPO trazendo uma bagagem enorme, um fundo de US$ 76 bilhões, que vai nos ajudar muito nessa trilha. Sempre tivemos cuidado para não dar nenhum passo errado e a Advent é a confirmação dos nossos passos anteriores e um belo passo para seguirmos rumo a um IPO.

Há uma data programada para essa oferta pública inicial de ações?
Estamos falando nos próximos 12 meses. Temos uma questão de preparação interna e externa, um dever de casa e a Advent também está junto nesse processo. Então, estamos trabalhando com esse prazo e considerando todas as variáveis.

Quais fatores pesaram para que a empresa decidisse abrir capital nos Estados Unidos?
Apesar de falarmos que somos focados na América Latina, hoje, nos consideramos uma empresa global. Para nós, faz muito mais sentido pensarmos na Nasdaq. Nossa receita já é bastante dividida, estamos em 15 países e o mercado de meios de pagamento, especialmente para empresas que atuam em mais de uma jurisdição, parece fazer mais sentido buscar um IPO lá fora. Por conta de liquidez, visibilidade e até de entendimento dos investidores.

À espera da Ebanx, a Nasdaq destacou o aporte captado pela startup brasileira nesta terça-feira

Como a Ebanx vai aplicar os recursos captados nessa rodada?
São especificamente dois pilares. Um deles é a expansão para a América Latina, que já está em andamento. Nós entendemos que já tínhamos chegado nos grandes países e a decisão foi fechar a região por completo, com a inclusão da América Central e outros países menores. Nós andamos bastante com a expansão orgânica. Agora, com a Advent, vamos ser um pouco mais agressivos, não só em expansão dos pagamentos cross border como também nas operações de pagamento local.

Qual é o segundo pilar de investimentos?
Hoje, a questão das aquisições está bastante forte. Não só para o mercado brasileiro, onde ainda temos muitas oportunidades correlatas ao que fazemos, mas também na América Latina. Temos conversado com empreendedores em mais de cinco países, temos uma equipe hoje de M&A, olhando todas essas oportunidades e entendemos que a Advent também vai nos ajudar nessa questão.

Há alguma negociação mais avançada? E quais são os racionais dessas aquisições?
Temos três empresas que estamos conversando, uma no Brasil e duas no exterior, e provavelmente vamos divulgar algo nos próximos meses. As aquisições são focadas nessa expansão na região, mas também no que podemos agregar em termos de aumento de TPV e de receita. É o caminho do meio que vamos seguir nessa jornada de um possível IPO.

A Ebanx tinha planos de oferecer produtos e serviços financeiros para pequenas e médias empresas no Brasil? Como está esse projeto?
Isso está bastante ligado ao processamento local de pagamentos e envolve também aquisições. Temos uma quarta negociação em fase final de acerto nessa direção. Estamos olhando o long tail para processamento local, trabalhando para conectar os pequenos sellers com os compradores brasileiros. O plano é cobrir toda a cadeia e atender esse pequeno empresário com a mesma eficiência que atendemos os grandes clientes, até que um dia ele se torne maior. E além de investir forte nessa frente no Brasil, vamos começar a replicar esse modelo em outros países.

Que tipo de serviços essa plataforma trará especificamente?
A ideia é oferecer uma plataforma completa de pagamentos para PMEs, com recebimento, manutenção de conta, gestão financeira, etc.

Essa plataforma pode envolver também a oferta de crédito?
Temos conversado bastante a respeito e entendemos que essa é uma grande oportunidade. Claro, é outro negócio, portanto temos tomado bastante cuidado. Mas sim, estamos olhando para essa possiblidade de operação de crédito. Especialmente para empresas de menor porte e para os consumidores.