Desde 1960, o Salão do Automóvel se tornou parte da “paisagem” de São Paulo, consolidando-se ao longo dos anos como o principal evento de setor automobilístico da América Latina. Mas, no dia 7 de fevereiro, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, decretou sua morte após mais de 60 anos.
“O Salão do Automóvel acabou, o que temos agora é o São Paulo Motor Experience, com cerca de 100 mil test drives durante o evento”, disse Moraes, quando divulgou os dados de janeiro da indústria automobilística. Mas o que será este megaevento marcado para o Autódromo de Interlagos para os dias 6 a 14 de agosto?
O NeoFeed foi investigar e descobriu que o São Paulo Motor Experience (ou SPMXP) será organizado pela Reed Exhibitions, a mesma empresa que fazia o Salão Internacional do Automóvel de São Paulo. O evento terá o apoio da Anfavea e será completamente diferente da feira de exposição de carros, pois as montadoras consideram que aquele modelo está superado.
As montadoras gastavam de R$ 5 milhões a R$ 20 milhões no antigo Salão do Automóvel e consideravam que este dinheiro seria mais bem aplicado em eventos direcionados aos seus próprios clientes. Por isso, o Salão de 2020 já estava ameaçado de não acontecer e a pandemia de Covid-19 foi a pá de cal que selou o túmulo da tradicional feira paulistana.
Agora, o Motor Experience promete mais de 100 horas de pilotagem de carros em Interlagos. Além dos test drives em quatro pistas dentro do Autódromo de Interlagos, o SPMXP tentará diversificar ao máximo o público para que as montadoras tenham a possibilidade de fazer um contato mais interativo com possíveis clientes.
Em uma apresentação que fez para executivos da indústria automobilística, no fim do ano passado, in loco no Autódromo de Interlagos, a Reed Exhibitions prometeu um megaevento com diversidade, inclusão, sustentabilidade (palavras mágicas para a indústria de carros), arenas para exibição de novas tecnologias e uma área com foco nos negócios (vendas de carros, assinaturas etc.).
O evento vai ocupar os 859.724 m2 do Autódromo de Interlagos, incluindo o kartódromo. Nos boxes ficarão as áreas de exposição das montadoras interessadas em mostrar as novidades. Nas arquibancadas localizadas na frente dos boxes ficará o centro de tecnologia, com uma área para e-sports, um Lab Tech e a CES Brasil (uma feira de tecnologia porque as montadoras estão cada vez mais presentes na CES de Las Vegas).
Haverá quatro pistas de testes. Uma arquibancada especial e uma área de box será montada na reta oposta de Interlagos. Além da pista principal – a mesma que é usada para o Grande Prêmio de Fórmula 1 –, haverá uma pista off-road, uma pista para SUV e uma pista para UTV (quadriciclo).
O evento prevê também uma prova de arrancada, que deve ser realizada na reta oposta, à noite. Também haverá test drives especiais para carros elétricos e pista de drifting (derrapagem controlada). Os test drives serão coordenados pela empresa TSO Brasil, do piloto e jornalista Cacá Clauset, que já atende muitas montadoras em eventos de lançamentos.
A maioria dessas atrações atrai o público jovem. Para tornar o SPMXP um “programa de família”, a Reed prevê atrações como roda gigante, tirolesa e subida em balão. Durante a apresentação feita para a indústria, a Reed prometeu um evento “democrático, plural e divertido”.
A empresa assumiu também o compromisso de “atender todas as tribos” nos eventos de entretenimento e diversão, além de dar 50% dos cargos de liderança do Motor Experience para mulheres.
No mapa do circuito divulgado para as montadoras, existem oito arenas. Quatro delas serão instaladas atrás do paddock (onde fica o estacionamento durante o GP de Fórmula 1), uma ficará após a Curva do Lago, outra na Curva do Laranjinha, uma na Subida do Café e uma no autódromo do lago – batizado de Arena Acqua.
Esses espaços abrigarão temas de tecnologia, mobilidade, tunning de carros (preparação) e exposição de automóveis clássicos. Uma fonte disse ao NeoFeed que ainda haverá espaço para que as empresas montem seus próprios estandes, como faziam no Salão do Automóvel.
A grande dúvida que circula nos bastidores agora é se as montadoras vão aderir em peso ao São Paulo Motor Experience, como faziam antes com o Salão do Automóvel. Uma ausência é tida como certa: a da poderosa General Motors, com sua marca Chevrolet. A GM já tinha desistido de participar do Salão do Automóvel e prefere focar seus investimentos em eventos totalmente digitais.
A decisão da GM não é isolada. Nos últimos anos houve várias defecções em salões importantes. Marcas como Volkswagen, Audi, Volvo, Nissan e Ford deixaram de participar de salões importantes como os de Paris e Detroit, que chegou a mudar de data, devido à concorrência da feira CES, que acontece em Las Vegas, nos Estados Unidos.
Segundo uma fonte da indústria, até agora somente seis marcas mostraram a intenção de participar do primeiro São Paulo Motor Experience. Uma das marcas que tem presença garantida é a alemã BMW, apurou o NeoFeed. Outras cinco já têm contratos fechados, mas eles não podem ainda ser divulgados.
A Reed Exhibitions ainda não fez o lançamento oficial do evento, portanto não há uma estimativa de público. O último Salão do Automóvel recebeu cerca de 750 mil visitantes durante 10 dias e foi realizado no São Paulo Expo Center.
Segundo Moraes, da Anfavea, nos salões de 2016 e 2018 (os últimos realizados), as montadoras gastaram entre R$ 250 milhões e R$ 300 milhões. Por esse motivo, queriam alternativas mais baratas ou que dessem maior retorno diante de um cenário totalmente disruptivo para a indústria automobilística, com eletrificação e compartilhamento dos carros.
Resta saber se a fórmula proposta pela Reed não será vista como uma mudança radical demais. No tradicional Salão do Automóvel, apesar de a fórmula ser considerada superada, a atração principal eram os novos carros, os lançamentos da indústria. No São Paulo Motor Experience, o carro novo parece ser uma entre muitas atrações – e o peso dele no megaevento de agosto ainda não está claro.