Um dia depois do fim da Copa do Mundo do Catar, torneio no qual a seleção argentina sagrou-se campeã, o esporte está no centro de uma outra disputa. Dessa vez, no entanto, longe dos gramados. O campo de batalha é o mercado de capitais e, no lugar da FIFA, quem organiza o certame é a XP.
Nesta segunda-feira, 19 de dezembro, a casa divulgou um relatório com o início da cobertura das empresas listadas de vestuário esportivo. E os analistas já escolheram seus ativos preferidos nesse páreo.
Na largada, a XP tem recomendação de compra para o Grupo SBF, dono da Centauro, e para a Vulcabras, holding que, além da Olympikus, tem acordos de licenciamento para as marcas Mizuno e Under Armour no Brasil. Já para a Track&Field, a recomendação é neutra.
“Somos construtivos com o segmento, pois vemos tendências estruturais positivas impulsionadas pela maior penetração esportiva, devido à nova mentalidade do brasileiro em relação à saúde; por uma cota crescente de mulheres praticantes; e por um maior leque de modalidades esportivas”, afirmam os analistas Danniela Eiger, Thiago Suedt, Gustavo Senday e Marcella Ungaretti.
O quarteto embasa essa tese positiva sobre a vertical com outros componentes. Entre eles, a maior abertura para a busca por saúde física e mental, especialmente a partir da pandemia, e a profissionalização do esporte, o que deve ampliar a demanda por produtos na área.
A partir desse contexto, a XP tem preço-alvo de R$ 18 para a ação do Grupo SBF. Atualmente, a companhia está avaliada em R$ 2,7 bilhões e seus papéis estão sendo negociados em um patamar entre R$ 11 e R$ 12.
Além do valor atrativo da ação, que está sendo negociada a 8,5 vezes o preço/lucro, o pilar que sustenta a visão favorável dos analistas para a empresa é a Fisia, braço responsável pelo acordo de distribuição exclusivo dos produtos da Nike e também pela operação dos canais da marca no País.
“Vimos a aquisição dos direitos da Nike como distribuidora e operadora exclusiva no Brasil como transformadora para o grupo, pois abriu uma nova via sólida de crescimento e lucratividade para os próximos anos”, ressalta um trecho do relatório.
Os analistas apontam como algumas das principais alavancas de crescimento o canal digital da Nike e o fortalecimento do posicionamento da marca, por meio de flagship stores, com maior sortimento de produtos, especialmente nas categorias feminina e lifestyle.
“Estimamos que a Fisia seja responsável por 80% do crescimento do grupo, com um crescimento anual composto (CAGR) entre 2022 e 2025 de mais de 25% para suas vendas e de mais de 30% para o seu lucro bruto, sendo a principal alavanca por trás do CAGR superior a 33% do Ebitda do grupo nesse intervalo.”
Em contrapartida, a execução dessa estratégia e o prazo de validade do contrato entre as duas partes, com uma eventual não renovação do acordo, são alguns dos principais fatores de risco na tese da XP sobre o grupo.
A casa acrescenta a esse caldeirão o fato de que, apesar da força da marca Centauro, há um cenário competitivo cada vez mais desafiador para o grupo, dado que os consumidores já começam a considerar marketplaces e players digitais, entre eles a Netshoes, como opções para suas compras.
“No entanto, acreditamos que a proposta de ecossistema da Centauro, com a SBV Ventures servindo como um hub de atração e retenção de clientes, seu marketplace oferecendo produtos complementares, o forte relacionamento com marcas-chave e iniciativas multicanal, deve ser um diferencial em relação a seus pares”, complementam os analistas.
No que diz respeito à Vulcabras, a XP destaca que ainda há muito espaço para ampliar a penetração dos calçados esportivos e que a empresa tem uma boa perspectiva nesse cenário, em função das marcas e da variedade de produtos e posicionamentos em seu portfólio, com espaço, inclusive, para novos acordos de licenciamento.
“Vemos a Vulcabras bem posicionada para capturar essa tendência devido ao seu portfólio diversificado de marcas e ampla gama de SKUs, com tecnologias de ponta a preços competitivos na comparação com as multinacionais”, ressaltam os analistas.
Entre outros fatores, eles destacam ainda as estruturas de P&D e de produção do grupo, que reduzem o time to market nos lançamentos em relação à concorrência. Além das boas perspectivas da expansão do conceito de athleisure, com calçados, roupas e acessórios que mesclam esporte, lazer e trabalho.
Em um panorama similar ao do Grupo SBF, os principais riscos estão relacionados a eventuais não renovações dos contratos com a Mizuno e a Under Armour, além do fim de benefícios fiscais que devem expirar no intervalo entre 2023 e 2025.
Sob essas premissas, o preço-alvo da ação da Vulcabras é de R$ 19. Atualmente, o papel está cotado na faixa de R$ 12 e a companhia vale R$ 2,9 bilhões. Já o preço-alvo da Track&Field é de R$ 11. Hoje, a empresa está avaliada em R$ 1,4 bilhão e vê suas ações sendo negociadas no intervalo de R$ 9 a R$ 10.
Os analistas ressaltam que gostam do posicionamento premium da Track&Field, especialmente diante do cenário macroeconômico atual. Mas afirmam que são mais conservadores quanto ao seu potencial de expansão na comparação com outros varejistas de alta renda, como a Soma e a Arezzo.
Contudo, eles apontam, entre outros elementos positivos da operação, a capacidade de inovação da empresa e o fato de a rede ter um modelo de franquias comprovado, com mais de 270 lojas, o que permite seguir crescendo por meio de uma abordagem asset light.
“Vemos o plano de expansão orgânica como o principal pilar para sustentar o crescimento da receita e a expansão da margem daqui para frente. Em nosso modelo, assumimos que a empresa alcançará cerca de 530 lojas nos próximos 5 anos, registrando um CAGR de vendas de aproximadamente 15%”, escrevem os analistas.
Entretanto, mesmo nessa frente há desafios, já que o quarteto da XP entende que o posicionamento premium da Track&Field pode ser um aspecto limitador dessa expansão e inibir um plano de aberturas de lojas mais ousado.