Nova York - Na sala de entrada do prédio da New York Stock Exchange (Nyse), uma pequena escultura de bronze do touro e do urso em combate do ano de 1900, de Isadore Bonheur, representa à perfeição o que vem acontecendo nos últimos dias no mercado acionário.
Desde o momento em que Donald Trump deu início à guerra comercial, o tema é onipresente em todas as apresentações e análises de economistas. O problema é que faltam elementos concretos para fazer uma projeção. E a incerteza é o que de pior pode acontecer para as economias.
“A novidade que temos é a pausa de 90 dias. O momento é de impasse e os mercados globais estão seguindo as notícias dia a dia”, diz Juan Cerruti, economista-chefe do Banco Santander. “O importante agora é que as partes comecem a dialogar. Uma guerra comercial não beneficia ninguém, principalmente os Estados Unidos.”
Cerruti liderou uma conversa sobre os desafios da América Latina em meio aos desafios globais com outros quatro economistas do banco espanhol: Ana Paula Vescovi, do Brasil; Alonso Cervera, do México; Rodrigo Park, da Argentina; e Fernando Larraín, do Chile.
O encontro aconteceu no dia seguinte à conversa com Ana Botín, presidente executiva do Santander. Acompanhe, a seguir, as pílulas dessa mesa com os economistas:
Onde vai terminar o baile
Em um momento como o atual, o mais difícil é conseguir separar o que é real e o que é ruído. Para Juan Cerruti, economista-chefe do Banco Santander, a economia global começou 2025 em ritmo forte de crescimento, com reservas, o que é uma boa condição inicial. O importante, agora, é a negociação entre os Estados Unidos com os demais países.
“Onde vai terminar o baile? Não sabemos. Mas estou convencido que se abrem oportunidades para a América Latina. Não há tantos países, nem regiões, no mundo com tantos requisitos. Mas é preciso separar a realidade do ruído. E a América Latina precisa estar preparada para aproveitar esse contexto”, afirma Cerruti.
Compromisso fiscal 1
Presidente do México desde o fim do ano passado, Claudia Sheinbaum enfrenta nesse início de mandato a crise com seu principal parceiro comercial - cerca de 80% das exportações têm os Estados Unidos como destino.
Segundo Alonso Cervera, economista-chefe do Santander México, após o rearranjo com os desfecho da guerra das tarifas, o país pode se sair vencedor, principalmente porque os Estados Unidos não vão conseguir suprir internamente tudo o que a economia mexicana entrega para o país.
Em paralelo a esse momento, a economia mexicana vai enfrentar um ano de crescimento baixo, mas que vai permitir ao país baixar a taxa de juros. Sem, contudo, descuidar da disciplina fiscal.
“O compromisso é com a disciplina fiscal. Não há espaço no México para o relaxamento fiscal. A presidente assumiu com esse compromisso”, afirma Cervera.
Compromisso fiscal 2
Após um período de instabilidade e tensões internas, com revoltas populares e mudanças institucionais, o Chile terá eleições presidenciais no fim de 2025 para a sucessão do presidente Gabriel Boric. Fernando Larraín, economista-chefe do Santander Chile, vê a palavra crescimento sendo colocada no centro da discussão política. O desafio do próximo presidente como fazer o país acelerar a expansão econômica.
“Vemos um governo comprometido com o fiscal. Teremos uma ou duas reduções de taxa de juros até o fim do ano. É uma economia que está funcionando, mas queríamos ver uma força [de crescimento] um pouco maior”, diz Larraín.
Ciclo de queda de juros
Ana Paula Vescovi, economista do Santander Brasil, diz que o País terá de encarar reformas estruturais difíceis, mas que há uma conscientização interna maior sobre a necessidade de cumprir com essa agenda.
Enquanto os demais países da América Latina reforçam o seu compromisso com a disciplina fiscal, o Brasil precisará fazer o ajuste que vem adiando há mais de 10 anos.
Em paralelo a esse movimento, Vescovi acredita que o Banco Central vai fazer o seu trabalho de conter a inflação. “Temos condições de ver a inflação controlada. Eu projeto o Banco Central começando a reduzir a Selic no fim do ano, para um novo ciclo de baixa. Mas, claro, depende do cenário global”, afirma Vescovi.
O jornalista viajou a convite do Santander Brasil