Empresa de softwares de recursos humanos, a LG lugar de gente foi um dos tantos nomes que, no início de 2021, se candidataram a um IPO na B3. Pouco tempo depois, a companhia reforçou a leva de operações que recuou dessa intenção, diante da mudança de humor no mercado de capitais.

A HR tech encontrou, porém, outros caminhos para dar sequência aos seus planos. E, nos últimos meses, pisou no acelerador no campo das aquisições, um dos principais destinos previstos para os recursos que seriam captados em sua oferta.

Agora, em informação divulgada com exclusividade ao NeoFeed, a LG está tornando público o resultado dessa movimentação: a compra das empresas de software FAP Milaneli, Único RH e Medei, trio que reforça uma agenda mais ampla e uma ambição da companhia.

“Nossa meta é triplicar a empresa nos próximos quatro anos, organicamente e via aquisições”, diz Felipe Azevedo, CEO da LG, ao NeoFeed. O número de referência para essa próxima etapa é o faturamento da empresa em 2022, de R$ 250 milhões.

A LG ganhou fôlego antes de embarcar nessa jornada. No segundo semestre do ano passado, a americana H.I.G. Capital, que já investia na empresa desde 2013, assumiu o controle da operação. O acordo também envolveu a entrada da gestora brasileira HIX Capital no captable da companhia.

“Nós tínhamos um plano lá no IPO, que envolvia captar R$ 300 milhões para acelerar o nosso crescimento e que não era inventado”, ressalta Azevedo. “Nós suspendemos a oferta e a H.I.G. disse para executarmos o que tínhamos planejado. E a HIX entrou nessa linha.”

Nos dois casos, os termos financeiros não foram divulgados. Assim como a LG não revela os valores envolvidos nas três aquisições, realizadas entre outubro de 2022 e janeiro deste ano. Azevedo deixa claro, no entanto, o racional por trás dessas transações.

“Estamos complementando o nosso “Lego” de ofertas”, explica o executivo. “Agora, nós temos uma plataforma praticamente completa, com poucos gaps. Como costumamos brincar, vamos do ‘oi ao até logo’ do funcionário na empresa.”

Com uma plataforma de 30 módulos, baseados em nuvem e modelo de software como serviço, a LG cobre processos como recrutamento, folha de pagamento, gestão de cargos e salário, benefícios, orçamento de pessoal e ponto eletrônico.

Na montagem desse Lego, a FAP Milaneli traz como peça adicional a frente de saúde e segurança do trabalho. Já a Único RH e a Medei acrescentam, respectivamente, softwares que digitalizam a admissão e os processos de demissão e homologação de funcionários.

A LG já oferecia os sistemas da FAP e da Único RH em uma parceria comercial. Agora, com essas ferramentas dentro de casa, a empresa quer escalar essa associação ao explorar oportunidades de vendas cruzadas.

“No caso da Único, a sobreposição de clientes está em apenas 5%. Temos 95% dos clientes para nossos outros módulos”, afirma. “Nas outras duas, temos um ‘white space’ gigantesco. Na Medei, eu diria que é um oceano azul. Não há rivais nesse espaço.”

Hoje, a LG atende mais de 2 mil companhias, que somam cerca de dois milhões de vidas. Com nomes como Ambev e Linx, boa parte dessa carteira é formada por grandes empresas, com mais de mil funcionários.

As aquisições também abrem portas para trazer outros clientes desse porte. A Único, por exemplo, trabalha com empresas como a C&A. A FAP, por sua vez, com companhias como Itaú Unibanco. Enquanto a Medei atende o Santander, entre outros players.

Ao incorporar os três ativos, a companhia ampliou seu time em cerca de 200 funcionários. Seu quadro atual já supera mil profissionais. Os sócios seguirão no comando das operações, que irão funcionar como unidades de negócio e irão compartilhar as estruturas de back office da LG.

Cheque em branco

Com o portfólio reforçado, a LG projeta um crescimento de, no mínimo, 25% em 2023, o que faria a empresa superar a marca de R$ 300 milhões em faturamento. Isso sem contar novas aquisições. E a julgar pelo apetite recente da empresa, essa frente deve trazer, em breve, novos dígitos à operação.

Fundada em 1985, a companhia tinha, até então, apenas três aquisições no currículo, além de uma joint venture na área de benefícios com a Wiz. A lista inclui a W3, a Norber e a Eguru.

Hoje, a LG tem cerca de 200 empresas mapeadas. Em sua tese, há espaço tanto para aquisições de soluções mais acessórias ao seu portfólio quanto de rivais em segmentos nos quais já tem boa presença. E os recursos para financiar novos acordos parecem não ser um problema.

“Somos geradores de caixa, temos balanço para tomar dívida e nossos acionistas estão dispostos a colocar mais recursos caso seja preciso”, diz Azevedo. “É como se tivéssemos um cheque em branco para essa estratégia, mas desde que o ativo justifique e tenha qualidade.”

Outras HR techs também estão capitalizadas e vêm movimentando essa veia inorgânica. Um exemplo é a Gupy, que fez três aquisições desde janeiro de 2022, quando levantou R$ 500 milhões em uma rodada liderada pelo Softbank e a Riverwood Capital.

Após comprar a Tangerino, em 2022, a mineira Sólides também segue ativa nessa frente. Para isso, conta com o caixa reforçado por um aporte de R$ 530 milhões captado junto à empresa americana de private equity Warburg Pincus, em fevereiro do ano passado.

À parte desse cenário, Azevedo diz que o IPO segue no radar da empresa. Mas, diferentemente de 2021, quando reconhece que a LG não tinha porte para uma oferta que fosse viável, ele ressalta que, agora, a prioridade é ganhar musculatura.

“O prazo de quatro a cinco anos é intervalo ideal para alcançarmos um bom tamanho e fazer esse movimento, seja no Brasil ou fora”, explica. “Nós acabamos de começar um novo ciclo, com a H.I.G. e a entrada da HIX. Não temos pressa.”